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É tempo de cura mais do que de doença

  • D
  • Da Redação

Publicado em 24 de março de 2020 às 05:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

É o que devemos vibrar daqui por diante para tentar amenizar, ou melhor, fortalecer nossos padrões vibratórios e energéticos. Durante esse momento de caos global, acabamos instintivamente nos apegando ao medo e ao sofrimento que vem com as dores da doença, das informações nos noticiários e das incertezas. Por isso, precisamos pensar mais na cura e menos na doença.

A cura pode vir das mais diferentes formas; nas manifestações de solidariedade, nas pautas de luta e desejo de mudança, nas orações abertas ou silenciosas, na compaixão com o irmão, na forma de empatia, com a resiliência, com o estudo, com o incentivo às novas descobertas, trabalhando a espiritualidade e com a ciência.

O que me motivou a escrever esse texto, foi ver a quantidade de pessoas que estão clamando ajuda divina e atribuindo a Orixás, como Omolu/Obaluayê a cura, o mesmo orixá a quem é atribuído a peste. Na contramão, destes pedidos, comecei a perceber aos que também atribuem a ele (orixá) a doença em gestos e atos de intolerância, que estão utilizando seus credos para proferir palavras ofensivas a este orixá.

Quanto mais pessoas pensarem positivo desejando o amor e a paz maior será a nossa capacidade de emanar boas vibrações que serão convertidas em energias boas capazes de propagar a cura que neste momento o nosso mundo está tanto precisando.

Obaluayê, orixá cujo nome, como é ensinado nos terreiros, não deve ser proferido “atoa”, tem que ser entoado com respeito e cautela, é também conhecido em algumas casas, como o “tio,” o “velho,” é um orixá cujo símbolo é a cura, traz no seu cerne a humildade, senhor de uma beleza ímpar e de um amor imensurável pelos seus filhos, a ele é atribuído muitos ítans (histórias), esses contos se espalharam na disáspora, sobretudo no Brasil, onde a tradição do candomblé nasceu. É um senhor generoso, enigmático e próspero, tem como brilho o sol. Sim, o sol! Esse astro solar que nos ilumina, alimenta e fornece energia. O astro rei! Meu pai, também o senhor da terra! E por aí muitos outros lindos atributos lhe são conferidos e por muitos desconhecidos.

O silêncio lhe acompanha e neste momento de tantas angústias, refletir é um exercício sensato.

O que estamos assistindo é um recado direto da espiritualidade para repensarmos nossa atuação neste planeta generoso e abundante; o cuidado conosco e com a terra mãe. Das ações errôneas, como a ganância, a corrupção, o egoísmo, as formas de preconceitos, os ataques à natureza, fonte geradora de energia, e o (des)amor. A reflexão deve ser compreendida neste contexto como uma nova oportunidade para mudança, para uma transformação em meio a este cenário global de tantas desigualdades e de pouco ou nenhum comprometimento para a mudança. 

Esta doença, não percebida aos olhos, está nos provocando a repensar o sentido de humanidade. Do cuidado conosco, com nossa casa, nosso corpo humano, nossa casa comunitária, o planeta terra. Não podemos esquecer que a terra é a nossa casa, e o cuidado com o fluxo de energia que circula na mesma, é de responsabilidade nossa.

As comunidades de terreiro nos ensinam ao longo da nossa vida no candomblé, como filhos, algumas lições:

1- O sentido de cuidar da nossa comunidade – sim a importância de respeitar e compreender a importância do outro enquanto familiar ocupando o mesmo espaço;

2- A importância da relação geracional - o cuidado com os mais velhos, em uma comunidade de candomblé o mais velho é um tesouro e deve ser cuidado, o idoso não é um peso; pelo contrário, ele é uma biblioteca que nos ensina a manter viva as tradições e ensinamentos;

3- O cuidado com a natureza – entendemos cada elemento da natureza a representação de um orixá, energia viva e vital;

4- A importância da coletividade e convivência nos mais diversos espaços;

5- A manutenção com o sagrado a partir do elo com outras pessoas e com os orixás;

6- A cura pela natureza – as folhas são vida e provem o remédio para aliviar os males;

7- A cooperação e irmandade como sentido de família ampliada, representado cada membro da comunidade do terreiro;

8- O louvor - nossas canções são orações;

9- A fé no que não se vê! – o aprendizado mais completo na relação com o divino;

10- O amor – a maior de todas as lições.

Precisamos repensar o presente. A espiritualidade espera de nós altruísmo, amor e empatia. Precisamos curar nossas almas das dores do mundo, das dores que causamos a nós mesmos e das dores que nos causam muitas vezes. É tempo de cura, de mudança, de transformação.

A tomada de consciência não está unicamente em replicar mensagens. Reflita sobre a vida, reflita sobre como você pode, como nós podemos e devemos melhorar enquanto pessoas. Convoquemos Ossain, cujo conhecimento e poder de cura trás com as folhas que habitam o mais profundo das florestas, que conceda a cura. Que traga junto com meu pai o Velho. Atotô! do mais profundo da floresta, a cura. Convoquemos Alá, Oxalá, Jeová, Jesus, Buda, os Encantados e Tempo. Pois é Tempo de cura! Tempo para transformação.

Cuidado com os mais velhos;

Solidariedade.

Nivia Luz é Ialorixá do Terreiro Ilê Axé Oya e mestre em Cultura pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores