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Rodrigo Daniel Silva
Publicado em 14 de outubro de 2025 às 05:30
Amigos, um dos mais fascinantes desafios da geometria na Grécia clássica era a quadratura do círculo - a tarefa de, usando apenas régua e compasso, construir um quadrado que tivesse exatamente a mesma área de um círculo dado. Ao longo dos séculos, matemáticos tentaram em vão resolver a questão. O impasse era tão grande que a expressão “quadratura do círculo” passou a ser sinônimo de algo impossível. >
Em 1882, o alemão Ferdinand von Lindemann (1852–1939) encerrou o debate ao provar matematicamente que o problema era, de fato, insolúvel. Mais de um século depois, os petistas baianos parecem dispostos a desafiar Lindemann: dizem que vão “resolver a quadratura do círculo” ao tentar formar uma chapa governista para 2026 sem provocar rupturas internas.>
A promessa, porém, não é nova. Em 2022, o discurso foi o mesmo - e o resultado, um fiasco. Naquele ano, o então vice-governador João Leão rompeu com a base após ser rifado por Jaques Wagner dos acordos que o levariam ao comando do governo, numa articulação frustrada para que Rui Costa renunciasse e disputasse o Senado.>
Agora, o cenário é ainda mais complicado. Há apenas três vagas - duas para o Senado e uma para a vice-governadoria - e quatro pretendentes: Rui, Wagner, Angelo Coronel e Geraldo Júnior. Uma equação política que, como na geometria, parece impossível de fechar.>
A única vaga garantida é a do governador Jerônimo Rodrigues, candidato natural à reeleição. Mesmo assim, aliados de Rui Costa espalham na imprensa que o ministro poderia voltar à disputa estadual diante da impopularidade de Jerônimo.>
Enquanto isso, Geraldo se mantém na vice com o trunfo da inércia: ninguém parece disposto a ocupar um cargo que tem sido politicamente irrelevante. O vice, que prometia ser uma pedra no sapato de Jerônimo, tem tido um mandato opaco - e essa experiência afasta novos interessados.>
A disputa mais intensa está nas duas vagas para o Senado. Rui, Wagner e Coronel não admitem abrir mão da candidatura. Nos bastidores, fala-se que Rui estaria minando a reeleição de Wagner para ter uma chapa com ele próprio e Coronel.>
Os petistas, porém, ensaiam rifar Coronel para montar uma chapa “puro-sangue” - só com nomes do PT. Essa operação, entretanto, seria um convite à crise. Se o PSD for deixado de fora, é difícil imaginar que não haja fissuras e ressentimentos. Por outro lado, se Rui ou Wagner forem deixados de fora, as mágoas entre os dois titãs petistas serão inevitáveis. De um jeito ou de outro, a quadratura do círculo petista continuará sem solução.>
E isso sem contar as possíveis interferências nacionais na chapa. Há quem diga que, se o PSD lançar candidato à Presidência, o partido pode deixar a base do PT. O nome mais forte hoje é o do governador do Paraná, Ratinho Jr. Nesse cenário, o presidente da sigla, Gilberto Kassab, poderia mandar que o PSD apoiasse Ratinho também na Bahia - e não Lula, como querem os petistas locais.>
Mas a história mostra que nem sempre as alianças seguem a lógica partidária. Em 94, por exemplo, o PSDB lançou candidato à Presidência, mas o então presidenciável FHC acabou apoiando Paulo Souto para o governo, e não o tucano Jutahy Magalhães - o resultado foi a vitória de Souto e FHC.>
O que acontecerá em 2026 ainda é cedo para prever. Mas a eleição, sem dúvida, será recheada de emoções.>