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A Era da Barbárie 

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  • Da Redação

Publicado em 10 de setembro de 2022 às 05:30

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Relíquias arqueológicas como ossos, dentaduras e armas primitivas, encontradas durante as escavações realizadas em parte do território onde hoje está localizada a região mais povoada do Recôncavo Baiano, comprovaram uma suspeita que há muito intrigava cientistas, paleontólogos, arqueólogos e historiadores: em um passado muito distante, tribos selvagens disputavam a golpes de tacapes, pedras e paus, o poder sobre a planície, espécie de altar onde vencedores apresentavam seus troféus, geralmente cabeças e membros decepados dos inimigos. Não raro, cravavam sua bandeira em “território alheio”.

Estudos mais detalhados demonstram que a selvageria era gratuita, disseminada e não tinha razão ou justificava de ser. Trata-se de um período que pode ser classificado como era da aberração civilizatória. A barbárie era apenas diversão. Ganhadores e perdedores, no dia seguinte ao massacre, quando não morriam ou permaneciam em estado grave, retornavam ao anonimato que escondia, protegia e camuflava suas ações.   Era como se nada tivesse acontecido pelo menos até a próxima “Lua”, quando diferenças minúsculas e sem cabimento, porém cada vez mais acentuadas, colocavam desconhecidos novamente frente à frente no campo de batalha. 

A parcela de mulheres viúvas, maridos incapacitados, filhos órfãos e “prisioneiros de guerra” só aumentava na medida em que os caciques, manipuladores e interesseiros, perdiam o controle sobre seus comandados, que se preparavam para a guerra impulsionados por substâncias alucinógenas fabricadas pelos respectivos pajés. 

Os cientistas não encontram outra explicação para fenômeno tão marcante no processo de involução humana que não seja a opção voluntária pela degradação, corroborada por uma espécie de catarse imbecil coletiva.   Com o passar do tempo estes conflitos organizados e auto destrutivos foram ganhando cada vez mais espaço e o que a princípio poderia até ser confundido com o esporte das multidões ou manifestações espontâneas de torcedores apaixonados, deu lugar à bandidagem, à covardia, ao ódio e ao crime organizado.

Ainda não se sabe ao certo que fim levaram as duas principais tribos que habitavam a região. Até porque a existência delas só foi comprovada devido às vestes de cores marcantes que ornavam os dois exércitos. Uma usava o vermelho e o preto e se autointitulava invencível. A outra ostentava no nome a palavra amor, mas, para além das aparências, espalhava o terror. A descoberta da pólvora só acentuou os massacres.

Com o passar do tempo e com leis mais apropriadas à convivência humana, esta espécie de matança coordenada foi perdendo força até desaparecer por completo. Pichações rupestres em áreas particulares e bens públicos indicam que a “Era dos Trogloditas Uniformizados”, assim apelidada pelos pesquisadores, teve seu auge no distante ano de 2022, ainda no primitivo Século XXI. A pergunta que fica é: e se o fenômeno ocorresse hoje, diante dos nossos olhos, o que fariam os guardiões e aplicadores da Lei? Cruzariam os braços? Acho que não. Afinal, demorou, mas, finalmente, nos tornamos civilizados. Ou não?

Oscar Paris é jornalista