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Editorial
Publicado em 14 de fevereiro de 2016 às 08:57
- Atualizado há um ano
Após criar a expectativa de que anunciaria um corte no Orçamento logo depois do Carnaval, o governo decidiu adiar para março a divulgação do corte. O próprio ministro do Planejamento, Valdir Simão, deu a singela explicação de que o governo não tinha todos os números.
Ou seja, nem mesmo a equipe econômica sabe calcular ainda o tamanho do buraco orçamentário, apesar da frustração de receita ser evidente. E está ficando cada vez mais claro que a meta de superávit primário de 0,5% do PIB não vai ser cumprida.
O adiamento é outro péssimo sinal do governo sobre seu próprio desequilíbrio fiscal. As contas não fecham e Dilma e seus ministros indicam que não sabem onde cortar gastos.
Sem capacidade para cumprir a meta que ele mesmo estabeleceu, o governo aponta agora para uma meta flexível - maneira indireta de admitir que o Brasil terá déficit fiscal pelo terceiro ano consecutivo. Essa fórmula serve como licença para o governo federal ficar novamente no vermelho, que vai ser copiada, obviamente, por estados e municípios.O desequilíbrio fiscal espalhou-se porque quem teve aumento de receita na última década não se preparou para os tempos de vacas magras. O governo federal dá o pior exemplo possível, ao contar no seu Orçamento de 2016 com a receita da nova CPMF sem ter qualquer garantia de que o Congresso vai aprovar o tributo. Há uma resistência grande: trabalhadores estão com dificuldade de pagar suas contas, e reajustes de taxas federais, estaduais e municipais já estão pesando no bolso.
Com um problema desse tamanho, adiamento de decisões importantes vira combustível para a crise. O Brasil está com a economia desajustada no pior dos mundos - a economia internacional mundial dá sinais de estar andando para trás com a desaceleração da China e a queda do preço do petróleo.
Bolsas do mundo inteiro desabaram esta semana, com dúvidas sobre a solidez dos bancos europeus. O preço das ações do poderoso Deutsche Bank - o maior da Alemanha, a maior economia da Europa - despencou; a ação do Credit Suisse já perdeu 40% do valor no ano; bancos italianos, ingleses, japoneses e americanos também sofreram desvalorizações.
Os índices apontam para um baixo crescimento dos países desenvolvidos, que estão adotando taxas de juros próximas a zero. No Japão, com a economia estagnada, os juros que já eram baixos ficaram negativos. Nos EUA, que ensaiavam uma recuperação, Janet Yellen, presidente do Banco Central americano, disse que o cenário mundial piorou e não descarta adotar juros negativos.
Esse cenário externo combina ameaça de recessão com ameaça de deflação - o que mostra como é esdrúxula a situação do Brasil onde a recessão já é uma realidade - com uma queda acima de 3% do PIB em 2015 - com a inflação de dois dígitos. Por tudo isso, o governo Dilma devia trabalhar com um senso de urgência que aparentemente não tem.
Enquanto não define o tamanho do corte no Orçamento e quais programas serão preservados, o governo publicou, sexta-feira, decreto que mantém para os meses de fevereiro e março a autorização para que os ministérios gastem até 1/18 avos do Orçamento aprovado pelo Congresso.
A decisão parece indicar que o governo quer uma economia maior até a aprovação do Orçamento pelo Congresso. É mais uma medida paliativa que deixa a economia em suspense sobre o que o governo vai fazer para equilibrar suas contas. E sem saber se essa falta de senso de urgência é reflexo da incapacidade de enxergar a gravidade da situação econômica ou da ausência de propostas para tirar o país da crise.