Jovens baianos empreendem em negócio próprio

Criar negócio próprio é opção dos jovens contra o desemprego

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  • Maryanna Nascimento

Publicado em 20 de março de 2017 às 11:13

- Atualizado há um ano

Os jovens entre 14 e 24 são os que mais sofrem com o desemprego no Brasil. Por outro lado, o trabalho é essencial para a independência financeira e quando as portas do mercado estão fechadas, empreender e criar o próprio negócio pode ser uma saída para quem não quer ficar parado.

Luís Henrique, 23 anos, sócio da empresa O Abelardo, entrou no mercado de trabalho cedo. O jovem empreendedor aproveitou os negócios da família para adquirir experiência e hoje é dono da própria empresa, ao lado do amigo Diego Leonardo, de 25 anos. Juntos,  criaram o primeiro e-commerce do Norte/Nordeste com entrega programada de ração para cães e gatos. “O negócio surgiu porque temos cachorro, sempre fomos apaixonados por eles e víamos a necessidade de comprar a ração de forma mais tranquila”, lembra.Diego Leonardo, líder de Marketing, Abelardo (CEO) e Luis Henrique, líder de Gestão (Foto: Divulgação)Para André Gustavo Barbosa, analista da Unidade de Educação Empreendedora do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-Bahia), casos como o de Luís são cada vez mais recorrentes. “No Brasil, ano a ano diminui a idade inicial do empreendedor. Enquanto as gerações anteriores tinham foco no emprego, hoje os jovens colocam o empreendimento no seu plano de vida”.

Segundo relatório da pesquisa Perfil do Jovem Empreendedor Brasileiro, apresentado pela Confederação Nacional dos Jovens Empresários (Conaje), enquanto o desejo de se tornar empreendedor é mais comum na faixa de 21 a 25 anos, os que já empreendem têm entre 26 e 30 anos. De acordo com a análise da Conaje, o fato sugere que, apesar da vontade em investir em um negócio próprio, é necessário que a ideia passe por um período de amadurecimento.

Um dos fatores que facilitam essa maturação é o planejamento. Segundo Barbosa, do Sebrae-BA, “é natural do jovem gostar de arriscar e enfrentar desafios, mas isso atrapalha na hora de empreender”. Para o especialista, abrir um negócio sem planejamento, ainda mais em período de recessão econômica, é um grande risco. Planejar, nesse caso, inclui desde o processo de capacitação do investidor até a organização do funcionamento do próprio negócio.

No estado da Bahia, a Associação dos Jovens Empreendedores (AJE Bahia) é uma da instituições que auxiliam quem quer investir. “O associado faz parte de uma rede de negócios com indicação de serviços, parcerias e entrada em palestras, cursos de capacitação e eventos de network”, diz Patric Andrade Piton, 31 anos, presidente da AJE.

Patric Piton concorda que quem quer empreender deve ficar atento à qualificação própria. “Um dos principais problemas na hora de se abrir um negócio é a capacitação. Como a associação tem parceria com várias instituições, nós viabilizamos essa preparação”, diz. Além da AJE, o Sebrae-BA e a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) também oferecem esse apoio a jovens  empreendedores.

Crise

Apesar da crise econômica, o mercado para negócios próprios apresenta oportunidades que devem ser agarradas depois de se analisar com cautela a sua viabilidade. “O Brasil vai começar a crescer e já é preciso começar a organizar, testar e ‘prototipar’ o negócio. Apesar do momento ser difícil, não é hora de ficar parado, mas de se planejar para o próximo ciclo”, diz André Gustavo, do Sebrae-BA.

Para ter mais chances de sucesso, as ideias precisam ser inovadoras. Ainda segundo o analista do Sebrae-BA, para ter criatividade, não existe uma receita, mas os ambientes frequentados pelos jovens, como a universidade, e a busca por conhecimento e informação auxiliam essa trajetória. “É preciso participar de eventos, ler bastante e criar uma rede de contatos”, completa.

Relatos de jovens empreendedores baianos

Priscila Silva, Madressilva(Fotos: Divulgação)O meu negócio é a primeira marca de roupas femininas conversíveis do Brasil, a Madressilva. São vestidos e capas que se transformam no corpo, conforme a amarração que a cliente faz. A inovação está no conceito de marca: "Infinitas formas de ser você", pois apela para a iniciativa, criatividade, autoconfiança e senso de responsabilidade cidadã da mulher que decide vestí-la. Eu sempre digo que as roupas da marca vestem o humor de quem usa, porque se a mulher está se sentido mais ousada, ela veste de um jeito... mais reservada, de outro; sem acumular, sem consumo desenfreado e sem frustrações porque a roupa se adequa ao seu momento. Tento imprimir dois valores na marca muito importantes pra mim: o empreendedorismo feminino (não só nos negócios) e a sustentabilidade na moda. As peças da Madressilva são feitas de uma malha altamente durável e não possuem qualquer aviamento para além do tecido e da linha.

Dica: Ser jovem empreendedor não significa ter menos responsabilidades que outros empreendedores... fazer o que é importante ser feito, com planejamento e seriedade.

Julival Góes Neto, Pet Stop (@petstopbrasil)(Fotos: Divulgação)A inovação do meu empreendimento está em adaptar para o Brasil uma solução para o problema dos resíduos sólidos caninos nos grandes centros urbanos. A Pet Stop oferece uma alternativa que se inicia com a coleta dos dejetos dos cães até o seu descarte sustentável, somado à uma nova opção em publicidade direta. Inova-se também à medida que o serviço pode ser oferecido à custo zero para os cofres públicos, sendo totalmente custeado pela iniciativa privada. Ganha o cidadão, os gestores e as empresas. Decidi investir nisso pois percebi que não adianta reclamar e esperar que o Estado sozinho seja capaz de resolver todos os problemas da sociedade. Cabe a nós, empreendedores, buscarmos alternativas criativas e práticas para solucionar as dores que as pessoas sentem no cotidiano.

