Afro Fashion Day destacou diversidade em sua passarela

Desfile teve participação de modelos gordos ou com deficiência

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  • Roberto Midlej

Publicado em 27 de novembro de 2023 às 05:10

Modelo desfilou de cadeiras de rodas
Modelo desfilou de cadeiras de rodas Crédito: Arisson Marinho

O Afro Fashion Day deste ano consolidou a diversidade na passarela: teve modelo magro, gordo, com deficiência física, baixo, alto... Na plateia, o presidente da Fundação Gregório de Matos (FGM), Fernando Guerreiro, vibrava: “É importante para a autoestima também. Desmontar essa história de que modelo tem que ser magro, bonito e de padrão clássico. Este ano tivemos uma diversidade impressionante”, afirmou.

A MC Áurea Semiseria, que se identifica como gorda e lésbica, foi uma das convidadas do AFD deste ano e subiu na passarela. “A moda é um ato de resistência e ter tantas pessoas exercendo esse papel hoje é de grande importância. Amei as seletivas e estou maravilhada porque era um sonho pisar nessa passarela sendo uma mulher gorda, preta e lésbica”, disse.

Outra convidada foi a cantora Majur, que é trans se identifica como do gênero não-binário. Além de desfilar, ela cantou. “O que estamos fazendo é representar a cidade, um desfile que enaltece a população negra. Essa foi a primeira passarela em que eu subi, tudo começou aqui, é um sentimento de gratidão”, afirmou a cantora, que já havia subido na passarela do AFD em 2018.

E já tem modelo que está prestes a completar 70 anos: o coreógrafo José Carlos Arandiba, o Zebrinha, outro convidado. “Eu já conhecia o Afro Fashion Day, mas nunca estive tão perto das pessoas. Eu trabalho muito no continente africano, conheço vários países e etnias, e o que me bateu é que isso aqui é uma pequena África. Tem pessoas com características iorubá, bantu, hutus e pessoas com etnias diferentes do continente africano. E se o tema [do desfile] é Mãe África, está se cumprindo o que prometeu”, afirmou.

Preparação

O desfile propriamente dito acontece num só dia, mas a preparação para o AFD começa muito antes. Desde a primeira edição, em 2014, o evento sempre é realizado no mês da consciência negra, em novembro, mas a gerente Comercial e de Marketing do CORREIO, Luciana Gomes, explicou que a preparação para o evento começa muito antes, em janeiro. Primeiro, o tema é definido. Depois, o local é escolhido. Então, os estilistas são selecionados, e é feita a busca pelos patrocinadores e pelos modelos.

“É um desafio grande fazer esse projeto, porque envolve muita gente, muitos talentos. A gente contou com parceria de muitas marcas e fizemos um evento lindo. No ano que vem será grandioso e com muita dedicação, como a gente sempre faz, um trabalho que envolve mais de 200 pessoas. É uma satisfação pessoal e profissional”, explicou.

Carreira

A editora-chefe do CORREIO, Linda Bezerra, lembrou que pessoas que desfilaram na passarela do Afro conseguiram deslanchar as carreiras e estão se apresentando pelo mundo. Um exemplo é o modelo Fábio Filho, que começou a carreira no Afro Fashion Day em 2021, e que este ano fez temporada em Milão, na Itália, e depois seguiu para a China.

“É uma grande celebração ver modelos tão talentosos, pessoas que nunca subiram em uma passarela e que chegam aqui e arrasam. São talentos que estão por aí e que têm nesse evento uma oportunidade de mostrar seu trabalho. Esperamos que eles desabrochem pelo mundo inteiro. Não é apenas um desfile de moda, é conteúdo, é empoderamento, é mostrar o negro fora das páginas policiais, mostrar talento e beleza”, afirmou.

Zebrinha, de 69 anos, desfilou no AFD
Zebrinha, de 69 anos, desfilou no AFD Crédito: Arisson Marinho

A próxima edição vai comemorar os dez anos do Afro Fashion Day e existe a expectativa de realizar um desfile infantil. O projeto ainda está sendo amadurecido.

Celulose Especial

Cíntia Luberato, gerente de comunicação da Bracell, uma das patrocinadores do AFD, sentou próximo à passarela e registrou tudo de pertinho. “É um prazer e um privilégio pode participar de um evento desse porte, lindíssimo, sobre diversidade, afro empreendedorismo e moda. Os organizadores estão de parabéns e estamos muito orgulhosos de fazermos parte desse evento”, disse.

Um dos looks de destaque para ela foi um vestido longo azul e verde inteiramente em viscose, feito com fibras de celulose biodegradável. A viscose é uma fibra feita de celulose, matéria-prima natural biodegradável encontrada em itens de uso diário, como diversos tipos de papel, produtos de higiene pessoal e alimentos. Na moda, o tecido versátil e leve é usado para produzir roupas de caimento suave e elegante, conferindo fluidez, delicadeza e conforto às peças. O tecido é produzido com celulose solúvel, insumo fabricado pela Bracell.

Já a hard de relações com a sociedade do will Bank, Ana Coelho, destacou a importância da pluralidade.

“A diversidade é um dos nossos pilares principais. Estamos na passarela mais preta do Brasil trazendo uma discussão como é a dismorfia financeira justamente para discutir a relação emocional que os brasileiros têm com o dinheiro para que as pessoas saibam que isso existe e que impacta a vida delas, e que não precisa ser assim. Estamos contentes com essa parceria. São pessoas que têm o poder de serem protagonistas da sua vida financeira”, afirmou. A empresa lançou durante o evento sua pesquisa sobre dismorfia financeira.

O piaf da Vult, Yam Yunes, também destacou a importância do apoio a diversidade. “É o segundo ano que a Vult participa apoiando o Afro Fashion Day. É uma marca que fala com o povo e focada na mulher brasileira, em entender e criar produtos para atender as necessidades desse público. Estar aqui é muito gratificante, principalmente por ser a passarela mais negra do país”, disse.

O Afro Fashion Day é um projeto do jornal Correio com patrocínio da Vult, Bracell e will Bank, apoio do Shopping Barra, Salvador Bahia Airport, Wilson Sons e Atacadão, apoio institucional do Sebrae e Prefeitura Municipal de Salvador e parceria do Clube Melissa.