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Além das federais: faculdade no exterior é tendência e conflitos com EUA colocam outros países no topo

Saiba como se preparar para processos seletivos de universidades fora do Brasil

  • Foto do(a) author(a) Carolina Cerqueira
  • Carolina Cerqueira

Publicado em 6 de setembro de 2025 às 05:00

O objetivo de passar numa universidade federal no Brasil pode ser fichinha para estudantes que sonham alto mesmo. Eles querem transpor fronteiras de verdade e buscam Harvard, Yale, Columbia, Oxford, Stanford e por aí vai. É a partir do 9º ano que começa a preparação para o processo que mais parece com uma seleção de emprego para uma grande empresa e deixa a experiência escolar com uma cara ainda pouco conhecida no Brasil.

As motivações costumam ser a busca por um currículo de peso, mercados de trabalho com mais oportunidades e ainda trocas culturais. Na Escola Pan Americana da Bahia (Pasb), a média de alunos admitidos em universidades fora do país é de 70% e o colégio diz perceber um aumento da procura.

Na Land School, em Salvador, enquanto 16% dos alunos escolheram universidades internacionais em 2024, ano em que aconteceu a formação da primeira turma, em 2025 a porcentagem subiu para 50% e ainda pode aumentar, já que o processo de aplicação não terminou.

Uma das alunas é Nina Pinheiro, de 17 anos. Ela foi aprovada, até agora, em 39 universidades fora do Brasil. Escolheu a IE University, na Espanha, para uma dupla graduação em Relações Internacionais e Direito. Seu sonho é trabalhar na ONU. Para alcançar as aprovações, Nina diz que desde cedo buscou universidades com o seu perfil.

“Estou nessa busca desde cedo e isso me possibilitou ter um currículo precioso, que fazia sentido para mim e para o meu projeto e que fosse valorizado pelas universidades”, diz a estudante.

Nina
Nina Pinheiro, 17 anos Crédito: Divulgação/Land School

Gabriela Barbosa é de Fortaleza, tem 23 anos e é CEO da Brasa, uma organização sem fins lucrativos que busca incentivar e apoiar estudantes brasileiros que querem estudar fora do país. Segundo ela, esse caminho hoje é bem menos complicado e mais acessível, inclusive, a diferentes públicos.

“São cerca de 80 mil brasileiros estudando fora em todo o mundo. A gente tem um crescimento de interesse dos estudantes e das próprias universidades que recebem brasileiros, assim como um aumento de aprovações de estudantes de diferentes classes econômicas. Tem caso de estudante que é a primeira pessoa da família a fazer faculdade e vai para uma das melhores do mundo”, diz.

Cursos escolhidos

Heather Freeman, orientadora educacional da Pasb e especialista em acompanhamento dos estudantes para aplicação em universidades no exterior, conta que costumam ficar no Brasil alunos dos cursos de Medicina e Direito, que são mais tradicionais e seguem diferentes regras em cada país.

O curso mais escolhido por quem vai para fora, segundo ela, é business, que seria o equivalente à administração. “Mas é um curso mais amplo porque o aluno passa os primeiros anos tendo contato com disciplinas de várias áreas e pode fazer um curso de business com foco em economia ou relações internacionais, por exemplo”, explica.

Ela também destaca o espaço das áreas de engenharia e artes para quem quer trabalhar com tecnologias inovadoras ou seguir carreira artística, respectivamente. Na Land School, Fernanda Melo, que é conselheira universitária, destaca cinco cursos mais requisitados: business, relações internacionais, direito, psicologia e moda.

Danielle Tavares, de 18 anos, se formou na Pasb este ano e já está na Califórnia para começar a cursar Major em Communications na University of Southern California, nos Estados Unidos, depois de ser aprovada em outras 13 universidades. Na hora de montar a grade, ela incluiu disciplinas de cinema porque tem vontade de seguir esse caminho.

