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Luiza Gonçalves
Publicado em 25 de outubro de 2024 às 08:00
Gabriel Pitta fez sua estreia na moda na passarela do Afro Fashion Day em 2016. Era a segunda edição do desfile, na Praça da Cruz Caída, em um dia de muita chuva que quase adiou o evento, se não fosse pelo público em peso, que se manteve no local. Antes de pisar na passarela, o jovem do Engenho Velho da Federação jamais havia pensado em ser modelo: “Eu estudava, fazia uns cursos de montagem de computador, celular e ajudava minha mãe em casa a fazer salgados. Nunca pensei em ser modelo, até porque, tipo, a gente preto assim não era elogiado, na escola a gente sempre foi o mais feio, então, tipo, eu nunca pensei, né?”, relembra.
O desfile foi o empurrão que Pitta precisava para elevar sua confiança e lançá-lo no mercado, agendando novos trabalhos e retornando para mais uma edição do AFD em 2017. Uma paixão que permanece até hoje: “Enxerguei um talento em mim e fiquei bem mais confiante. Se eu tiver a oportunidade, adoraria fazer parte do Afro de novo e de novo”, brinca. Gabriel conta que, com o apoio da família, de sua agência One Models, amigos e da visibilidade recém-adquirida, uma oportunidade única chegou ao seu caminho: integrar um editorial para a Vogue Brasil.
Veja o mini-doc completo sobre Gabriel Pitta:
Na ocasião, ele e o também modelo e ex-AFD Marcelo Lima foram incentivados a tentar uma chance em São Paulo. A partir desse momento, a corrida foi para conseguir levantar os fundos para custear a viagem. “Comecei a correr atrás de trabalho, a juntar grana. Nos próprios concursos e eventos em Salvador, eu e Marcelo vendíamos salgado, água, tudo", relembra. Ambos estrearam na SPFW naquele ano, e Gabriel se mudou definitivamente para São Paulo com apenas 17 anos. Perrengues, sufocos e correria marcaram os primeiros meses, mas com a chegada de mais trabalhos e a construção de uma rede de apoio, as coisas começaram a se descomplicar. Seis anos depois, o modelo acumula participações em passarelas — sua atividade favorita na moda — e campanhas para marcas expressivas no mercado nacional, como GQ, Marie Claire, Natura, Forum, Osklen, Riachuelo, Renner, Nubank e Hering.
“Eu sou muito desenrolado, fui me virando e acho que consegui me sair bem”, avalia Gabriel. O baiano acredita que, nesses anos na moda, sua maior dificuldade foi estar longe de sua família. No entanto, ele conseguiu equilibrar uma boa relação entre trabalho e vida pessoal, principalmente com o grupo de amigos que formou em São Paulo. “Graças a Deus eu colo com um bonde de Salvador. Nós nos ajudamos. Eu vim com Marcelo e muitas vezes precisei de uma grana, de uma conversa, de um apoio, e eu pude contar com ele. Assim como meus amigos também já precisaram e eu ajudei. Isso criou uma comunidade e é geral se ajudando. A moda é realmente um meio acirrado, mas somos fortes porque não existe competição entre nós”, afirma Gabriel. Ele acrescenta ainda que, hoje, suas maiores inspirações estão em modelos que tiveram uma experiência de vida similar à sua: “Marcelo, Antonio e Elder foram criados no Engenho Velho da Federação, no mesmo bairro que eu, modelos que hoje em dia estão viajando e trabalhando para grandes marcas . Se você for pesquisar no Google meu bairro, aparece morte, isso e aquilo. Somos um entre vários que receberam uma oportunidade e conseguiram vencer.”
Intercaladas aos trabalhos em São Paulo, Gabriel Pitta tem vivenciado temporadas internacionais de sucesso desde 2022, com sua primeira viagem à Alemanha. Sua estreia foi marcante, com a conquista de uma campanha da Hugo Boss fotografada na Áustria: “Me senti muito feliz e realizado”, conta. Desde então, o modelo já passou por diversos países europeus, incluindo Portugal, França e Inglaterra. Em Paris, Pitta participou da campanha de joias da Balmain, uma experiência intensa de três dias, e em Londres, consolidou-se ainda mais no cenário internacional. No retorno ao Brasil, surgiu outra oportunidade em Milão, onde trabalhou para a Emporio Armani, reforçando sua presença entre grandes marcas globais: “Foi tudo muito rápido; Hugo Boss, Armani e Balmain. Esses três trabalhos foram os que a galera começou a me enxergar mais”, destaca.
Apesar da grandiosidade desses projetos, o modelo também reconhece o valor de trabalhos menores no Brasil, que, embora com menor repercussão, proporcionaram um crescimento pessoal e profissional inestimável. Ao longo de sua trajetória, Gabriel enfrentou desafios, como a barreira linguística, especialmente em países como Alemanha e França, onde o inglês não é amplamente falado no dia a dia. Ele relembra momentos difíceis, como a comunicação precária em aeroportos e o isolamento em viagens. “Passei por tanto perrengue, meu Deus, chorei tanto... já chorei em aeroporto quase perdendo o voo porque não entendia o que a mulher falava.” Para ele, a carreira na moda é uma constante superação de limites, seja enfrentando climas extremos ou situações culturais adversas, sempre com determinação e paixão pela profissão.
“O Afro Fashion Day chegou na hora certa. Eu vejo que são 10 edições plantando uma sementinha na cabeça dos jovens, mostrando que a gente pode conquistar coisas grandes. Eu não tinha muita expectativa na vida, pensava em fazer um curso ali, abrir uma lan house e, depois que eu entrei no mundo da moda, que eu desfilei no Afro Fashion Day, eu vi que não era só isso. Hoje, em Salvador, tem muitos modelos que querem vir pra São Paulo, viajar o mundo, e eu acho que dá para sentir esse gostinho no Afro, ganhar essa força. É o maior desfile do Brasil em beleza negra”, aconselha.
Mini docs Afro Fashion Day:
Editor de Mídia e Estratégia Digital: Jorge Gauthier
Estagiária de cultura: Luiza Gonçalves
Equipe de mídias: Eduardo Bastos, Arthur Leal e Gabriel Cerqueira
O Afro Fashion Day é um projeto do jornal Correio com patrocínio da Avon e Bracell, apoio CAIXA, Shopping Barra, Salvador Bahia Airport e Wilson Sons e apoio institucional do Sebrae e Prefeitura Municipal de Salvador.