Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.
Da Redação
Publicado em 24 de agosto de 2021 às 05:30
- Atualizado há um ano
A repercussão que o jornal inglês The Guardian deu ao patético desfile militar pelas esplanadas de Brasília, com tanques de guerra fumaçando mais que velhos fogões à lenha de minha infância em Campo Formoso - que estão de volta por causa do preço estratosférico do botijão de gás - é apenas mais um sinal de que o Brasil está mesmo isolado no mundo.
The Guardian não juntou-se apenas à tempestade de memes que inundou as redes sociais quando intitulou “desfile militar da ‘república das bananas’ de Bolsonaro”, mas cravou os danos irreparáveis que o negacionismo e o terraplanismo estão causando ao país. Não é piada: é um desastre inominável, cuja fatura ainda não nos foi apresentada.
Recentemente, a fabricante japonesa de eletroeletrônicos Panasonic anunciou que vai fechar suas portas em Manaus, depois de 40 anos no Brasil, juntando-se à Ford, Sony, Mercedes automóveis e às farmacêuticas Roche e Ely Lily, que levou a sua linha de produção para Porto Rico. Quem anda por Salvador pode ver claramente a economia estagnada, com centenas de pontos comerciais fechados, com a placa “vende-se ou aluga”.
Estamos perdendo o que temos sem atrair novos investimentos estrangeiros. Entre 2000 e 2019, o país se tornou cada vez mais exportador de matéria-prima, caindo a participação da indústria de transformação no PIB (Produto Interno Bruto) de 13,1% para 10,1%.
Sem novos investimentos, sem empregos. O índice de desempregados se mantém em quase 15%, o maior desde o início da série histórica do IBGE, em 2012. E o trabalho informal só faz aumentar. Segundo o mesmo IBGE, 34,2 milhões de brasileiros vivem, hoje, da informalidade. No futuro, vamos pagar esta conta, quando a maioria dessas pessoas chegar à velhice e não tiver nenhuma proteção de seguridade social, congestionando mais ainda o nosso sistema público de saúde.
Além da perda de indústrias e, por extensão, da competitividade e de empregos, desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência, em 2019, vivemos uma desastrosa “fuga de cérebros”. O número de trabalhadores qualificados que tentam deixar o Brasil quase que dobrou, com nossos profissionais de saúde, cientistas, engenheiros e economistas tomando o rumo do aeroporto, com direção aos Estados Unidos, Canadá, Portugal e Reino Unido.
Segundo dados do governo dos EUA, a busca de brasileiros pelo visto permanente dos tipos EB1 e EB2 aumentou 135% quando se compara com 2015 e 2016. Em 2020, foram 3.387 solicitações, um aumento de 10,5% em relação a 2019 e o maior patamar nos últimos dez anos.
Qualquer que seja o presidente eleito em 2022, de direita, centro ou esquerda, o certo é que terá uma árdua missão pela frente: retomar o imenso tempo perdido, governar de verdade e trabalhar pela reinclusão do Brasil no concerto das nações, porque, por enquanto, somos párias.
Adolfo Menezes é economista e deputado estadual. É presidente da Assembleia Legislativa da Bahia.