Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Após oito anos, loja pioneira de cultivo urbano de cannabis medicinal fecha as portas em Salvador

Em meio a preconceitos e entraves legais, a Hortus deixa legado de informação e esperança

  • Foto do(a) author(a) Moyses Suzart
  • Moyses Suzart

Publicado em 1 de novembro de 2025 às 05:00

Após oito anos, loja pioneira de cultivo urbano de cannabis medicinal fecha as portas em Salvador
Após oito anos, loja pioneira de cultivo urbano de cannabis medicinal fecha as portas em Salvador Crédito: Arison Marinho

O tempo é rei, mas nem sempre transforma as velhas formas de viver. Com um olhar para o futuro, a Hortus Cultivo Urbano iniciou um negócio pioneiro na Bahia: uma loja especializada voltada para auxiliar pessoas que precisavam cultivar cannabis medicinal para produzir seus próprios remédios em casa. A esperança era que o avanço na liberação da planta no cultivo medicinal fosse sacramentado e expandisse um mercado que existe em quase todo mundo, menos aqui. Contudo, a visão de negócio não foi acompanhada pelo avanço do tema, que caminhou em passos contrários ao poder medicinal da erva. O resultado? Após oito anos sobrevivendo, a loja vai fechar.

Durante todos esses anos, a Hortus Cultivo Urbano foi um ponto fora da curva no cenário baiano. Em meio ao preconceito, à falta de regulamentação e às incertezas políticas, a loja se manteve como um espaço de informação, acolhimento e formação para quem buscava cultivar cannabis medicinal de forma legal, amparado pela Justiça. Agora, o empreendimento criado por Ricardo Cavalcante Teixeira se despede, levando consigo parte da história recente do cultivo urbano na Bahia.

“Lá atrás, quando abrimos, não havia nada parecido em Salvador, nem no Nordeste”, lembra Ricardo. “Na época, eram umas doze lojas no país inteiro, concentradas em Rio, São Paulo e Curitiba. A Hortus nasceu como uma loja de horticultura, voltada para auxiliar pessoas que precisavam cultivar cannabis medicinal para produzir remédios em casa. Foi uma alternativa para quem não podia pagar mil reais num frasco de óleo vendido pelas grandes farmácias”, conta.

A Hortus era uma alternativa para quem não pode pagar por um tratamento à base de canabidiol. Para se ter uma ideia, quem pode fazer uso, encontra o remédio com valores que chegam a R$ 1.825 nas centenas de drogarias espalhadas por Salvador. Muita gente, então, apelava para medidas judiciais, conseguindo o cultivo no quintal de casa, que levava o remédio a um custo de R$ 50. Imagine a economia para quem faz uso diário. Era aí que entrava a loja, dando todo aparato e informação para o cultivo controlado e voltado para a extração medicinal.

Ela foi pioneira em um setor ainda envolto em tabus, oferecendo insumos, equipamentos e, sobretudo, conhecimento. “A gente trabalhou muito a questão da informação. Muita gente chegava aqui dizendo que só tinha plantado um feijão no algodão no colégio”, conta. “Nosso papel foi ensinar o básico, formar pessoas, ajudar famílias a produzirem o próprio medicamento”, conta Ricardo.

Mas, mesmo com uma base fiel de clientes e uma causa legítima, o cenário se tornou insustentável. Segundo Ricardo, a decisão de fechar foi motivada por um conjunto de fatores: a instabilidade do mercado, a ausência de uma regulamentação clara e a concorrência desmedida que surgiu após a pandemia. “Durante sete anos, não tivemos concorrência em Salvador. Depois da pandemia, o número de lojas explodiu. Depois, com a dificuldade e o mercado voltado apenas para os grandes do agro e das farmas, não deu para os pequenos. Quando o lucro começa a empatar e o investimento de tempo e exposição pesa, é hora de reavaliar”.

A indefinição política também pesou. As eleições presidenciais do próximo ano vão definir se a pauta avança ou vai retroagir. Além disso, Ricardo alerta para um movimento preocupante no rumo da legalização: quem vai lucrar em caso de regularização? “O projeto que está sendo analisado no Planalto exclui totalmente a pessoa física. Eu não posso plantar um medicamento pra mim se não tiver autorização da Justiça. É preciso enfrentar a justiça, conseguir autorização, para só depois plantar. Olha a burocracia. Como os pequenos vão competir com os grandes, que também querem a legalização, mas nos seus moldes”, explica Ricardo.

“Mesmo os pequenos produtores que forem pessoa jurídica vão ter dificuldade em competir com os grandes, por causa das exigências e custos. Vai ter o canabidiol na farmácia, o cânhamo no campo, mas a cannabis medicinal plantada em casa vai continuar proibida. É insustentável”, completa.

A loja segue aberta com promoção de até 70% de desconto, como estufa, adubos e outros insumos. Ele não vende a planta, semente, nada da maconha. Os equipamentos inclusive servem para cultivo de qualquer verde em área urbana, como pimenteira, por exemplo.

Com o fechamento da Hortus, famílias e pacientes que dependiam da loja deverão recorrer à internet ou às associações locais para seguir com seus tratamentos. Ricardo acredita que o espaço deixado será, cedo ou tarde, ocupado por outros. “Alguém mais esperançoso com a legalização vai vir e ocupar o lugar da Hortus. Mas o legado que a gente deixa é o da formação, da informação e do respeito às famílias que precisam. A loja fecha, mas a semente continua”.

Após oito anos, loja pioneira de cultivo urbano de cannabis medicinal fecha as portas em Salvador por Arison Marinho

Tags:

Cannabis