Danielle vai começar o curso Major em Communications na University of Southern California (EUA)
Danielle vai começar o curso Major em Communications na University of Southern California (EUA) Crédito: Acervo Pessoal

“Eu não tinha muito bem definido o que eu queria, mas sabia que era algo mais artístico e criativo. E sei que o mercado nos EUA é melhor para isso, assim como as graduações amplas e com possibilidade de serem duplas. Eu tenho até o final do segundo ano para definir quais são os dois cursos que vão constar no meu diploma no final”, explica Danielle, cujo irmão já estuda business na University of California San Diego, também nos Estados Unidos.

Países escolhidos

Heather Freeman, da Pasb, afirma que a maioria dos alunos ainda aplica para universidades estadunidenses. “São as faculdades que veem em filmes e séries. Todo mundo conhece Harvard”, explica. Guilherme Hohenfeld, de 26 anos, cursou ciência da computação e psicologia na Minerva, que tem sede nos EUA, mas um programa em que os estudantes passam por diversos países.

Ele completa: “Os EUA são bons em fazer marketing, se vender. O mundo todo ouve falar sobre as faculdades e as instituições de lá, como a própria Nasa. As universidades de lá sempre tiverem uma política de globalização, de receber alunos do mundo todo por conta dessa valorização da multiculturalidade, vista como sinônimo de riqueza.”

Agora, no entanto, com os últimos movimentos do governo Trump, o cenário é outro. Heather relata as diversas mudanças recentes sofridas na política de admissão das universidades e no processo de solicitação de vistos de brasileiros para os Estados Unidos, provocando incerteza nos alunos.

“O governo americano já era exigente e agora está mais ainda. Está tendo uma investigação minuciosa das redes sociais dos alunos, do que postam, de quem seguem. Todos têm que deixar os perfis abertos. Com isso, os alunos estão se sentindo inseguros e já percebemos uma tendência de escolha por outros países. Até mesmo as universidades americanas estão relatando um declínio no número de candidatos”, conta Heather Freeman, da Pasb.

Ela acrescenta que a última turma de formandos teve que enfrentar um período de suspensão da realização de entrevistas para o visto. Esse foi o caso de Danielle Tavares, que hoje está na University of Southern California. “Tive que esperar o fim da suspensão para marcar a minha entrevista. Foi um momento de preocupação, mas depois deu tudo certo”, lembra.

O International Counselor do Colégio Villa Global Education, Jazz Siqueira, diz que os EUA vêm caindo no ranking de locais mais escolhidos pelos alunos. Em primeiro lugar, está o Canadá, depois os países da Europa. O Japão vem subindo para a terceira posição enquanto os EUA caem para a quarta.

Gabriela Barbosa, da Brasa, coloca que, além das dificuldades com visto, os alunos também levam em consideração as condições que enfrentarão no país após a formatura. “Tem uma tendência de busca por países da Europa, temos tido estudantes na Ásia, Oriente Médio. Temos uma base agora no Catar, inclusive. Já temos pontos da Brasa em 125 regiões do mundo”, relata. Os destinos alternativos podem ser, inclusive, mais baratos.

Gabriela Barbosa, CEO da Brasa
Gabriela Barbosa, CEO da Brasa Crédito: Divulgação/Brasa

Custos

A Brasa surgiu em 2014, a partir da reunião de estudantes brasileiros de faculdades dos Estados Unidos que sentiram a necessidade de um apoio durante o processo. A organização conecta alunos de escolas brasileiras que querem estudar fora com alunos de universidades no exterior que já ultrapassaram essa barreira. São oferecidas mentorias gratuitas para passar orientações de como realizar o processo de aplicação.

Alguns mentorados também podem receber bolsa para ajudar com os custos do processo. Faculdades costumam cobrar taxa de inscrição e exigir exames pagos de proficiência em inglês e matemática. Este ano, 60 bolsistas fazem parte do programa. A ideia é viabilizar o movimento de estudo fora do país para diferentes tipos de brasileiros.

Algumas faculdades podem conceder bolsas para estudantes aprovados, mas elas são ainda mais difíceis de conseguir do que as aprovações. Podem ser por necessidade financeira ou por mérito. O International Counselor Jazz Siqueira diz que as anuidades nos Estados Unidos vão de 25 mil a 100 mil dólares, a depender da qualidade da faculdade escolhida. Os valores correspondem a cerca de 135 mil e 500 mil reais.

