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Como a Bahia se tornou a segunda maior produtora de banana, a fruta mais popular do Brasil

Estado teve ponto de virada nos anos 1970; hoje, com a economia do bem-estar, a banana está ainda mais 'na moda'

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 6 de dezembro de 2025 às 05:00

Bahia é a segunda maior produtora de bananas do Brasil
Bahia é a segunda maior produtora de bananas do Brasil Crédito: Pexels

Os povos originários que viviam no território que hoje corresponde à Bahia já cultivavam a banana bem antes de os portugueses aportarem aqui. Mas se a chamada bananicultura remonta ao século 17 no país, foi a partir dos anos 1970 que houve uma virada de chave para que a Bahia se tornasse o segundo maior produtor brasileiro de uma das frutas mais consumidas do mundo.

Foi somente nos anos 1970 que a irrigação começou a ser implementada, inicialmente no Projeto Formoso, um programa piloto em Bom Jesus da Lapa, que até hoje é o sexto município que mais produz no Brasil. Só no ano passado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram 133 mil toneladas.

A banana oferece energia rápida, fibras e minerais que ajudam no dia a dia por Imagem: Farion_O | Shutterstock

"O cultivo de banana e de banana-da-terra na Bahia é muito antigo e se deve, em especial, às condições ambientais muito favoráveis para a fruta, com altas temperaturas durante o ano, elevada insolação e regime de chuva adequado. No caso de Bom Jesus da Lapa, local com baixa precipitação, a suplementação de água via irrigação é o grande diferencial para altas produtividades, pois é possível atender plenamente às necessidades diárias de água das plantas", explica o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura Edson Perito Amorim, que é coordenador do Programa de Melhoramento Genético de Banana e Plátano da Embrapa.

Desde o começo do uso da irrigação em Bom Jesus da Lapa, o uso da tecnologia só cresceu, como explica o gerente regional da Pivot Irrigação, João Morais. A empresa revende os pivôs (os sistemas mecanizados que distribuem água sobre o plantio) Lindsay, marca que é líder mundial em irrigação no agronegócio.

"A irrigação entrou na bananicultura para permitir que os produtores pudessem controlar o volume de água e os nutrientes na cultura. Se a gente considerar que a distribuição de chuva ano a ano, além de diminuir a quantidade, vem ficando mais esparsas ou chovendo muito próximo, a cultura não consegue absorver e não tem o desenvolvimento que deveria", explica.

Hoje, de acordo com Morais, os principais sistemas de irrigação usados para a banana são a irrigação localizada e o pivô central. Depois da região de Bom Jesus da Lapa, entre a década de 1990 e os anos 2000, o projeto de irrigação se expandiu para a área de Juazeiro e Petrolina (PE), assim como para a fruticultura em geral. Mas, na Bahia, hoje, os principais produtores de banana são os municípios de Wenceslau Guimarães, Teolândia, Curaçá e Presidente Tancredo Neves.

Nos últimos anos, o consumo da banana cresceu e ainda se tornou uma tendência, em meio ao crescimento da economia ‘wellness’, que tem foco em saúde e bem-estar. Segundo a médica nutróloga Suzana Viana, que tem formação em gastroenterologia, a banana viralizou não por ser uma novidade, mas por se encaixar perfeitamente no estilo de vida moderno.

Ela explica que, com mais gente buscando alimentos naturais, acessíveis e funcionais, mais pessoas redescobriram a banana como um “superalimento do cotidiano”. Ao mesmo tempo, há o boom do fitness e dos pré-treinos naturais. "Muita gente trocou barras e produtos industrializados por combos como: banana e pasta de amendoim, banana e whey, bananas congeladas para bater em smoothies. Virou símbolo de simplicidade eficaz", diz Suzana.

Vídeos em redes sociais, como Reels do Instagram e os conteúdos do TikTok também ajudaram a popularizar receitas com bananas, como panquecas, os overnight oats (pudins de chia e aveia), bolinhos de airfryer e sorvete natural. "É fácil, barato e esteticamente bonito, o que pesa muito nas redes", acrescenta a médica.

Vitamina de mamão, banana, granola e aveia (Imagem: Giovani Dressler | Shutterstock) por Imagem: Giovani Dressler | Shutterstock

Combinação

Por ano, a Bahia produz cerca de um milhão de toneladas de banana. Em 2023, segundo a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (Seagri), foram 913 mil toneladas, o que deixa o estado apenas atrás de São Paulo. Esse desempenho é motivado pela combinação de fatores geográficos, climáticos, hídricos e de investimento, como aponta o diretor de Desenvolvimento da Agricultura da Seagri, Assis Pinheiro Filho.

