A escrava Isaura

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  • Nelson Cadena

Publicado em 7 de maio de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O romance “A escrava Isaura” do celebre escritor mineiro Bernardo Guimarães__ patrono da cadeira número 5 da Academia Brasileira de letras___  estreou no formato de folhetim, na Bahia, especificamente na Gazeta da Tarde, propriedade do Major Pánfilo de Santa Cruz, um dos fundadores da Sociedade Libertadora Bahiana, principal agremiação abolicionista da província. Guimarães não previu o sucesso do livro que mesmo antes de sua morte já era um dos mais vendidos do catálogo da editora Garnier e já existiam versões para o teatro. No século XX foi adaptado para o cinema e a televisão.

Por que a Bahia teve o privilégio de publicar em primeira mão, no folhetim de rodapé da Gazeta da Tarde, “A escrava Isaura”?  Não foi um privilégio e sim uma circunstância. Escrito em 1975 o romance chegou primeiro no jornal O Globo do Rio de Janeiro (1878), órgão da Agência Americana Telegráfica, perfil editorial focado nos interesses da lavoura, indústria e comércio. Publicou alguns capítulos apenas, dobrando-se às pressões da igreja católica, através do jornal O Apóstolo, que o acusava de imoral e de “atentatório à honestidade pública”. Sem nenhuma explicação aos leitores O Globo suspendeu o folhetim.

Já, a Gazeta da Tarde publicou o romance na integra em cento e tantos capítulos, em 1880, na sua estreia; antecipou-se três anos ao “Liberal Paraibano”, outro periódico do Nordeste a desafiar a pressão das classes conservadoras, incomodadas com o conteúdo da obra. Na Gazeta da Tarde o romance dividiu a atenção dos leitores com outro, “As mulheres que matam”, de Alexandre Dumas Filho, os dois folhetins publicados simultaneamente.

Dumas era um dos autores franceses mais publicitados no país e Guimarães um dos maiores expoentes do romantismo brasileiro, apadrinhado de Garnier, um craque no marketing editorial; nos releases distribuídos à imprensa apresentou o livro como rival do célebre  “A Cabana do Pai Thomaz” da abolicionista norte-americana Harriet Stowe. Ainda circulavam as primeiras edições da “Escrava Isaura”, das dezenas doravante publicadas, quando o dramaturgo Gustavo de Alvarenga adaptava o romance para o teatro em sete atos, corria o ano de 1.882.

Dois anos depois a editora musical “Buschmam & Guimarães” colocava à venda a partitura de “A cativa”, canção inspirada em “A escrava Isaura” e o maestro Carlos Gomes criava uma opera baseada no tema. Muitos anos depois (1929) a Casa Edison/Odeon lançava no seu catálogo “A escrava Isaura”, trilha sonora de Marcelo Guaicurus para um filme produzido pelo estúdio Metrópole. A película estrelada por Elisa Betty, Rolando de Alencar, Ruth Gentil e Emilio Dumas foi um dos grandes sucessos do cinema mudo em todo o país, na Bahia foi exibido em 1930. Idealizada por Isaac Saidenberg com direção de Antônio Marques Filho e efeitos especiais de Joaquim dos Santos.

Outro filme, estrelado por Fada Santoro no papel de Isaura, chegou nas telas em 1949, com trilha sonora do maestro Radames Gnatalli e direção de Eurides Ramos. A sala Odeon garantiu ingresso de graça a quem apresentasse identidade com o nome Isaura. Lotou os seus quase 2 mil lugares na estreia. A TV Globo trouxe Isaura para a telinha em 1976, com Lucélia Santos no papel principal e direção de Gilberto Braga. Exibida em outra versão, também, na Record em 2004/2005 e em 2019/2020. E nos últimos 30 anos foi enredo de várias Escolas de Samba.

A Escrava Isaura encheu o bolso de muita gente, não o de seu criador Bernardo Guimaraes que morreu em petição de miséria.