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Luiza Gonçalves
Publicado em 24 de outubro de 2024 às 07:00
Katuka é uma palavra da língua africana bantu que pode ser entendida como um imperativo: “Saia!”. A princípio, pode não parecer muito acolhedor dar esse nome a uma loja, mas há 17 anos a Katuka Africanidades vem provocando os soteropolitanos a sair de um lugar de estagnação e conectar-se à negritude através da literatura, das artes e da moda.
Renato Carneiro é um dos sócio da marca e o responsável pelos processos criativos e execução das peças de moda que vestem personalidades da cidade, anônimos e, desde 2014, os modelos do Afro Fashion Day: “Eu acho que o Afro tem uma grande importância porque ele acaba sendo uma vitrine. Se eu quiser saber o que acontece de moda negra na cidade de Salvador hoje, ali é o local onde eu vou encontrar nomes, referências de imagem, do trabalho das marcas e dos criadores”, afirma o designer.
As roupas passaram a fazer parte da atuação da Katuka a partir de um desejo pessoal de Renato: a vontade de ter roupas no mercado que o contemplassem não só fisicamente, mas também identitariamente. Também surgiram por influência de seu pai, Claudionor, que era costureiro. Carneiro decidiu buscar referências e estudar design para “poder criar com maior excelência”, como diz, e começou a comercializar as peças. O interesse nunca foi produzir em larga escala. Renato salienta que, apesar do fator econômico ser importante, seu maior compromisso na moda é produzir roupas que dialoguem com a identidade e as referências negras, inspirando-se em formas e tecidos africanos, pesquisando novas estéticas e respeitando a cadeia produtiva e a coletividade dos processos.
“A Katuka tem um comprometimento que é político, então isso faz com que o nosso olhar sobre a moda também seja diferente. Não posso pensar a moda só como produto, apenas como possibilidade de troca. A gente constrói o nosso pensar sobre a moda, entendendo-a como mais uma ferramenta necessária para a elevação da autoestima preta, para o enfrentamento dos conflitos e das tensões que temos, colocadas do ponto de vista racial, de gênero e social”, defende.
Uma trajetória de muita leitura e imersão, fatores que, para Renato, fizeram a diferença na produção das peças. Revisitando suas produções para os anos anteriores do Afro, ele pontua alguns detalhes que marcaram o processo: looks de linho e tecidos africanos, a mescla entre silhueta tradicional e um toque de modernidade, novas técnicas de tingimento, texturas, técnicas e acabamentos.
“Eu acho que o tempo traz uma certa segurança, e essa segurança permite a ousadia. Quando eu vejo as peças, as primeiras peças, e vejo as últimas edições, consigo perceber uma maior liberdade. Na criação, mesmo, na proposta. Uma outra coisa que o tempo trouxe foi aprimoramento técnico. Eu acho que, nessa trajetória de dez anos, a gente também conseguiu isso. Isso vem com equipamento, vem com pesquisa. Agora, tem um elemento de permanência, que é a coerência. Uma estética possível e que foi executada dentro de uma responsabilidade social, com todas as pessoas envolvidas no processo. Eu acho que isso é o mais legal”, reflete o estilista.
Veja o mini-doc completo sobre a Katuka Africanidades:
Mini docs Afro Fashion Day:
Editor de Mídia e Estratégia Digital: Jorge Gauthier
Estagiária de cultura: Luiza Gonçalves
Equipe de mídias: Eduardo Bastos, Arthur Leal e Gabriel Cerqueira
O Afro Fashion Day é um projeto do jornal Correio com patrocínio da Avon e Bracell, apoio CAIXA, Shopping Barra, Salvador Bahia Airport e Wilson Sons e apoio institucional do Sebrae e Prefeitura Municipal de Salvador.