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Thais Borges
Publicado em 19 de novembro de 2025 às 05:00
Tereza de Benguela, Luislinda Valois, Jaqueline Góes, Beatriz Souza, Chiquinha Gonzaga, Grada Kilomba, Rebeca Andrade e uma lista com quase 40 mulheres negras. Esses são só alguns dos nomes escolhidos para um projeto que reúne educação, representatividade, diversidade e histórias de ancestralidade. Mais do que brinquedos, o projeto Bonecas Negras transformou o exemplo dessas mulheres em materiais didáticos antirracistas. >
Idealizado pela historiadora, escritora e educadora Daniela Torres, o projeto é desenvolvido pelos alunos do 1º ano do Ensino Médio do Colégio Villa Global Education nas unidades Paralela e Litoral Norte, de forma simultânea. De acordo com Daniela, a iniciativa nasceu a partir de seus estudos enquanto professora. >
Projeto Bonecas Negras destaca mulheres negras importantes em suas áreas
“Comecei a perceber, na condição de educadora e de mãe, que as crianças negras estavam crescendo sem se ver representadas e que as mulheres negras não faziam parte das narrativas oficiais. Esse protagonismo da luta acabava não sendo visível. Comecei a pensar em como trabalhar a educação antirracista de uma forma realmente transformadora”, diz. >
A pesquisa, criação e confecção das bonecas se deu ao longo do ano letivo, nas aulas de História, e, neste mês, estão na exposição ‘Mulheres Excluídas das Narrativas da História', nos colégios. Até esta quarta-feira (19), elas podem ser conferidas tanto na entrada principal da unidade Paralela quanto em frente ao Black Box da unidade Litoral Norte. A programação, que vai das 7h às 18h, é aberta à comunidade e inclui a Feira Preta, que promove o empreendedorismo e a valorização da produção cultural. >
Após a exposição, em dezembro, as bonecas serão entregues a escolas quilombolas da Rota da Liberdade, em Cachoeira. Lá, ficarão sob a guarda de professores para serem usadas durante as aulas, como instrumentos pedagógicos. O projeto inclui a visita dos próprios alunos, além de um intercâmbio de experiências: enquanto as educadoras quilombolas recebem as bonecas e as incorporam às aulas de História e Cultura Afro-Brasileira, os estudantes do Villa podem conhecer de perto a realidade das comunidades.>
“Apresentei esse projeto para desenvolver empatia, acolhimento e um olhar sobre o outro. O lúdico, na educação, conecta muito. A gente consegue juntar autoestima racial, história, cultura, arte e território no espaço em que deve acontecer isso, que é a escola”.>
O primeiro passo foi identificar, com os alunos do Ensino Médio, quem eram mulheres que foram inviabilizadas em narrativas oficiais e, a partir disso, trazê-las para o cotidiano dos estudantes. Os alunos fizeram pesquisas e, em grupos de três ou quatro integrantes, fizeram desenhos para representar como imaginariam a boneca de cada uma dessas mulheres. Isso inclui buscar conhecimentos sobre cabelos, expressões, tom de pele e aspectos que remontavam a outros períodos, como os séculos 18 e 19, no caso das que viveram em outros contextos históricos. >
A ideia, segundo a professora, era entender essa estética em meio a conceitos como racismo estrutural e ditadura da beleza. Com os desenhos prontos, os estudantes encomendavam essas bonecas a uma artista plástica empreendedora (ou, em alguns casos, algumas foram feitas pela própria família). >
“Eles pegam o histórico do protagonismo dessa mulher e escrevem um texto para montar essa boneca de uma forma inspiradora. Quando a boneca retorna, ela é colocada na caixa e, posteriormente, vai para doação”. >
Essa segunda etapa foi pensada para exercitar a educação antirracista fora dos muros da escola, de acordo com Daniela. Além disso, o objetivo da doação não era fazer caridade. “A gente quer que a boneca seja como um livro 3D que conta a história dessa mulher. É um material pedagógico, assim como os livros são”, explica. >
As mulheres escolhidas para serem bonecas são diferentes das que foram selecionadas no ano passado. Como é um projeto pensado para continuar nos próximos anos, a professora conta que a ideia é sempre trazer novos nomes. Outros exemplos de bonecas são Dona Ivone Lara, Zeferina, Adélia Sampaio, Mariana Crioula e Maria Firmina dos Reis. >
“A gente não precisa repetir nenhuma mulher e a gente pode entender como muitas mulheres ainda são invisibilizadas e como o racismo apaga a mulher negra”. >