Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Considerada a passarela mais negra do Brasil, a edição de 2023 teve 41 marcas e 75 modelos
Gil Santos
Publicado em 26 de novembro de 2023 às 00:25
Minutos antes dos modelos entrarem na passarela do Afro Fashion Day, no Terreiro de Jesus, neste sábado (25), os produtores de moda Filipe Dias e Isabela Nascimento estavam correndo de um lado para o outro para fazer os últimos ajustes. Eles fazem parte da equipe de cerca de 200 profissionais que trabalham nos bastidores do desfile, mas ficam tão ansiosos quanto os estilistas e modelos que vão se apresentar para o público.
Filipe estava ajudando a cantora Majur, convidada para desfilar e cantar no evento, com os últimos ajustes quando fez uma pausa para conversar com a reportagem. Questionado se temia um imprevisto durante a preparação dos modelos, como uma peça rasgar ou um salto quebrar, o produtor relevou que o Afro Fashion Day pensa em cada detalhe.
“Tudo pode acontecer, mas a gente não tem essa dor de cabeça porque tudo é bem pensado para cada tipo de corpo. Temos uma equipe hábil e preparada para lidar qualquer situação”, afirmou.
Ele contou que estava ansioso. “Esses minutos finais são sempre de expectativa para brilhar, porque é um trabalho árduo e de muito tempo para fazer com que tudo aconteça. São meses, desde o início do ano que a gente vem discutindo e debatendo sobre o tema, buscando referências e conversando com os estilistas para que saia tudo do jeito que foi planejado”, contou.
Enquanto Felipe voltava para atender outra modelo, a produtora de moda Isabela Nascimento contou que estava tranquila e feliz. Ele trabalha no Afro Fashion Day há sete anos e, neste sábado, o expediente começou às 7h, apesar do desfile estar marcado para às 16h. Era preciso chegar cedo para acompanhar a preparação dos modelos e auxiliar as marcas. Isabela contou que o evento é especial.
“É uma satisfação enorme. Eu digo que é o ápice do ano, porque esse evento é de coração. Foi um dos primeiros desfiles que eu tive a oportunidade de participar, então, foi uma grande escola. É único, porque é diferente de tudo que já fiz. Se tem um lugar em que vamos encontrar beleza negra em abundância é nessa cidade. Salvador merece esse evento”, afirmou.
Na passarela, o tema ganhou cores através do show fashion coordenado por Gil Alves, diretor artístico do desfile pelo terceiro ano, responsável por unir os olhares do produtor e estilista Fagner Bispo, curador de moda do evento desde a primeira edição, do DJ Telefunksoul, que assina a trilha sonora, – ambos estão no AFD desde sua primeira edição. Outro veterano do AFD, Dino Neto assinou a beleza ao lado de Roma Aragão.
Preparação
Desde a primeira edição, em 2014, o Afro Fashion Day sempre é realizado no mês da consciência negra, em novembro, mas a gerente Comercial e de Marketing do CORREIO, Luciana Gomes, explicou que a preparação para o evento começa muito antes, em janeiro. Primeiro, o tema é definido. Depois, o local é escolhido. Então, os estilistas são selecionados, e é feita a busca pelos patrocinadores e pelos modelos.
“É um desafio grande fazer esse projeto, porque envolve muita gente, muitos talentos. A gente contou com parceria de muitas marcas e fizemos um evento lindo. No ano que vem será grandioso e com muita dedicação, como a gente sempre faz, um trabalho que envolve mais de 200 pessoas. É uma satisfação pessoal e profissional”, explicou.
A próxima edição vai comemorar os dez anos do Afro Fashion Day e existe a expectativa de realizar um desfile infantil. O projeto ainda está sendo amadurecido.
A editora-chefe do CORREIO, Linda Bezerra, lembrou que pessoas que desfilaram na passarela do Afro conseguiram deslanchar as carreiras e estão se apresentando pelo mundo. Um exemplo é o modelo Fábio Filho, que começou a carreira no Afro Fashion Day em 2021, e que este ano fez temporada em Milão, na Itália, e depois seguiu para a China.
“É uma grande celebração ver modelos tão talentosos, pessoas que nunca subiram em uma passarela e que chegam aqui e arrasam. São talentos que estão por aí e que têm nesse evento uma oportunidade de mostrar seu trabalho. Esperamos que eles desabrochem pelo mundo inteiro. Não é apenas um desfile de moda, é conteúdo, é empoderamento, é mostrar o negro fora das páginas policiais, mostrar talento e beleza”, afirmou.
Parte dos 75 modelos que desfilaram foi indicada por agências especializadas em moda, e outra parte são pessoas que nunca desfilaram e que foram selecionadas através de seletivas realizadas nas estações de metrô. Todos são negros. Há representações plus size, pessoas com deficiência e diferentes gerações. No total, 41 marcas expuseram looks na passarela mais negra do Brasil.
Na passarela do Afro Fashion Day 2023, MC Aurea Semiséria ( @carretadaonze ), de Cajazeiras, falou sobre uma pesquisa inédita sobre “Dismorfia Financeira”, de will Bank. O estudo, que teve seus dados traduzidos na roupa vestida pela MC, expõe o abismo financeiro existente entre homens brancos de classe alta (AB) e mulheres pretas e pardas de baixa renda (classe DE).
Entre os dados que mais chamam atenção na pesquisa está o fato de que quase 10% das pessoas pretas sentem tristeza ao lidar com dinheiro, enquanto nove em cada dez brasileiros (90%) não conseguem comprar tudo o que precisam e não contam com reservas que permitam fazer planos e pensar no futuro. Seis em cada 10 mulheres pretas (61%) da classe D e E utilizam palavras negativas para descrever sua situação financeira. Clique aqui e leia mais sobre a dismorfia financeira.
Confira as marcas que trabalharam no evento:
• AFRO REALEZA: Aládio Marques, Balbina, Criollo, Gefferson Vila Nova, Inti, Jeferson Ribeiro, Lourrani Baas, Mário Farias, MB Conceito, Mônica Anjos, Negrif, Realeza, Regina Navarro BelaOyá, Rey Vilas Boas e Silverino Oju.
• AFRO ETNIA: Abanto, Adriana Meira, Ateliê Casalinda, João Damapejú, Katuka Africanidades, Olorum, Sillas Filgueira e Soul Dila.
• AFRO FUTURISMO: Bixa Costura, Black Atitude, Christian Jonathas, Closet, Costa Ribeiro, Deco Sodré, Filipe Dias, Guilherme Almeida, Incid, Jorge Andrade, Kriaçã1, Nós Macramê e Soudam.
• ACESSÓRIOS: By Aninha, Cravo e Canela, Dih Morais, Kelba Deluxe, Tábompravocê e Ziê.
O Afro Fashion Day é um projeto do jornal Correio com patrocínio da Vult, Bracell e will Bank, apoio do Shopping Barra, Salvador Bahia Airport, Wilson Sons e Atacadão, apoio institucional do Sebrae e Prefeitura Municipal de Salvador e parceria do Clube Melissa.