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Priscila Natividade
Publicado em 12 de agosto de 2017 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Não é de origem americana ou europeia a nova rede social que vem causando polêmica na internet. É saudita. Apesar de em árabe significar “honestidade”, o Sarahah têm gerado mesmo é muita indireta para pouco direito de resposta, após viralizar o envio de mensagens anônimas a terceiros. Atualmente, a rede social ocupa a segunda posição no top 10 dos aplicativos mais baixados na App Store, loja de aplicativos da Apple, atrás apenas do Whatsapp. Na Play Store, a versão para Android do aplicativo acumula mais de 5 milhões de downloads, passando na frente de plataformas como o Spotify, Netflix e até mesmo, pasmem, do Tinder.>
Fundado no último mês pelo saudita Zain al-Abidin Tawfiq, de 29 anos, a rede conseguiu reunir mais de 300 milhões de usuários (entre aqueles que enviam mensagens e visitantes) - enquanto é gerenciada por uma equipe de apenas três pessoas. Até o momento, cerca de 300 milhões de mensagens foram compartilhadas na plataforma.>
Não é necessário muita coisa para bancar o super sincero, basta apenas ter o link do perfil de uma determinada pessoa para enviar mensagens anônimas a ela. Enfim, não precisa nem acumular mais uma rede social para administrar ou se cadastrar no aplicativo se quiser dizer o que acha ou pensa de alguém. Ah, e não adianta nem tentar descobrir de onde veio aquele elogio, crítica, comentário ou feedback. Isto porque o site garante que nunca revelará sem consentimento a identidade daqueles que enviaram as mensagens.>
Comentários Secretos>
Esse joguinho de mistério caiu logo de imediato no gosto do estudante universitário Johene Matheus Amorim, de 20 anos. “Tem duas semanas e meia que eu baixei o Sarahah. Tinha visto o pessoal comentando sobre ele nas redes sociais, no Facebook e no Instagram. O que fez esse diferencial todo, que me chamou mais a atenção, é que porque recebe as mensagens, mas não pode responder. Os outros aplicativos não possuem isso”, conta.>
O estudante Johene Matheus Amorim verifica as mensagens do Sarahah pelo menos uma vez por dia (Foto: Betto Jr./ CORREIO) Pelo menos uma vez por dia, Johene passa para dar uma verificada nas mensagens que recebe. Segundo ele, chegam elogios, mas há também muitos discursos de ódio que deturpam o conceito de honestidade. “É uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo em que eu recebo comentários tendenciosos e maliciosos, chegam mensagens maravilhosas de incentivo, de gente que diz que me admira, de que gostaria de me conhecer mais”.>
Das mensagens que recebeu, pelo menos quatro delas o deixaram perplexo. “Eram comentários bem chocantes e com conteúdo pessoal, o que significa que a pessoa que me enviou me conhece ou é do meu circulo de amizade. Eu não esperava isso vindo de uma pessoa que eu provavelmente conheça, mas não sei quem é. Acho que o Sarahah vem com o intuito de preencher o ego da pessoa, não só meu, mas de quem também envia”, acrescenta.>
Quem também se rendeu à rede social foi a estudante de Medicina Veterinária Karoline Magalhães, de 21 anos. “A maioria das pessoas gostam de saber o que os outros pensam sobre elas”, defende. Até agora ela não chegou a receber nenhuma ofensa. “Geralmente eu postava no meu Instagram algumas respostas e isso tem sido bem legal. A maioria das mensagens são de pessoas que, pelo que percebi, têm vontade de falar comigo, mas não têm coragem de fazer isso pessoalmente”.>
Para o psiquiatra André Gordilho, é esse medo de se expor ou ser censurado que explica o porquê do aplicativo ter virado a sensação do momento. “Hoje em dia é muito difícil de falar o que pensa, principalmente se for contra a ideologia do politicamente correto. Esta pode ser a maneira que as pessoas podem se expressar sem se expor ou ser censurada”, assegura o especialista.>
Ainda de acordo com Gordilho, os limites entre o "feedback" e a hostilidade podem ser muito tênues, fato que torna o bom senso fundamental. “É um efeito colateral. Existirão os debates sérios e de opinião, mas também haverá gente disposta a agredir, hostilizar, dentre outras coisas. Quem quiser se expor a este tipo de aplicativo tem que estar preparado”, completa.>
Outros anônimos>
Nos últimos anos, outros aplicativos já usaram do anonimato para atrair usuários sinceros, porém “tímidos”. No Secret, por exemplo, os internautas podiam compartilhar segredos, porém, o aplicativo foi encerrado em 2015, após uma série de problemas como a proliferação de bullying e suspensões judiciais, como aconteceu no Brasil.>
Outro aplicativo na mesma linha foi o Lulu, que permitia que mulheres avaliassem os homens com notas e caracterizações como "Sai bem na foto" e "Dá sono". Mas a aplicação também enfrentou uma série de problemas na Justiça e atualmente não existe mais.>
O Formspring foi outra experiência que apostou nessa linha de perguntas e respostas. Lançado em novembro de 2009, cresceu e foi considerado em 2010 como umas das ferramentas mais "inovadoras" da Internet. De lá pra cá atingiu mais de 30 milhões de usuários registrados e 4 milhões de posts. Com o surgimento e o sucesso de outras redes, como Facebook, Ask.fm e Google+, o Formspring foi perdendo o brilho e caiu no esquecimento, fechando as portas em março de 2013. >