Dez atitudes e expressões racistas que as pessoas reproduzem sem perceber

CORREIO listou e explicou quais comportamentos e termos devem ser excluídos do cotidiano para não perpetuar o racismo

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  • Larissa Almeida

Publicado em 20 de novembro de 2023 às 07:00

null Crédito: Pixabay

Da linguagem ao âmbito institucional, o racismo se manifesta de maneira sorrateira e, por vezes, de forma tão cordial que pode até passar despercebido para quem o pratica – ainda que o mesmo não aconteça para quem ouve e é alvo de atitudes e expressões marcadas pelo preconceito racial. De acordo com o professor Samuel Vida, coordenador do Programa Direito e Relações Raciais da Universidade Federal da Bahia (Ufba), isso acontece porque o racismo já está estruturado na sociedade brasileira.

“Há todo um repertório de bordões, expressões e metáforas que são carregadas de uma lógica racista. O professor Adilson Moreira, de forma muito oportuna, dedicou parte dessas manifestações em torno da categoria do racismo recreativo. É comum apelidos pejorativos que se utilizam contra pessoas negras até piadas [...] que são amplamente utilizadas pelas pessoas a pretexto de que não são expressões de racismo, quando, na verdade, consagram pela linguagem e valores que veiculam, uma noção de caricatura, de menosprezo e de estereótipo para as pessoas negras”, afirma.

Do ponto de vista de Carol Barreto, designer de moda e docente do Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade da Ufba, o racismo também se manifesta nas atitudes e na falta delas. A prova disso, aponta ela, é falta de reconhecimento em relação ao passado racista que moldou a sociedade brasileira tal como ela é hoje. “Uma aliança crítica com a negritude, em primeiro lugar, vem de assumir que todas as pessoas foram adestradas a partir de uma lógica racista e, se não houve vontade de fazer uma reflexão crítica [...], involuntariamente há continuação da reprodução dos jogos de privilégios e desvantagens da branquitude colonial”, enfatiza.

Com o intuito de ajudar quem quer evitar o uso de expressões ou a perpetuação de atitudes racistas, o CORREIO fez uma lista com exemplos do que você deve excluir do seu vocabulário e comportamento – e se engajar mais na luta antirracista. Veja abaixo:

1) Usar a expressão ‘samba do crioulo doido’

A expressão reforça a ideia de que os homens negros são desordeiros e incitadores de confusão. Além disso, o termo crioulo por si só é racista porque era utilizado pelos escravagistas para definir um escravizado desobediente.

2) Tocar o cabelo de uma pessoa negra

A prática é comum quando uma pessoa branca repara no cabelo de uma pessoa negra, acha curioso e costuma passar a mão, sem pedir permissão, como se estivesse tocando em um objeto exótico. A atitude é desrespeitosa e racista, além de gerar constrangimento.

3) Usar a expressão 'denegrir'

O Comitê pela promoção da Igualdade de Gênero e Raça do Senado Federal explica que o verbo “denegrir” é correntemente utilizado, em sentido figurado, como sinônimo de “difamar” e tem claro sentido pejorativo. Todavia, seu significado literal é “tornar negro”. Assim, não é correto associar a ideia de tornar o que é negro com algo mal visto ou maldoso.

4) Fazer suposições sobre a profissão ou condição econômica da pessoa negra

Em vez de supor que a profissão de uma pessoa negra está ligada aos serviços gerais ou a outras atividades essenciais para a manutenção da sociedade, é mais educado e antirracista perguntar qual papel profissional ela desempenha ali – caso seja realmente necessário. Do mesmo modo, classificar previamente sua condição econômica antes de trocar sequer uma palavra com ela é uma atitude a ser evitada para prevenir mal-entendidos de cunho racista.

5) Usar a expressão 'cabelo duro/bombril'

A Defensoria Pública da Bahia, em cartilha, explica que essas expressões são comumente utilizadas para se referir a cabelos crespos. Apesar de depreciativo, o termo é usado até hoje, mesmo contribuindo para a baixa autoestima, por meio de racismo, de pessoas negras.

6) Não se posicionar contra o racismo quando tem oportunidade

Quem já ouviu o velho ditado ‘quem anda com porcos, farelo come’, sabe que ele se aplica perfeitamente nessa situação. Para combater o racismo, não basta se dizer antirracista, é preciso se posicionar e agir quando se depara com o preconceito racial. Do contrário, a falta de posicionamento é entendida como conivência – o que sustenta a perpetuação do racismo.

7) Usar a expressão ‘Da cor do pecado’

Apesar de ser usada como no intuito de elogiar, a expressão hiper sexualiza a mulher negra. A ideia de pecado também é ainda mais negativa em uma sociedade pautada na religião, como a brasileira.

8) Pintar o rosto da cor preta e usar elementos estereotipados para representar pessoas negras

A atitude é considerada racista porque remete à prática do ‘black face’, surgida nos Estados Unidos para entreter audiências brancas às custas da ridicularização dos negros que lutavam por direitos civis através de pinturas faciais com carvão, uso de elementos que tornavam traços negroides, como boca e nariz, caricatos.

9) Dizer que alguém tem o ‘pé na cozinha ou na senzala’

Trata-se de uma forma de falar sobre uma pessoa com origem negra que remete à escravidão, época em que o único local permitido às mulheres negras era a cozinha da casa grande.

10) Afirmar que ‘somos todos iguais’

Por melhor que sejam as intenções de quem diz isso, não somos todos iguais socialmente e afirmar isso mascara os problemas provocados pelo racismo na sociedade brasileira. Esse discurso ainda endossa o mito da democracia racial, que ignora as diferenças de oportunidades e acessos a recursos básicos entre negros e brancos em prol da exaltação uma suposta raça tipicamente misturada e harmônica – o que é contraditório por si só, tendo em vista a constituição histórica do Brasil.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro

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