Ética na educação, desigualdade e violência

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  • Da Redação

Publicado em 14 de março de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A educação tem um papel ético fundamental e uma de suas atribuições mais importantes é a valorização da vida. Aprendemos a conviver e a valorizar os outros, as diferenças e os contrastes. Não somos e não estamos sós, somos comunidade. Por isso, muitas brincadeiras de crianças nos ensinam a (com)viver com o outro.

O projeto educativo encontra-se envolvido em três grandes ações: socializar (demanda social), subjetivar (caráter psicológico) e preparar para o mundo do trabalho (fator econômico).

Nos dias de hoje, exige-se que as escolas valorizem a formação para o mercado de trabalho. Isso enfraquece a importância da subjetivação, da formação ética, de valorização da vida e do aprender a conviver. É como se estivéssemos clamando pela aprendizagem de habilidades instrumentais, apenas ligadas ao setor econômico, desvinculadas de valores éticos e morais. O fenômeno da Escola Sem Partido e o atual ódio aos professores são sintomas deste processo: querem ensinar aos próprios mestres que eles estão errados, querem enquadrar a escola como lugar dos conhecimentos instrumentais, úteis apenas ao setor econômico.

Mas não temos emprego para todos! As condições sociais e econômicas são extremamente desiguais em nosso país. Segundo a OXFAN, o Brasil é o país mais desigual do continente americano e o 9º mais desigual do mundo, com uma concentração de renda gigantesca. A desigualdade tem forte impacto na instabilidade social. Seria mais fácil viver, conviver e ser feliz sabendo-se que todos têm chances iguais. A desigualdade enfraquece e fragmenta os laços sociais e comunitários.

Por isso, hoje, 13 de março de 2019, escrevo este texto com lágrimas. Dois jovens entraram na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, Grande São Paulo, e mataram 8 pessoas, feriram 15 e se suicidaram. Esse tipo de ação é sinal de alerta: algo não está bem. Mas, como poderia, se a escola está pressionada, inclusive pelo governo, a se tornar refém dos interesses econômicos?

Só ações de socialização e subjetivação podem se contrapor à ênfase excessiva na mercantilização da vida. Precisamos de projetos de fortalecimento dos laços de pertença, de cooperação e solidariedade. A valorização da vida não pode ser abstrata e virtual. Ela demanda engajamento político e social. As agendas neoliberais e economicistas não podem guiar a educação. As consequências são e serão nefastas! Não precisamos de “atiradores de elite”. É urgente formar sujeitos críticos e éticos, que leiam o mundo, interpretem seus contextos históricos e socioeconômicos e ajam para descortinar e mudar a complexa, desigual e violenta realidade que vivemos no país e no mundo.

Leonardo Rangel é professor de Sociologia do Instituto Federal da Bahia, doutor em educação pela Universidade Federal da Bahia e pós-doutorando em Currículo, com bolsa CAPES, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

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