Modelos mais ou menos experientes viveram momentos de equidade e congraçamento no AFD 2023

Encontro de várias gerações na passarela

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  • Luiza Gonçalves

Publicado em 2 de dezembro de 2023 às 05:00

"É um momento ímpar para todos nós” diz modelo Simone Costa sobre participação no AFD 2023 Crédito: Lucas Assis e Tati Freitas

“Não me sinto intimidada. Eu tenho muita confiança e estamos em cargos iguais, todos nós estamos aqui para desfilar”. A colocação é de Eduarda Santos, 14, dona de uma autoestima cativante, digna do Afro Realeza, primeiro bloco do Afro Fashion Day 2023, onde ela desfilou pela primeira vez. A modelo foi uma das 16 escolhidas na seletiva de bairro, que, junto com 56 modelos de agências e os convidados Áurea Semiséria, Zebrinha e Majur, levaram mais brilho e beleza ao Terreiro de Jesus no dia 25 de novembro.

Eduarda contou que todo processo até a véspera da passarela foi de muita novidade, principalmente na participação do vídeo campanha de divulgação do evento, que rendeu comentários dos colegas da escola e de estranhos que a reconheciam na rua: “Uma vez me perguntaram no jogo do Vitória, ‘você não é a menina da propaganda?’, é muito legal”. A jovem disse que aproveitou ao máximo a experiência, principalmente o contato com os colegas: “A interação está sendo massa, não tem esse negócio de competitividade, um querendo ser melhor que o outro. Está todo mundo em sintonia”.

 Eduarda Santos em sua primeira vez da passarela do AFD
Eduarda Santos em sua primeira vez da passarela do AFD Crédito: Lucas Assis e Tati Freitas

Neste ano, o AFD recebeu 288 inscritos de 15 agências baianas e 550 candidatos das etapas de bairro, resultando num desfile de múltiplas negritudes, plural em corpos, gerações, identidades de gênero e experiências. Essa diversidade foi um dos atrativos que levou Roque Sena, 39, a participar do evento.

“Já sou modelo há quase 17 anos, mas essa é minha primeira vez no Afro. Participar de um movimento onde tem pessoas jovens, diferentes, novas no mercado ou que tem uma carreira mais longa na passarela é uma experiência que só tem a agregar. A moda está se transformando, eu posso dividir um pouco do que ela vem sendo até aqui e aprender como será daqui para frente. É um processo de união, amadurecimento e também de integração com novos estilos de roupas e designers” explicou Roque.

Para Jussy Gualberto, 46, o AFD a desafiou a sair de seu local de mentora. Líder do Meraki, projeto social voltado à moda do Calabar, ela foi para a seletiva de bairros acompanhar 10 alunas e acabou sendo selecionada: “Um aprendizado que não tenho palavras. Todas as meninas vibraram muito. E eu digo a elas que estou aqui não só por mim, mas por todas elas. Não é só se empoderar, mas empoderar as meninas e meninos também.”

Um desses meninos é Kaio Cardeal, que também desfilou pela primeira vez no ADF 2023: “Hoje eu me sinto o top dos tops, independente que alguém fale alguma coisa, eu sou eu. Quando recebi o convite para ir para o projeto Meraki, falei que não queria desfilar, por conta do meu corpo. E foi através de Tia Jussy, que hoje é como uma mãe pra mim, que eu cheguei no meu primeiro desfile. Desde então, fiz muitos outros e pude representar o nosso povo”.

Jussy Gualberto e Kaio Cardeal na passarela do AFD
Jussy Gualberto e Kaio Cardeal na passarela do AFD Crédito: Lucas Assis e Tati Freitas

Retorno às origens

Um desfile que fala sobre Salvador, sobre identidade negra baiana e que representa um momento de retorno. Na plateia, o público curioso para saber como a “Mãe África” seria representada. No backstage, as expectativas do reencontro eram compartilhadas. A modelo Oda Cairu, 23, ressaltava que, mesmo tendo desfilado na SPFW, há algo que a comove mais em Salvador: “Aqui eu consigo me conectar com minha ancestralidade, consigo me espelhar, me referenciar e me sentir parte de algo. Então, sempre saio com a sensação de ‘fiz no coletivo’, sabe? Comunguei com todo mundo, fico muito feliz”.

“É um prazer para mim estar aqui mais uma vez, é o 5º ano consecutivo participando desse momento histórico, porque essa é a passarela mais negra do nosso país, então, é um momento ímpar para todos nós”, festejou Simone Costa, 42, que foi a primeira modelo a desfilar neste ano.

E a ansiedade passa? Segundo o modelo Alesi Falcão, 27, o sentimento sempre está presente. Descoberto no AFD 2020, o pescador de Encarnação de Salinas agora ganha passarelas nacionais e em 2024 estreia em Milão. “Sempre dá aquele frio na barriga, mesmo quando já temos uma bagagem a mais na passarela. Me sinto realizado toda vez que estou no Afro”, disse.

Alesi Falcão na passarela do AFD
Alesi Falcão na passarela do AFD Crédito: Lucas Assis e Tati Freitas

O Afro Fashion Day é um projeto do jornal Correio com patrocínio da Vult, Bracell e will Bank, apoio do Shopping Barra, Salvador Bahia Airport, Wilson Sons e Atacadão, apoio institucional do Sebrae e Prefeitura Municipal de Salvador e parceria do Clube Melissa.