Projeto inspirado na fotografia africana vai a Castelo Branco

Visitantes da feira livre de Castelo Branco vão poder ser fotografadas neste dia 8

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  • Roberto Midlej

Publicado em 3 de outubro de 2017 às 07:08

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arlete Soares/divulgação
Fundo criado por Eder Muniz por Arlete Soares/divulgação

As pessoas que forem à feira livre de Castelo Branco neste domingo vão ter uma surpresa: entre a compra de uma banana e um abacaxi, vão poder ser clicadas pela experiente fotógrafa Arlete Soares, em frente a painéis criados pelo artista plástico Eder Muniz.

Tudo isso, sob a animação da artista Ana Dumas, que estará na feira com seu carrinho multimídia convocando as pessoas para posar para as fotos e soltando pílulas de infomeção sobre a história da fotografia africana.

A ação integra o projeto Estúdio África, idealizado pela antropóloga Goli Guerreiro. “É um estúdio ao ar livre e essa ideia surgiu por conta da pesquisa em fotografia africana que eu faço há anos. Todo o projeto é inspirado na história e nas práticas da fotografia africana”, diz Goli.

Os africanos conheceram a fotografia logo após ela ter sido criada na França. No continente, a estética da fotografia foi modificada, com o uso de fundos decorativos nos estúdios. “Esses fundos decorativos tinham paisagens europeias e também eram usados na Europa. Nos estúdios, as pessoas posavam e interagiam com eles. Por exemplo, se tinha uma sala de jantar reproduzida, a pessoa fingindo que estava jantando”, destaca Goli. 

Espaço Público Países como Gana, Nigéria e Mali se destacaram no uso dos fundos decorativos, que se caracterizaram como uma marca da transformação da fotografia no continente africano. Se durante os anos 1930 e 1940, a fotografia era privilégio de uma burguesia que frequentava os estúdios, aos poucos, os fotógrafos começaram a ir aos espaços públicos, como as feiras livres. “Era como o lambe-lambe que tinha na Praça da Piedade, em Salvador. Por isso, decidimos buscar uma feira para ralizar a experiência aqui”, diz Goli.

A escolha de Castelo Branco partiu de Eder Muniz, que cresceu no bairro e ainda hoje tem uma casa ali. Atualmente o artista, especializado em grafite, alterna sua residência entre Salvador e Nova York.

“Primeiro, fomos a Cajazeiras 10, mas a feira praticamente acabou por lá. Aí, quando eu estava voltando para casa, tive a ideia de visitar a feira de Castelo Branco. E ficamos impressionados com a vida que aquele lugar tem”, diz Eder Muniz, justificando a escolha.

O artista teve cerca de um mês para criar os fundos decorativos, que têm 1,70m x 1,50m. O trabalho é realizado em técnica mista, com o uso de spray, tinta acrílica e caneta posca sobre MDF naval. 

Para criar as telas, Eder diz que estudou história da arte africana. “Fiz uma pesquisa, estudei a fotografia africana e analisei também outros fundos decorativos”, revela. Eder acrescenta que a escolha de uma feira livre é importante porque ali as pessoas se relacionam umas com as outras e até os gritos do feirante dão mais vida ao local. 

Simbolismos Os paineis criados pelo artista se baseiam nos fundos decorativos de países como Senegal e Benin. “Tem muita informação nos fundos decorativos e fui colando essas informações para formar um cenário. Mas eu queria uma perspectiva sem um plano só, então eu exploro a profundidade. Além disso, há símbolos africanos e monumentos nos paineis”, diz Eder.

Goli acrescenta que o objetivo do Estúdio África é também recriar o imaginário que se tem sobre o continente africano: “Precisamos mudar a imagem estereotipada da África, de que só há selvas e leões. Ali, há centros urbanos com perspectiva moderna e queremos mostrar a África de outra maneira”.

Arlete Soares, encarregada de registrar as fotos, diz que não costuma fotografar pessoas posando, mas neste caso, abriu uma exceção: “Esta experiência me encantou porque é importante para aquela comunidade. As pessoas têm uma atração natural pela câmera. Há uma semana, estávamos lá em Castelo Branco só para preparar as coisas para o projeto. Começamos a tirar umas fotos e uma senhora que estava numa janela desceu para tirar uma foto. Ela tirou o lenço e começou a chorar, emocionada”, lembra-se. Goli Guerreiro, idealizadora do projeto, ao lado de painel criado por Eder Muniz (Arlete Soares/divulgação) Arlete ressalta a alma que a fotografia africana tem e ela destaca também a possibilidade de interagir com os fundos decorativos: “Se tem um rádio no painel, a pessoa pode fantasiar e fingir que tá ligando o rádio. Os africanos criaram uma maneira muito particular de fotografar nos estúdios. Às vezes, você vê o fundo decorativo e não sabe se ele é de verdade ou é pintura”.

Depois do registro das fotos em Castelo Branco, o Estúdio África segue com a instalação dos painéis na área externa do espaço Cultural da Barroquinha, para quem quiser fazer retrato. Depois, o projeto ganha exposição, por meio de projeção, no Espaço Cultural Barroquinha, dia 21, e no dia 27 na Escola Municipal Dona Arlete Magalhães (em Castelo Branco), que apoia o projeto. Nessas mostras, as pessoas fotografadas na feira poderão receber as imagens impressas. O Estúdio África é financiado pela Prefeitura de Salvador através da Fundação Gregório de Mattos.