Uma vez que o estado tem um clima diversificado, agregando regiões tropicais e subtropicais, é possível plantar o ano inteiro e garantir uma oferta constante. "A bananeira, uma planta tropical, exige calor constante, com a faixa ótima de temperatura entre 26ºC e 28ºC, e elevada umidade. O clima da Bahia, especialmente nas regiões produtoras, atende a estas exigências", explica Pinheiro Filho.

Ter estações secas e chuvosas bem definidas também ajudou, além da quantidade significativa de luz solar o ano inteiro, na avaliação do produtor de fruticultura Márcio Oliveira, que é diretor de fruticultura da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). Ele cita, ainda, a oferta de água, através de rios e poços, e o relevo com predominância de solos planos e profundos, que facilitam a mecanização.

"Além disso, o perfil do produtor de nossa região é um perfil arrojado, empreendedor, que investe em tecnologia. Somando o perfil do produtor daqui às condições de clima e solo já mencionadas, a gente consegue ter as melhores bananas do país", defende.

As principais variedades daqui são as bananas da prata e nanica, mas também há produção de banana-da-terra. "A média da banana prata gira em torno de 30 a 35 toneladas. Já a média banana nanica gira em torno de 50 a 55 toneladas", pontua o gerente de Agronegócios da Aiba, Aloísio Júnior, referindo-se especificamente ao que é produzido no oeste da Bahia. Outro polo produtor é o Sul do estado, onde a banana-da-terra tem mais força.

A banana-maçã, hoje, vem cedendo espaço para a cultivar desenvolvida pela Embrapa chamada BRS Princesa. Com um sabor muito semelhante, essa variedade é resistente às principais pragas que afetam a espécie. A produção principal também é no Sul baiano.

Para onde vai

As bananas baianas abastecem principalmente o mercado nacional. De acordo com Assis Pinheiro Filho, da Seagri, os produtores atendem a diversos nichos de mercado: desde o consumo in natura até o uso na culinária regional (especialmente a banana-da-terra) e ao desenvolvimento de variedades resistentes a pragas.

"A proximidade com grandes centros consumidores do Nordeste e a infraestrutura logística de portos e rodovias facilitam o escoamento da produção tanto para o mercado interno quanto para o potencial mercado externo", diz. As frutas são distribuídas para 22 estados, além do Distrito Federal e países do Mercosul.

Além do potencial para o consumo in natura, o pesquisador Edson Perito Amorim, da Embrapa Mandioca e Fruticultura, destaca a possibilidade de usá-las na indústria de processamento, como as que produzem banana chips, barras de banana ou mesmo doces. "A produção de banana na Bahia faz uso muito baixo de produtos químicos no cultivo e, por esse motivo, a fruta tem alta qualidade e segurança para a alimentação humana. É um grande diferencial em termos de segurança alimentar e preservação da saúde do consumidor", reforça. Atualmente, segundo a Aiba, entre 3% e 4,5% da produção é industrializada.

Para o produtor de fruticultura Márcio Oliveira, da Aiba, a fruta baiana é superior tanto na cor quanto no sabor. Segundo ele, pelo investimento em tecnologia, os produtores locais conseguem atingir um maior teor de brix - ou seja, o teor de açúcar, que indica a doçura da fruta.

Ele destaca o quanto é consumido por brasileiros e baianos. No país, das cerca de sete milhões de toneladas produzidas por ano, cinco milhões de toneladas são consumidas pelos próprios brasileiros. "É uma média de consumo per capita em torno de 25 quilos por ano. Isso torna a banana a fruta mais consumida pelos brasileiros e explica muito da força que é essa fruta em todo o país, da força que é essa fruta no oeste da Bahia".

Desafios

Mas, ainda que seja um destaque nacional, a produção da Bahia ainda apresenta entraves e desafios. Muitos desses problemas não se restringem à Bahia, mas ao Brasil, a exemplo da presença da Sigatoka-negra, uma doença fúngica que é considerada a maior praga da cultura da banana. Ela afeta as folhas, reduz a fotossíntese e, como consequência, reduz a produtividade. "Há controle químico disponível, por meio de fungicidas, mas o custo pode ser proibitivo para pequenos produtores", diz o pesquisador Edson Perito Amorim, da Embrapa..

