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Donaldson Gomes
Publicado em 13 de agosto de 2025 às 05:00
Da floresta ao pátio da expedição, cada centímetro de árvore precisa ter o melhor aproveitamento possível. Na fábrica da Veracel, em Eunápolis, a busca pela otimização dos processos de produção passa por todas as etapas de produção, desde as unidades florestais em 11 municípios baianos, passando também pela produção gabriel. Segundo Caio Zanardo, CEO da empresa, os bons resultados passam pelo uso de tecnologia de ponta, mas têm nos colaboradores, continuamente motivados, o seu ponto alto. O desenvolvimento regional será um dos temas tratados na 16ª edição do fórum Agenda Bahia, que acontece no próximo dia 20, na Federação das Indústrias do Estado da Bahia. >
Quem é>
Caio Zanardo está há 21 anos na Veracel. Foi diretor florestal na Suzano S.A. Graduado em Engenharia Florestal pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo, em 2003, possui MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e cursou Advanced Strategy Management no International Institute for Management Development (IMD) Business School, em Lausanne, na Suíça.>
Vocês estão há três décadas no Extremo Sul da Bahia. Qual é o tamanho da Veracel e qual a importância da empresa para a região?>
Temos duas fases distintas e muito importantes. A primeira foi quando iniciamos a base florestal em 1993 e iniciamos uma presença em 11 municípios da Bahia, ocupando uma área de aproximadamente 200 mil hectares, sendo que mais da metade disso são áreas de preservação. O segundo momento, que completa 20 anos agora, é o da fábrica, justamente com o sonho de ter a matéria-prima e depois a indústria, gerando para Eunápolis e região um avanço significativo no PIB (Produto Interno Bruto) e também na geração de empregos. É este o contexto em que a Veracel se instala. >
A indústria de papel e celulose no Brasil nasce a partir de uma inovação, no uso do eucalipto como matéria-prima. Quais foram as principais transformações nesta indústria de lá para cá e como a Veracel se insere nisto?>
O uso do eucalipto, quando surge no Brasil até pela Suzano, uma das nossas acionistas, é justamente por conta de um conflito mundial gerado pela escassez de fibra. Todo mundo buscava uma alternativa e o Brasil tinha plantado o eucalipto para usar o carvão e na produção de dormentes para as ferrovias. Foi uma inovação que mudou o setor como um todo. O eucalipto passa a ser utilizado por ser uma fibra muito mais macia do que as demais e vai ganhando mercado. Outro aspecto é a produtividade florestal brasileira. A gente saiu de 17 metros cúbicos (m³) de produtividade na década de 1970 para mais de 40 m³ nos dias de hoje. Essa produtividade mais do que dobrou com inovação, com programas cooperativos, entendimento do solo, do clima, das chuvas, do impacto ambiental, de ações mitigadoras, de um trabalho para termos convivência harmônica. Essa para mim é a veia da inovação que aconteceu dentro do nosso setor. Isso se soma à excelência técnica e operacional em nossas plantas. A gente importou excelência operacional para o Brasil, melhoramos e hoje somos exemplos. A planta da Veracel roda a mais de 92% da sua capacidade operacional. Ou seja, está o tempo inteiro operando e isso só acontece porque temos muito estudo e muita tecnologia.>
Como vocês trabalham para otimizar os processos de produção?>
A nossa matéria-prima é a madeira. Quanto melhor utilizarmos, menor será a necessidade de áreas e menor o impacto no ambiente. Há todo um esforço para levarmos só o essencial. Um exemplo concreto disso é que as árvores não têm a mesma altura, às vezes é um metro a mais ou a menos. O nosso sistema de colheita está programado para aproveitar o tamanho correto de cada tora ao máximo, chegando até a ponteira da árvore. A base da árvore chega a 30 centímetros e vai afinando, a gente consegue aproveitar até 3 centímetros, na ponteira dela. Essa otimização é recorrente, todos os dias e em todo o processo. Aí vem o lado das pessoas. Nós trabalhamos para trazer uma cultura de excelência operacional para cada um dos mais de 400 operadores que trabalham na floresta. Quando a gente vai para a indústria é a mesma coisa. Cada etapa do processo tem suas perdas, quando você faz um cavaco, nem todos têm o mesmo tamanho. Quando vai cozinhar, se não tiver um cozimento bom, fazendo uma analogia com uma feijoada, se cozinhar demais fica muito mole, e se cozinhar pouco, fica duro. Tem um ponto certo que a gente alcança com tecnologia, inteligência artificial, machine learning, que ficam por trás disso para otimizar os diversos parâmetros. É difícil explicar tudo o que acontece na fábrica, mas em resumo, passamos o tempo inteiro ajustando para ter o melhor rendimento. >
A atividade econômica é exposta a situações conjunturais o tempo inteiro. Hoje temos o tarifaço, mas há algumas semanas era o IOF, meta fiscal e logo teremos um novo desafio. Tem também problemas estruturais, que podemos resumir como o ‘custo Brasil’. Quais são os grandes desafios momentâneos e permanentes?>
Este cenário do curto prazo é algo que o brasileiro está acostumado a viver. Já tivemos moratória de dívida externa, Plano Real, inflação mais alta, instabilidade… A gente vive. Agora temos uma turbulência, mas se olharmos com calma, veremos que o brasileiro está acostumado com essas oscilações. Qualquer empresa que tenha um olhar de longo prazo já se habituou com os altos e baixos. A gente tem isso muito claro em nosso planejamento estratégico e independente do momento, a excelência operacional é o que nos blinda como vantagem competitiva. Não podemos perder este foco. Olhando para frente e vendo oportunidades que a gente analisa, temos as questões da educação e da infraestrutura que são dois temas muito relevantes para o país como um todo. Nós assinamos uma parceria com o Senai (no dia 7) para formação de técnicos de celulose, a gente percebe a importância de qualificar a mão-de-obra para entrar no mercado de trabalho. Muitas vezes, vemos empresas reclamando que não encontram trabalhadores qualificados, mas o que fazem em relação a isso? Infraestrutura é outro tema crítico, nossa região tem uma infraestrutura importante, uma malha viária em que trafega 4 milhões de metros cúbicos de madeira, mais os insumos. Fazemos nossa parte. O Brasil vem melhorando, mas acho que se focarmos, poderemos dar passos mais largos.>
O Agenda Bahia é uma realização do jornal Correio com patrocínio da Acelen, Sebrae, Tronox e Unipar, apoio institucional da FIEB e da Prefeitura Municipal de Salvador, apoio do Salvador Bahia Airport e Veracel, e parceria da Braskem. >