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17 dias na estrada de Jeep Renegade: explorando Bahia, Goiás e Minas Gerais

Foram 5300 quilômetros, 440 litros de gasolina e 12 cidades

Publicado em 5 de outubro de 2025 às 08:00

17 dias na estrada de Jeep Renegade: Bahia, Goiás e Minas Gerais
17 dias na estrada de Jeep Renegade: Bahia, Goiás e Minas Gerais Crédito: Acervo Pessoal

Durante 17 dias, o jornalista Luis Guilherme (Pontes Tavares), 73 anos, conduziu o Jeep Renegade, ano 2015-2016, por 5300 quilômetros. O roteiro consumiu cerca de 440 litros de gasolina e o veículo, que o dono chama de Tentem (diminutivo de Tenente, por causa da sua cor verde e do número 10, ten em inglês, idade que o veículo completou há pouco), comportou-se muito bem. O motorista considera que o Brasil deve entusiasmar o turismo rodoviário e cuidar de oferecer e manter estradas de qualidade.

Além do motorista, o acompanhavam a sua mulher, Ronrom, e a colega jornalista Berna Farias. Juntos, percorreram quatro unidades federativas: Bahia, Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais. O passeio foi iniciado às 6h30 de 04 de maio e concluído às 23h do dia 21 de maio. Ao longo do percurso, repousamos em 12 cidades distintas, permanecemos mais de dois dias apenas em Alto Paraiso, Goiânia, ambos em Goiás, e em Brasília (DF).

COM OU SEM ASFALTO

O primeiro destino foi a Fazenda Garajau, em terras de Macajuba e Ruy Barbosa, na Bahia, onde fomos conhecer o Museu de Arte Popular Juraci Dórea, que exibe coleção iniciada há cerca de 20 anos pelo casal Selma de Paula (psicóloga e empresária) e Aécio Pamponet (economista, pecuarista e escritor). São mais de 2500 peças com assinaturas de artistas baianos, mineiros, sergipanos, pernambucanos e goianos.

Os dois acessos, vizinhos às sedes de Capim Grosso e de Macajuba, atravessam, em pista de barro e pedra, áreas de caatinga em que predomina o mandacaru (foto 1). Via Estrada do Feijão, o trecho de chão por Campo Grosso tem cerca de 36 km. Foi o que utilizei para chegar a Garajau. No dia seguinte, utilizei o trecho que termina em Macajuba, com cerca de 16 km de chão. Ambos oferecem cenários que os pássaros povoam e musicam. Daí, depois de passar em Ruy Barbosa, desembocamos na BR 242 e seguimos pela Chapada Diamantina para o próximo destino.

Caminho para a Fazenda Garajau, em terras de Macajuba e Ruy Barbosa, na Bahia
1 Caminho para a Fazenda Garajau, em terras de Macajuba e Ruy Barbosa, na Bahia Crédito: Acervo Pessoal

Fomos visitar a Fundação Casa de Anizio Teixeira, em Caetité, instalada na residência paterna do educador baiano que, ao longo da vida (1900-1971), se destacou como pensador e líder no movimento em favor da acessibilidade a todo o povo brasileiro de educação de qualidade. O casarão (foto 2), como anexos, reúne variado acervo iconográfico e documental sobre ele e sua família, está bem conservado e desenvolve ações culturais e de formação profissional em benefício dos locais e da vizinhança do município.

Fundação Casa de Anizio Teixeira, em Caetité, instalada na residência paterna do educador baiano
2 Fundação Casa de Anizio Teixeira, em Caetité, instalada na residência paterna do educador baiano Crédito: Acervo Pessoal

Impressionou-nos a quantidade de usinas eólicas na vizinhança de Caetité. Vimos propriedades rurais com plantações extensivas de milho, soja e sorgo, cenário que cresceria em exuberância quando atravessamos a fronteira com Goiás. Antes disso, pernoitamos em Bom Jesus da Lapa e, depois, em Correntina, dois destinos baianos frequentados por turistas. O primeiro, por causa do Santuário (foto 3), que atrai romeiros nacionais e internacionais; o segundo por causa das águas do Rio Corrente e da infraestrutura turística que cresce cada vez mais.

Santa Dulce dos Pobres no santuário de Bom Jesus da Lapa
3 Santa Dulce dos Pobres no santuário de Bom Jesus da Lapa Crédito: Acervo Pessoal

SEDUÇÕES DO CENTRO OESTE

Se nutro alguma queixa da viagem de maio de 2025 se deve aos equívocos a que fui levado pelos aplicativos aos quais confiamos nossos passos no desconhecido. Ao sair do território baiano, ingressamos em Goiás e demandamos Alto Paraiso, destino turístico que reverencia a natureza. Chegamos à noite. Nos dois dias seguintes, banho frio nas águas da Cachoeira das Loquinhas, Cachoeira dos Cristais (foto 4), no Vale da Lua e nas lojas do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Os acessos rodoviários são em pista de terra.

