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Roberto Midlej
Publicado em 18 de maio de 2025 às 09:57
Definitivamente, não há limites para a nostalgia. E Vitor Silva Rios é a prova disso. Enquanto praticamente todo mundo já aderiu ao streaming e não tem em casa sequer um aparelho de DVD, este baiano de 36 anos tem um acervo de mais de 600 títulos em VHS, cuidados como joias.
Para quem não lembra, vamos a uma viagem no tempo: VHS é aquela fita que armazenava filmes que eram inseridos num videocassete e eram exibidos naquelas TVs de tubo que pesavam uma tonelada e tinham uma qualidade de imagem sofrível.
Mas, para Gigito - como Vitor é conhecido -, não basta colecionar: é preciso dividir essa paixão com os outros devotos do videocassete e, para isso, ele mantém no YouTube o canal VHS Break, onde revela detalhes de seu hobby. No Instagram, ele tem um perfil de mesmo nome. No YouTube, os seguidores acompanham, por exemplo, a saga que o colecionador realiza atrás de seus títulos mais cobiçados, visitando os sebos mais empoeirados do país ou as banquinhas nas ruas de uma cidade qualquer.
Aliás, nem sempre Gigito vai atrás de um filme: é que ele, como todo colecionador de verdade, tem os seus fetiches. E o fetiche dele são aquelas fitas caseiras que a gente usava para gravar a programação da TV. E, de preferência, que não tenham a etiqueta que identifique o conteúdo. Gigito gosta mesmo é de comprar “no escuro” e se surpreender com o que tem gravado ali.
E mais: muitas vezes, ele conhece o conteúdo daquelas fitas ao vivo com seus seguidores, nas lives que realiza às 20 horas das quartas-feiras. Numa dessas, foi surpreendido com um filme pornô. Imediatamente, Gigito interrompeu a exibição. Houte também a vez em que descobriu um julgamento realizado em Ilhéus, cidade litorânea do sul da Bahia.
Gigito lembra com empolgação o que tinha naquela fita: “Todo o julgamento foi filmado e você consegue ouvir tudo. Mostra até os advogados reunidos num almoço. Ficamos sabendo que era o caso de um senhor que, numa briga de bar, matou um homem com uma facada”. O tesouro foi encontrado numa banquinha que fica no Largo Dois de Julho, no Centro de Salvador.
Numa outra ocasião, exibiu para os seguidores uma fita que era a gravação de lua de mel de um casal. “No meio da live, alguém percebeu que o noivo era um jogador famoso, que jogou no Santos e na Seleção Brasileira. Entrei em contato com o jogador e contei a ele o que tinha acontecido”, diverte-se Gigito, lembrando da história.
Com quase 14 mil seguidores em três anos de canal, ele já criou uma boa rede de contatos com outros colecionadores. Há até aqueles que pagam para se tornarem membros do canal e terem acesso a conteúdos exclusivos. Hoje, não é raro Gigito receber doações de gente de todo o país. Foi assim que recebeu o presente dos sonhos: um videocassete lacrado.
Claro que Gigito não ia perder a chance de fazer um vídeo mostrando sua emoção abrindo o mimo recebido. “Estou sem palavras! Estou sem palavras!” é tudo que ele consegue dizer, como uma criança que se emociona ao receber de Papai Noel o videogame que sempre sonhou ter. Houve ainda um outro que mandou para ele nada menos que 12 quilos de fitas de VHS.
Entre os filmes, há um nicho que interessa especialmente a Gigito: o terror, principalmente aquele produzidos entre os anos 1980 e 1990. Para ele, o VHS, com sua imagem de baixa definição e muitas vezes escura, combina perfeitamente com o seu gênero preferido. “Tanto que tem filmes que tenho muita vontade de ver e poderia assistir em formato digital. Mas só vou ver quando conseguir o VHS”, garante.
Uma das preciosidades de sua coleção é considerado um clássico para os amantes do terror: o italiano Mundo Canibal, de 1977. É também um dos títulos que custou mais caro na coleção de Gigito: R$ 150. Na mesma compra, ele adquiriu títulos como Cujo, baseado em livro de Stephen King, e Pinóquio, o Perverso (1996), uma versão terrorífica do boneco de madeira que virava humano.
No Instagram, a grande atração de Gigito são as filmagens que ele faz em VHS. E que fique claro: não se trata de um filtro para simular a gravação neste formato. Ele realmente tem uma câmera de vídeo em que registra, por exemplo, uma visita a um fliperama que ainda existe. Fliperama filmado em VHS?! Pronto, a viagem aos anos 90 está completa!