Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 26 de julho de 2013 às 15:01
- Atualizado há 2 anos
Em uma hora sentada nas escadarias da Catedral Basílica, no Terreiro de Jesus, só avistei turistas. Eram figuras curiosas, entrando e saindo das galerias, olhando pro alto da Faculdade de Medicina, tomando um cravinho, admiradas com os tipos humanos que moram ou transitam no velho bairro. Tudo era encantador para eles, brasileiros ou gringos. E pensei: ‘são esses visitantes que doam sangue às artérias do Pelourinho, baianos vêm aqui só quando tem evento’. Gilberto Gil, no São João, atraiu foi morador de Salvador. Assim também se deu no Carnaval, quando ficou lotado de famílias. Estou falando, evidentemente, dos baianos visitantes. Porque há baianos que fazem transfusão diariamente. Clarindo Silva, por exemplo, que resiste na Cantina da Lua como valioso livro de história preso na estante. Arquivo vivo do Pelô, ele relembra os tempos áureos em palestras memoráveis. Maria das Dores é outra, levou 40 anos com uma pasta na mão vendendo joias no Elevador Lacerda. Hoje, mata um leão por dia para manter sua galeria. Aninha Franco e seu casarão de arte, Alaíde do Feijão, Negra Jhô, Dadá e sua cozinha, Oliver e seus cabelos de miçanga... São só alguns guerreiros. Mas, morador daqui adora estigmatizar o Pelô de inseguro. Tem, sim, problemas mas não são piores do que os que ocorrem na Barra, na Pituba ou em Itapuã. Festas na orla também atraem arrastão. As ocorrências do Centro Histórico despertam muita atenção da mídia porque é impossível ser indiferente ao abandono de um Patrimônio da Humanidade. E existe uma sensação de insegurança, reforçada pelas abordagens constantes de vendedores, pedintes e zumbis do crack. Mas, eles se espalham pela cidade inteira... Ainda falta muito para recuperar o velho centro, mas há muita beleza para apreciar. Que outro lugar em Salvador tem apresentações semanais do Balé Folclórico da Bahia, grupo elogiado em todo o mundo? Ou a missa afro do Rosário dos Pretos? E os instrumentos musicais reunidos por toda a vida de Emília Biancardi? Que ruas da cidade viram a passagem de Cosme de Farias distribuindo cartilhas do ABC, lápis, borracha e tabuadinha em sua cruzada contra o analfabetismo? O turista tem mesmo muita razão em adorar o Pelourinho. E, nós, por que não vamos mais lá?>