Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

O boulevard do Horto

  • Foto do(a) author(a) Waldeck Ornelas
  • Waldeck Ornelas

Publicado em 11 de outubro de 2022 às 05:28

. Crédito: .

Uma iniciativa particular, pioneira em nossa cidade, capitaneada por empresas comerciais e imobiliárias e apoiada pela prefeitura, anuncia a requalificação do Horto Florestal, bairro de classe alta e média alta, para dar-lhe adequadas características de ambiente e condições de vida urbana, ou seja, comunitária. Trata-se de resgatar, em parte, o espirito da antiga Chácara Suíça, de Otto e Lucy Billian, transformada em verdadeira selva de pedra.

Embora no interior dos condomínios haja vegetação e espaços livres, a circulação viária tornou-se a negação de tudo que possa ser entendido como um bairro. Os muros elevados tornaram as ruas verdadeiros carrodutos – pistas asfaltadas, com calçadas estreitas e muros altos dos dois lados – que, neste caso, não deixaram sequer faixa para estacionamento.

O Loteamento Parque Florestal fora originalmente planejado como unidomicilar, com saudáveis cuidados ambientais para preservar a flora e a fauna locais, tendo até existido um laboratório para seleção de mudas e a produção de legumes e frutas. Com muito entusiasmo saúdo esta iniciativa empresarial que certamente mitigará os impactos negativos acumulados na área, tornando-a, na medida do possível, mais urbana e civilizada.   

A proposta se inspira na “cidade de 15 minutos” que prega a proximidade e mescla dos usos, de modo que moradia, trabalho, consumo e lazer possam estar disponíveis e acessíveis, a pé, nesse lapso de tempo. Em artigo anterior (Salvador, cidade de 15 minutos, Correio 23/06/2021) propus que cada morador começasse a fazer uma análise do que temos e do que nos falta na proximidade de nossas casas: oportunidade de trabalho? comércio de conveniência/serviços? unidades escolares e de saúde? praça pública/área verde? espaços de lazer?

Com foco nas pessoas – ao invés dos carros, como é dominante entre nós – Jan Gehl defende a “cidade ao nível dos olhos”, com lugares agradáveis e acessíveis para caminhar e pedalar, dotados de mobiliário urbano que estimulem a vida comunitária. São “escolas” que têm aderência ao conceito do novo urbanismo – que somente há pouco começou a aportar por aqui – e que vêm aperfeiçoando a forma mais amigável que as cidades devem ter em relação às pessoas.  

O ideal da cidade compacta não é sinônimo de cidade pequena. Ao contrário, uma cidade pode contar com muitos bairros compactos, cada um com o conjunto das funções necessárias, sem prejuízo das funções centrais e singulares que toda cidade grande precisa ter.

Que a necessidade sentida no Horto Florestal permaneça e se reflita em cada nova edificação que a dinâmica indústria imobiliária realize na cidade, evitando a necessidade de futuras requalificações – que certamente não serão viabilizadas como no Horto.

Cabe, de logo, cobrar dos seus projetistas o diálogo do prédio com a rua. Neste momento, cerca de duas dezenas de novas edificações no bairro da Barra não incorporam a fachada ativa, com comércio no térreo. O edifício misto, unindo residência e comércio/serviços constitui um primeiro passo para promover a dinâmica das ruas, evitando os muros altos ou as fachadas cegas que, dando falsa sensação de segurança, não protege contra a bandidagem. Ao contrário, rua viva é que se torna rua segura! 

Aliás, nossa cidade está repleta de referências negativas. É impressionante como, em Itapuã, os moradores de conjuntos habitacionais de classe média têm que fazer puxadinhos para o alto de suas casas para, por sobre o muro, poderem desfrutar da majestosa beleza cênica das dunas do Abaeté...

Seja bem-vindo o boulevard do Horto! que o reconhecimento da sua necessidade inspire a todos os stakeholders – incorporadores, projetistas, construtores, a própria Prefeitura – a trilharem um novo caminho, onde medidas corretivas não se tornem indispensáveis.

Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.