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Waldeck Ornelas
Publicado em 17 de fevereiro de 2016 às 07:39
- Atualizado há um ano
Com três milhões de habitantes e sem indústrias, Salvador tem no setor de serviços a sua vocação econômica, fortemente alicerçada no turismo, com suporte no seu valioso patrimônio histórico, sua cultura singular, suas praias e o peculiar espírito hospitaleiro do seu povo.
A indústria do município foi deslocada da península de Itapagipe para o Centro Industrial de Aratu e o Complexo Petroquímico de Camaçari, a partir das décadas de 60 e 70 do século passado, fruto de uma estratégia de planejamento que não apenas deu corpo à Região Metropolitana de Salvador como alavancou o desenvolvimento econômico da Bahia.
No início, a economia de Salvador beneficiou-se fortemente desse processo, porque aqui era consumida a enorme massa de salários gerada pela indústria nascente, tendo levado à modernização do comércio e à melhoria dos serviços.Com o passar do tempo, a reestruturação empresarial do Complexo Petroquímico reduziu os empregos de renda mais elevada e as sedes das grandes empresas, agora integradas, deslocaram-se para o Centro-Sul do país. A chegada da indústria automobilística já se deu nessa nova configuração.
Mas a população continuou crescendo aceleradamente, incorporando enormes contingentes de migrantes de baixa renda e desprovidos de qualificação profissional. Isto fez com que Salvador se tornasse líder em taxas de desemprego, convivendo com serviços públicos insuficientes e custo de vida elevado.
Como consequência, Salvador tem uma renda per capita das mais baixas, entre todas as grandes cidades e capitais brasileiras. Uma verdadeira herança maldita! E esse é um processo que não se reverte da noite para o dia, demandando por isso mesmo um planejamento de longo prazo e largo alcance, a ser executado com determinação e rigor.
Nesse contexto, a Prefeitura de Salvador perdeu capacidade de geração de receitas, tornando-se extremamente frágil, o que tem sido revertido com o incremento da arrecadação própria, mas também pela mobilização de parcerias com o setor privado para atender as carências e necessidades da população.
Antes custo do poder público, o Carnaval de Salvador é hoje, majoritariamente, financiado por um criativo e inovador modelo de patrocínio montado pela Prefeitura – com especial destaque para as cervejarias – pronto para ser replicado Brasil afora.
Menos dinheiro público no Carnaval significa recursos liberados para a educação, a saúde, a assistência social, a moradia, a infraestrutura urbana e os serviços públicos em geral.
Nas últimas duas décadas, cresceu no país a prática de mobilizar o setor privado para a realização de obras e a prestação de serviços que o poder público não tem capacidade financeira para realizar apenas com a arrecadação tributária, mas que constituem demandas inadiáveis da população. A alternativa seria o contínuo crescimento da dívida pública.
Por isso, o que se vê são concessões, privatizações, parcerias público-privadas, contratos de gestão e tantas outras alternativas adotadas pelos governos em geral, independente da ideologia dos seus partidos políticos. O que importa – e se impõe – é corresponder às expectativas e aspirações da sociedade.
Os bens e serviços produzidos pelo poder público não se resumem apenas à oferta de infraestruturas e serviços de utilidade pública. Incluem também atividades culturais, manifestações e festas populares – o Carnaval entre elas – no bojo da chamada economia criativa, em que Salvador tem o desafio de se destacar cada vez mais.
Não é sem razão que, desde algumas décadas, vem sendo ressaltada a importância que o PIB da cultura e do turismo assume na economia baiana, com especial ênfase em nossa capital, como uma das principais fontes geradoras de oportunidades de trabalho e renda para a população.
Sem contar com a oferta de emprego industrial, é no setor de serviços – tais como turismo, entretenimento, indústria cultural, economia criativa, alta tecnologia e logística – que Salvador há de construir a sua nova base econômica.
Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional e ex-secretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia da Bahia.