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A edição 2023 do evento será realizada no dia 25 de novembro; nesta terça (19) acontece a última seletiva de bairro
Mari Leal
Publicado em 18 de setembro de 2023 às 06:00
Protagonismo negro, diversidade e empreendedorismo estão na base do Afro Fashion Day, projeto do jornal CORREIO que promove desde 2015, no mês de novembro, um desfile de moda afro em Salvador. Nas últimas cinco edições, a passarela mais negra e diversa do Brasil recebeu aproximadamente 300 modelos, em sua maioria, jovens das periferias da capital selecionados nas disputadas etapas de bairro.
Mais do que um desfile, o AFD se transforma em ponto de partida para talentos baianos que aspiram a carreira de modelo, mas ainda esbarram nas dificuldades de acesso ao mercado.
O evento foi passarela propulsora de muitos modelos que estão fazendo sucesso mundo afora, vestindo grandes marcas nacionais e internacionais e protagonizando editoriais de moda em revistas como Elle, Vogue Brasil, Vogue Reino Unido, Glamour e Marie Claire.
Os rostos e corpos revelados estão também em campanhas para marcas como Empório Armany, Balmain, Hugo Boss, O Boticário, C&A, Fila, Melissa, Natura, Farm, Calvin Klein, Água de Coco, Ginger e Riachuelo, desfilando em passarelas e fotografando em metrópoles como Nova York, Paris, Londres, Milão, Áustria, Alemanha e Coreia do Sul.
Modelos como Alesí Falcão, Ivana Pires, Santti, Katarine Cardoso e Carlos Gabriel, que engranaram carreira pós-AFD.
Com o tema Mãe África, a edição 2023 do desfile está confirmada para o dia 25 de novembro. Nesta terça-feira (19), acontece a terceira e última seletiva de modelos não agenciados, na estação Campo da Pólvora do metro, das 13h30 às 17h. Podem participar pessoas afrodescendentes, com idade a partir de 13 anos. Não há limite de idade e nem regras sobre traje, sapato ou acessórios. A inscrição é feita no local. Em seguida, o candidato posa para fotos e desfila diante dos jurados.
Alesí Falcão, 27 anos
Em 2020, ano em que foi selecionado, Alesí Falcão vivia com a família na cidade de Salinas das Margarida, onde pescava e fazia alguns bicos como pedreiro. Com a pandemia da covid-19, o Afro Fashion Day trocou as passarelas pelos fashion filmes e as seletivas presenciais por sessões virtuais no TikTok. A escolha aconteceu por voto popular.
Após a participação, a vida de Alési mudou literalmente, como ele mesmo destaca. Logo após a apresentação do filme, ele assinou com uma agência e passou a realizar trabalhos e campanhas publicitárias nacionais e internacionais. Atualmente vive em São Paulo.
“O Afro foi a peça chave em minha vida. Sou grato e sempre serei. Foi o aprendizado e aquele empurrãozinho, que na verdade é o incentivo que a gente precisa para furar a bolha”, diz Alesí.
Ivana Pires, 19 anos
Antes de começar a desbravar o mundo por meio das passarelas, Ivana Pires dividia seu sonho e suas tentativas de encontrar um lugar ao sol no universo da moda com o trabalho de garçonete no bairro do Imbuí, onde mora em Salvador. Ela foi selecionada nas seletivas de bairro de 2022, após algumas tentativas anteriores.
Após a participação no Afro Fashion Day, assinou contrato com uma agência e partiu diretamente para as passarelas internacionais. Não à toa ela classifica o Afro Fashion Day como um “acontecimento”. O portfólio de Ivana já conta com temporadas em Barcelona (Espanha) , Moscow (Rússia), Geórgia (Estados Unidos) e, atualmente, em Istambul (Turquia).
“Estou vivendo o meu sonho, aquilo que eu imaginei um dia. Pensar que eu via as modelos nos outdoor e falava ‘um dia será eu’. Profetizei. Estreei em uma campanha no centro de Moscow e estou estampada nas lojas de Istambul. Meu próximo passo é estrear nos outdoors da minha cidade”, projeta Ivana.
Santti, 21 anos
Nascido e criado no bairro Cajazeiras, em Salvador, Santti é mais uma revelação da edição 2020. Antes de se firmar na carreira de modelo, trabalhava com o pai como ajudante de pedreiro e ajudava a mãe na venda de bolos de potes nas ruas do próprio bairro.
À época das seletivas, seu vídeo foi bem votado, mas não o suficiente para ser selecionado – não inicialmente. Logo depois o resultado, a desistência de um dos modelos agenciados trouxe Santti de volta para o processo. Logo após a apresentação do filme, quando ainda continuava morando na capital baiana, o modelo começou a fazer campanhas.
“Lembro do mais legal que foi a campanha para o Shopping Barra, minhas fotos ficaram espalhado por toda a cidade. Foi uma felicidade para mim”, registra. Em seguida, começaram a surgir os convites para trabalhos em São Paulo. Após fechar contrato com uma grande agência, a passarela do São Paulo Fashion Week (SPFW) veio rápido.
Desde então, o baiano já estampou capa de Vogue Brasil e Lofficiel Hommers Brasil, campanhas nacionais para O Boticário, Farm, Renner, Riachuelo , Arezzo, Adidas e outras, além de temporada na África do Sul.
“Minha vida está completamente diferente. Eu sempre sonhei em participar do AFD e lembro como se fosse hoje o quanto me emocionei. Foi uma energia surreal e, de fato, abre portas”, conta Santti. O modelo vive atualmente em São Paulo.
Katarine Cardoso, 21 anos
A relação de Katarine Cardoso com o AFD começou em 2019. Ela participou pela primeira vez da seletiva, mas não passou. Tentou novamente no ano seguinte e veio o tão esperado sim. Em 2021 foi a garota propaganda da edição.
Antes da carreira de modelo, Katarine, que morava em São Marcos, em Salvador, já tinha feito um pouco de várias coisas para dar conta do próprio sustento, de vendedora em loja de calçados a assistente administrativa. Atualmente a modelo está na China.
“Após a campanha eu tive a oportunidade de me destacar eu já fui notada tanto pela minha atual agência em Salvador (Model Club) e, após alguns meses, pela minha agência internacional (Síntese). Ano passado fiz a minha primeira viagem para a Coréia do Sul. Também trabalhei na Coréia e em Barcelona”, descreve Katarine.
“O AFD sempre vai ser algo marcante para mim. Nas vezes em que não me sinto muito bem, em dias ruins, eu revejo alguns trabalhos que já fiz e relembro do AFD. É como se fosse um colo.”
Carlos Gabriel, 19 anos
Carlos Gabriel foi selecionado na edição 2022. Após a participação no desfile, teve que deixar a cidade de Ubaíra (na microrregião de Jequié) e o trabalho de social media. Em um curto espaço de tempo, assinou com cinco diferentes agências e fez trabalhos para marcas como Maison Michael, GmbH, Zengna, Zalando, Kuboraum.
“Sei que muitas conquistas estão por vir, mas tenho o sentimento de realização. Poder trabalhar com o que amo, ser reconhecido por isso e conseguir proporcionar o melhor para a minha família já é a minha maior conquista”, revela Carlos.
“Por muito tempo desacreditei do meu potencial por falta de oportunidades. Fazer parte do projeto me abriu portas e me fez acreditar que é possível alcançar os meus maiores sonhos. Uma cidade onde há uma deficiência de oportunidades para muitos artistas é de tamanha importância ter projetos tão grandiosos como o AFD”, acrescenta.