Dica: Pense em cada problema como uma oportunidade de oferecer soluções: foque nisso e suas dores se tornarão suas maiores aliadas.

Braulio Barreto, Las Palomitas(Fotos: Divulgação)A inovação da Las Palomitas vem do seu próprio conceito que é reinventar a pipoca. Fabricamos e vendemos pipocas em deliciosos e inusitados sabores, com preparação artesanal, receitas exclusivas, ingredientes selecionados e qualidade premium. Antes de iniciar o negócio, eu trabalhava como engenheiro da Votorantim Cimentos em São Paulo. Decidi realizar essa mudança de carreira porque sempre tive o desejo de montar meu próprio negócio. A escolha por esse investimento foi baseada em um estudo das oportunidades existentes em Salvador, uma vez que eu não queria ser somente mais um, ou seja, não queria abrir uma empresa com um modelo de negócio já existente, com concorrentes diretos no mercado. Atualmente, com o reconhecimento da marca Las Palomitas cada vez maior dos clientes, me sinto realizado profissionalmente.

Dica: Persistência. Tem que ter coragem de dar o primeiro passo e não desistir nos tropeços, que serão muitos nessa caminhada.

Nathália Procópio e Lucas Pêssoa, Utrópica (@utropica)(Fotos: Divulgação)Nós criamos a Utrópica, que é uma marca de joias produzidas em madeira reaproveitada e prata 950. Apostamos em uma produção artesanal, aliando a técnica da marchetaria maciça à ourivesaria e acreditamos que esse seja nosso ponto alto: a essência manual, sustentável e criativa. Um processo que garante originalidade e versatilidade às nossas peças. Somos um casal: uma produtora cultural (26) e um artesão (30) e, de certa forma, encontramos na Utrópica um espaço de expressão, de articulação dos nossos ideais e valorização de elementos da nossa cultura. Somos apaixonados pela beleza natural da madeira, exploramos cores, texturas e formas que refletem as referências e expressões de uma brasilidade contemporânea. Costumamos dizer que a Utrópica é um voo livre no fluxo da imaginação e nas possibilidades da matéria: transitar e transcender. Arte, artesanato, global, local: cruzamos fronteiras. Com outro olhar, vimos, também, que a recepção sempre positiva das nossas peças representava uma oportunidade de trabalho, de crescimento profissional, da consolidação entre o que acreditamos e o que fazemos. Empreender pra gente tem significado o equalizar entre o trabalho e o prazer. Lançamos a marca há pouco mais de seis meses e estamos descobrindo cada vez mais possibilidades, percebendo que existe um mercado aberto ao diferente, um público que valoriza o exclusivo, o natural... mas que é preciso, todavia, saber como alcançá-los e se fazer notável. Um desafio que nos instiga!

Dica: Saber e gostar de fazer são essenciais, mas é preciso estar disposto a enfrentar dificuldades e aberto ao desconhecido, também. Explorar, ponderar, testar, (re)aprender..

Diego Leonardo e Luis Henrique, O Abelardo(Foto: Divulgação)

O Abelardo nasceu de uma necessidade real. Sou pai de um Yorkshire, o Abelardo, e sentia um desconforto todas as vezes que precisava comprar novos pacotes de ração. Encarava trânsito e perdia tempo para conseguir o alimento do meu filho. Isso incomodou durante muito tempo, até que surgiu a ideia de resolver o meu problema - e de quase todos os donos de bichos de estimação - com um serviço que chamamos de "Entrega Programada de Ração para cães e gatos". Da necessidade, surgiu a ideia. Da ideia, surgiu Luis Henrique, meu amigo e sócio (nesta ordem). Montamos um plano de ações e iniciamos as pesquisas de mercado. Depois de um ano conhecendo o segmento e desenvolvendo o piloto, surgiu oabelardo.com, o primeiro e-commerce do Norte/Nordeste com Entrega Programada de Ração para cães e gatos. Funciona como uma assinatura de cervejas, por exemplo, mas sem as surpresas desagradáveis de receber um produto que não é do seu gosto. Já estamos funcionando em formato de testes, vendendo e entregando normalmente para uma base reduzida de clientes. Mas a partir de 04/Abril, o nosso lançamento oficial, esperamos resolver o problema de todos os pais e mães de pet, em Salvador e Lauro de Freitas.

Dica: Empreender não é fácil, mas você pode escolher o caminho menos difícil. Ao invés de apostar todas as suas fichas para realizar a sua ideia por completo, considere lançar uma versão MVP. Ou seja: para testar o interesse do seu público-alvo, corte tudo o que não for essencial ao seu produto. Assim, fica mais fácil começar, testar e melhorar o seu negócio, antes de aportar grandes investimentos.

Dicas para o jovem empreendedor

Pesquisa  É importante estar ligado nos assuntos associados à área de interesse e também àqueles que não se relacionam diretamente. É assim que as tendências serão identificadas.

Planejamento  O risco é característico dos empreendimentos. Para evitá-lo, é preciso dedicação, capacitação e planejamento.

Capacitação  Dominar o que se vai empreender é essencial. Para isso existem cursos de capacitação oferecidos por organizações como o Sebrae.

Troca de experiências  Participar de eventos na área de empreendedorismo e circular no meio empresarial é uma forma do jovem trocar experiências e criar uma rede de contatos.