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Ronaldo Jacobina
Publicado em 6 de setembro de 2025 às 10:00
A Temporada França – Brasil 2025, que celebra os 200 anos de relações bilaterais entre o Brasil e o país europeu, movimentará centenas de linguagens culturais em eventos a serem realizados em 15 cidades brasileiras até dezembro próximo. Serão espetáculos, exposições, música, audiovisual e, claro, a gastronomia não poderia ficar de fora. Pelo lado de cá do Atlântico, mais precisamente na Bahia, diversos eventos conectarão os dois países e, claro que não poderia faltar uma de nossas grandes riquezas, a gastronomia. Focado na culinária transatlântica, o projeto Cozinhas de l'Extraordinaire envolve 10 chefs afrodescendentes baianos e franceses que cruzam o Atlântico e invadem a Bahia e a França com aromas, sabores, tradição e inovação. Este intercâmbio gastronômico iniciado em agosto último e que vai até novembro próximo, acontece em quatro cidades: Paris, Marselha, Salvador e Ilhéus. >
A troca de experiências propõe transformar cozinhas em territórios de memória e inovação, levando a força da culinária baiana para a França e trazendo chefs franceses para descobrir a Bahia. Isso com um molho feito com ingredientes que preservam as tradições e estimulam as pesquisas através de atividades como jantares colaborativos, workshops, vivências e festivais, onde chefs consagrados trocam experiências sempre valorizando ancestralidade e inovação.>
Parte da primeira etapa envolveu o chef Alicio Charoth, pesquisador baiano e criador do restaurante Maria Matamouro, que desembarcou em Marselha, na Provence, para uma residência gastronômica no restaurante Grandes Tables de la Criée. Durante um mês ele assinou o cardápio da casa batizado de Ajeum Bahia – termo que, em iorubá, significa refeição, evocando ancestralidade, partilha e espiritualidade. Mais que comida, Charoth levou para a França a memória, o território e a resistência da culinária baiana - dos terreiros aos quilombos, das ruas de Salvador ao Recôncavo e ao Sertão.>
Lá o baiano se junta a outros chefs brasileiros radicados na França. Ao lado de Danielle Barbosa (restaurante Bucado), Débora Cavalcanti Bandeira e Flavio de Lima (Racines do Brasil) – ele participa do Festival Kouss•Kouss, que celebra as múltiplas versões do cuscuz, prato símbolo de trocas culturais entre África, Europa e América. Depois Charoth seguirá para pesquisas atravessando diferentes regiões francesas até chegar a Saint-Denis, onde participa, na fazenda urbana Zone Sensible, da preparação do almoço Le Grand Partage ao lado do artista plástico Olivier Darné e do coletivo Parti Poétique.>
E não para por aí. No próximo dia 13 de setembro, três poderosas chefs baianas desembarcam em Marselha para dar continuidade ao Cozinhas de l'Extraordinaire. Ana Célia (Zanzibar), Preta (Preta) e Solange Borges Culinária de Terreiro irão encarar uma maratona de jantares colaborativos, demonstrações culinárias e encontros com chefs locais, levando a diversidade e a força da gastronomia afro-baiana ao público francês. >
A parte francesa do intercâmbio termina com o encontro de Charoth com as conterrâneas no Festival Food Temple, em Paris, que acontece de 18 a 21 de setembro. Juntos eles receberão o chef franco-brasileiro Kaywa Hilton para celebrar a força do cuscuz, iguaria símbolo de trocas culturais entre África, Europa e América. Em novembro o projeto entra na segunda etapa que é quando a França encontra Salvador recebendo os chefs franceses Hugues Mbenda (restaurante Kin, Marselha), Georgiana Viou (restaurante Rouge, Nîmes), Glory Kabé (chef nômade) e Naomie Martino (Martino Chocolat). A turma se reúne para uma agenda repleta de jantares colaborativos e vivências gastronômicas. Mas essa parte eu conto pra vocês depois numa segunda reportagem.>