Corredeira dos Cristais, Alto Paraíso
4 Corredeira dos Cristais, Alto Paraíso Crédito: Acervo Pessoal

De Alto Paraiso para Brasília o percurso de pouco mais de 200 km deveria consumir no máximo três horas, mas há trânsito intenso e não é fácil andar na Capital Federal. Entra aqui, sai ali, volta, refaz o caminho... Pretendi, sobretudo, ver o busto do jornalista e jurista baiano Ruy Barbosa (1849-1923) no Supremo, cujo diferencial é a mossa que foi causada no atentado de 08 de janeiro de 2023 e que permanece para nos lembrar do ocorrido. Não consegui, mas fui ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e a restaurantes próximo ao Lago Paranaguá, com vista para a Ponte JK.

Seguimos para Goiânia, aonde chegaríamos no dia seguinte. Antes, visitamos Pirenópolis e Goiás [Velho], cidades históricas que exibem manifestações culturais próprias e detêm rico patrimônio arquitetônico de séculos passados. Nesse trecho, reencontramos o prato “jantinha”, variante do espetinho servido com acompanhamento (foto 5). Porção pequena, mas deliciosa. Esse prato é servido também no Oeste da Bahia e em Minas Gerais. Andávamos nas pequenas cidades sem guia e com facilidade.

Jantinha em Pirenópolis
5 Jantinha em Pirenópolis Crédito: Acervo Pessoa

Goiânia foi alcançada no anoitecer de 14 de maio, véspera de meu aniversário. No dia seguinte, andamos no centro antigo – palácios e Bosque dos Buritis – e fomos para o Shopping Flamboyant, novo e fora do centro da cidade, onde almoçamos no Restaurante Rainha, de cadeia carioca. Se no centro de Goiânia há vários prédios, de muitos andares, em construção, no Flamboyant, o que me impressionou, foram as muitas lojas de grife internacional, entre as quais a francesa Louis Vuitton.

FALTA SINALIZAÇÃO

Somo à queixa aos aplicativos, a constrangedora falta de sinalização nas estradas brasileiras. Soma-se a essa perigosa deficiência, a má conservação de trechos que são perigosos. Das quatro unidades federadas, queixo-me, sobretudo, de Minas Gerais. Pudera! O Estado tem mais de 800 municípios e a interligação deles não é barata. Fomos de Goiânia no sentido de Cordisburgo, cidade natal do diplomata e escritor João Guimarães Rosa (1908-1967). Não a alcançamos no mesmo dia, de modo que paramos em Patrocínio, onde vi, pela primeira vez, uma composição ferroviária de mais de 50 vagões carregados de celulose – variam para mais de 100.

Cordisburgo dista pouco mais de 150 km da capital mineira e sua população gira em torno de sete mil e 500 habitantes. É cidade antiga, outrora servida pelo transporte ferroviário. Hoje, por lá, só passa trem de carga. A estação fica, num plano abaixo da rua, defronte do Museu Casa de Guimarães Rosa. O acervo exposto no museu contém documentos, fotografias e objetos do escritor mineiro que se diferenciou pela linguagem.

No dia seguinte, dispensamos a visita à Gruta de Maquiné e seguimos para Diamantina, terra natal do saudoso presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976). Repetiria esse destino, tanto pelo conjunto arquitetônico como pela infraestrutura turística. E repetiria a hospedagem no Tijuco, hotel que o também saudoso arquiteto carioca Oscar Niemeyer (1907-2012) projetou em 1952. O trecho mineiro almejado foi o Vale do Jequitinhonha, desde Couto de Magalhães até Itaobim, passando por Turmalina e Minas Novas, polos de produção cerâmica diferenciados.

No trecho mineiro, portanto, repousamos em Cordisburgo, Diamantina e Minas Novas e houve rodovias, sobretudo nas zonas rurais, que estão reclamando manutenção. Destaco duas unidades comerciais de cerâmica no Vale do Jequitinhonha: Jequi tem arte, em Couto de Magalhães, e a loja da Associação dos Artesão Coqueiro Campo, no povoado de Campo Buriti, em Turmalina. Se passar por lá de novo, as visitarei, com certeza!

Ao retornar a Salvador, reingressamos na BR-116, na altura de Itaobim, cidade mineira que é porta de acesso ao baixo Vale do Jequitinhonha. Era 20 de maio e alcançamos Vitória da Conquista no final da tarde. Como cresce essa cidade baiana! Pela manhã, seguimos para Ipiaú, pois desejava conhecer a cidade e o Rio das Contas, que a banha. Almoçamos no Laurena Grill e, satisfeito, segui viagem até Salvador.

Foi assim.

Luis Guilherme Pontes Tavares é jornalista, produtor editorial e professor. Email: lulapt2@gmail.com

Cerâmica Vale do Jequitinhonha por Acervo Pessoal