“O ensino superior nos Estados Unidos é muito elitista, mas o custo de operação das universidades é realmente muito grande, por isso as altas anuidades. Eles fazem muito financiamento de pesquisas, não são só os custos dos alunos da graduação”, diz Guilherme Hohenfeld.

Ele lembra que o valor cobrado da anuidade era de 30 mil dólares para a Minerva, mas ele conseguiu uma bolsa parcial. Explica que pode haver abatimento de mensalidade, empréstimo e ainda oferta de emprego dentro da universidade, com atuação em biblioteca, por exemplo, ou como assistente de pesquisa.

Guilherme Hohenfeld na formatura ao lado de colegas
Guilherme Hohenfeld na formatura ao lado de colegas Crédito: Arquivo Pessoal

Dicas

Guilherme, que se formou no Colégio Militar de Salvador em 2017, aplicou para 10 universidades de fora. Foi aceito em quatro delas. “Você tem que aplicar para universidades que são fáceis de entrar, para as que têm um nível intermediário e para as que são aquelas dos sonhos, muito difíceis”, orienta ele, que foi engenheiro de software da Microsoft e hoje cursa mestrado em astrofísica na Sheffield University, na Inglaterra.

Jazz Siqueira diz que uma boa candidatura é aquela que tem aplicações para ao menos 12 universidades. “O aluno começa com uma lista de 30 e vai cortando até chegar em umas 15. Recomendo cinco mais fáceis, cinco intermediárias e cinco mais difíceis”, indica.

Guilherme conta que a seleção exige, basicamente, exames de proficiência em matemática e inglês, cartas de recomendação de professores, redações sobre a trajetória pessoal e estudantil, boletim do 9º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio e um relatório de atividades extracurriculares. Por vezes, a universidade pode também requerer uma entrevista com o candidato.

“É um processo seletivo holístico, não tem nota de corte. A universidade quer saber se o perfil do aluno se alinha com o perfil dela. Eu recomendo muito que os alunos busquem os sites dessas universidades para conhecer melhor e para mandar e-mail para tirar dúvidas. As instituições têm um setor só para isso, mandem mesmo, eles vão responder e te ajudar”, indica o ex-aluno da Minerva.

Preparação

Heather Freeman diz que o processo seletivo holístico reflete o currículo das escolas brasileiras voltadas para o cenário internacional. As instituições que buscam aprovações de seus alunos no exterior têm uma lógica diferente das que buscam aprovações no Enem e outros vestibulares nacionais baseados em provas.

“No exterior, as faculdades querem realmente conhecer o aluno, o histórico dele dentro e fora da sala de aula. A aprovação é uma consequência de anos de desenvolvimento de habilidades, competências e vivências. Por isso, as atividades extracurriculares são tão importantes. Os alunos vivem e respiram essa preparação holística. Todos eles, mesmo os que escolhem estudar no Brasil porque a Pasb entende que essa é a melhor preparação”, diz.

Como as notas começam a contar a partir do 9º ano, ela alerta que o aluno, nessa etapa, já precisa ter hábito de estudo e autonomia, além de começar a explorar as atividades extracurriculares, com foco em qualidade e, não, quantidade. “Pode ser na área de esporte, arte, projeto social; dentro e fora da escola. Quando o projeto é liderado pelo aluno, melhor ainda para o currículo dele. A gente tem exemplos de projetos de construção de hortas e de educação financeira para mulheres em condição de violência doméstica”, conta a orientadora educacional.

Danielle Tavares compartilha as atividades nas quais se engajou, além de manter as notas altas que sempre teve: “Busquei as coisas relacionadas à comunicação, que era a área que eu queria. Então participei de clube de debate, jornal da escola, grêmio da escola, clube internacional de trabalho voluntário e criei um projeto social para levar workshops de arte e música para as comunidades.”

Jazz Siqueira complementa que o processo é recheado de autoconhecimento. “Essas atividades de enriquecimento curricular, com uma pegada empreendedora, são incentivadas para o aluno se conhecer e achar o seu propósito na vida. A partir disso, a gente traça o projeto de vida e cria o storytelling dele agregado às notas para o processo seletivo”, compartilha.