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Moyses Suzart
Publicado em 10 de agosto de 2025 às 05:00
No lugar do suplemento pré-prova, um Engov. Na segunda edição da Corrida do Baiano, o que menos importava era o pódio ou o tempo que você fazia na prova. A missão era saber se você tinha disposição para beber cerveja enquanto corria, ou vice-versa. O modelo até parece igual às demais: distância única, de 5k, partindo do Farol da Barra e retornando em Ondina. Contudo, no lugar de “algumas águas”, como constava no regulamento da competição, o ponto de hidratação tinha muita, muita cerveja. >
Depois da prova? No lugar da tradicional banana na chegada, o corredor era recepcionado com mais cerveja. Litros. No total, foram 1.200 latas só durante a corrida, mais cerca de 1.300 litros de chopp no pós. E teve gente que achou pouco. >
“Quando eu corro, costumo tomar algum pré-treino, mas neste foi Engov. Me sinto pronta para correr. Ou beber. Não sei, são 7h30 e já estou bebendo”, disse a advogada e corredora amadora, Raphaela Castro, enquanto tomava seu Engov com um gole de cerveja. Sua amiga, Cristianne Zanirato, fazia o mesmo e ainda conseguia aquecer para evitar qualquer lesão durante a prova. “Bate certo”, resumiu.>
Em provas normais, um atraso de cinco minutos gera até vaias por parte dos corredores. Na Corrida do Baiano, que era para começar às 8h, o relógio já apontava 8h40 e o sorriso do povo continuava o mesmo. Claro, desde às 7h30 já estava liberada a gelada. “Pode atrasar mais”, gritou um corredor. O motivo do atraso era que ocorria, no mesmo local, uma corrida de Triathlon. Não iria dar certo cervejeiros e ciclistas no mesmo circuito. Prudência é tudo.>
A largada foi como esperado. Até o primeiro ponto de hidratação, o povo corria no desespero, como nas provas tradicionais. O interessante, para quem está acostumado com provas de rua, foi ver tanta cerveja onde tradicionalmente é água ou isotônico. “Vou ficar por aqui mesmo”, disse um corredor, ao pegar uma latinha e abrir. Ele sentou e começou a apreciar sua gelada enquanto outros corredores viam aquilo, atônitos. “Que corrida é essa, gente? Também quero cerveja!”, gritava uma moça, mera mortal com seu cardio dominical assustada com tanto pinguço correndo e bebendo como um Opala 64. >
“É uma corrida que não exige eficiência, não é rigorosa na fiscalização, o cara pode ir andando, de patinete ou bicicleta. Visa apenas o entretenimento. A pessoa pode beber sua cervejinha andando ou correndo pela orla, sem problema nenhum”, explica o fundador da corrida, Cristiano, O Baiano. “Em média, disponibilizamos 3,5 litros por pessoa. Mas ninguém é obrigado a beber tudo, é uma coisa leve, sem pressão”, completa.>
A corrida já é um sucesso entre corredores que bebem. Na primeira edição, realizada em abril deste ano, foram 200 inscritos. Na edição atual, que ocorreu no último domingo, foram 410 pessoas inscritas, mesmo sem grandes patrocinadores. >
“Nosso público não sai de casa para performar. Mas é muito difícil fazer uma corrida desse naipe, viu. As marcas não querem associar suas imagens a uma corrida sem fins esportivos”, disse. >
Pura bobagem. Depois da corrida, o clima parecia uma festa de largo de camisa colorida, com a banda Axé das Antigas. Zero confusão e muita confraternização. Em plena manhã de domingo, o povo bebia e celebrava o esporte. O corredor Siri, já em alta rotatividade, chegou a pegar a guitarra do cantor para uma canjinha. Acabou ficando mais de meia hora no palco cantando Chiclete com Banana (da época de Bell), enquanto o cantor tomava uma com a galera. >
A festa se estendeu até 13h30 daquele dia etílico. A cerveja parecia não ter fim e a única dúvida era quando seria a próxima corrida. “A terceira edição já é uma realidade. Teve gente querendo pagar antecipado. Mas precisamos de uns cinco meses para descansar e programar. A próxima deve ser no verão, provavelmente no início de 2026, para mil pessoas”, avisa Baiano.>
Se o pace foi alto ou baixo, ninguém sabe, só o relógio Garmin. Mas que teve litrão, música e gente feliz correndo na contramão do tédio, isso ninguém duvida. E o melhor: a medalha foi um abridor de garrafa. >