Outra questão é a murcha de Fusarium. "É um fungo que causa o mal-do-Panamá, uma doença devastadora para a bananicultura mundial, especialmente para cultivares como a Cavendish. É considerada pelo Ministério da Agricultura uma praga ausente no país, mas com risco potencial devastador, pois ataca o sistema vascular da bananeira, levando à murcha e morte das plantas. É difícil de erradicar por ser resistente e sobreviver por décadas no solo", destaca Aloísio Júnior, da Aiba. Não existe controle químico para a Fusarium, de modo que uma das indicações é usar cultivares resistentes.

Outro desafio afeta diretamente a irrigação: a questão energética. "A Bahia não conta com energia suficiente para atender todos os produtores. Se a Bahia conseguisse atender a parte de energia para o agro, com redes de estações disponíveis mesmo, a produção seria maior. Hoje, falta muita energia no campo. Sempre que chega uma demanda, já está comprometida. Se a concessionária disponibilizasse quase quatro, cinco vezes mais do que o atual, com certeza estaria contratado", diz João Morais, da Pivot Irrigação.

Só para dar uma ideia, o plantio irrigado consegue produzir a partir de 40 toneladas de banana por hectare, enquanto o plantio no sequeiro, ele estima que sejam cerca de 10 toneladas por hectare, com o volume de chuva atual e a sazonalidade. "Esse plantio em larga escala só foi possível pela irrigação, que consegue controlar também a qualidade da banana, reduzindo a incidência de pragas. Não é apenas a parte hídrica, mas também insumos, adubo e até defensivos com a fertirrigação.

Para Assis Pinheiro Filho. o principal desafio para que a produção da Bahia cresça mais ainda é a seca, apesar das soluções tecnológicas já disponíveis no mercado. Ele cita projetos da Seagri, em parceria com a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia, a Embrapa e o Sebrae para atuar em aspectos como a defesa fitossanitária, a capacitação de produtores, a fiscalização e a prevenção de pragas. Um dos principais programas é o Plano Safra Bahia 2025/2026, que destina recursos para assistência técnica, incentivo à produção sustentável, acesso a crédito com juros reduzidos e entrega de máquinas e equipamentos agrícolas.

Prática e acessível, banana virou parte da cultura

A banana se tornou um dos alimentos mais frequentes na dieta dos brasileiros. Entre alguns dos motivos para isso, estão a praticidade, o fato de ser bastante nutritiva e o quão ela é acessível. Como lembra a médica nutróloga Suzana Viana, que tem formação em gastroenterologia, a banana tem vantagens por ter preços estáveis, estar disponível o ano inteiro e poder ser comprada em vários locais - na feira, no mercado, em mercearias e padarias e até no mercado.

“É prática: não precisa lavar, descascar é rápido, não exige refrigeração, cabe na bolsa e resolve aquela fome inesperada.Também é nutritiva sem frescura: oferece energia rápida, fibras e minerais que ajudam no dia a dia, especialmente para quem treina”, diz.

Além disso, a banana já faz parte da cultura, por estar presente em refeições como o café da manhã, mas também no pré-treino antes das atividades físicas e no lanche das crianças.

A nutricionista Luciana Labidel, que é professora de Nutrição, explica que a banana se consolidou também porque a variedade permite diversas formas de consumo e diferentes preparações. Com a banana, é possível adoçar receitas e até substituir o açúcar em alguns contextos, quando a fruta está bem madura.

"Ela é fonte de carboidrato de rápida disponibilidade energética, por isso é muito usada na hora de fazer atividade física. Mas ela também ajuda na recuperação energética. Por isso, nas corridas (de rua), ela está sempre presente", diz.

A banana também é rica em potássio, que é um mineral essencial para funções do organismo, como a regulação da pressão arterial e a regulação muscular. Além de ser fonte de fibras, outra vantagem é que ela tem triptofano.

"É uma substância que ajuda na regulação do humor, do apetite, do sono. Para quem tem insônia, é recomendado comer uma banana umas duas horas antes de dormir, porque ajuda na liberação do triptofano”, afirma Luciana.

Entre as variedades, a médica nutróloga Suzana Viana destaca que a banana prata é a ‘queridinha’ pelo sabor suave e menos doce, além de ser rica em potássio, magnésio e fibras, com menor índice glicêmico. Já a banana nanica é mais doce e mais aromática, bem como rica em triptofano. Ela também tem mais açúcar natural, o que concede energia rápida

Já a banana-da-terra, que geralmente é cozida ou frita, é mais rica em amido resistente, o que melhora o funcionamento intestinal e ajuda no controle da glicemia, segundo a médica. “Tem alto teor de potássio, mas libera energia mais devagar. Muito usada para purês, assada, empanada, então é boa para refeições principais, substituindo carboidratos refinados, concedendo equilíbrio e saciedade”, explica a nutróloga.

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Bahia Agro Economia