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COP30 termina sem acordo: Europa ameaça veto e cientistas falam em traição

Países que dependem do petróleo bloqueiam avanços sobre o fim dos combustíveis fósseis em documento final conferência

  • Foto do(a) author(a) Donaldson Gomes
  • Donaldson Gomes

Publicado em 22 de novembro de 2025 às 05:00

Encontro caminha para o fim sem definição sobre combustíveis fósseis Crédito: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Ninguém esperava que a COP30 terminasse com uma grande resolução. Estava fora do script inicial a ideia de uma resolução semelhante ao Acordo de Paris, que estabeleceu metas para limitar o aquecimento global. Aí o governo brasileiro e seus representantes alimentaram a ideia de lançar um mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis e agora vai sair de Belém com uma derrota no colo. As conversas em relação ao assunto esfriaram na manhã da última quinta-feira (20). Países que são muito dependentes do petróleo, como a Arábia Saudita e a Índia, bloquearam as conversas.

No final da tarde desta sexta-feira (21), representantes da União Europeia indicaram que podem bloquear o acordo final da conferência caso o rascunho divulgado pela presidência brasileira seja mantido. O documento sequer menciona a questão dos combustíveis fósseis. Mais cedo, o comissário europeu de Clima, Wopke Hoekstra, afirmou numa reunião fechada que o novo texto da conferência “não tem ciência, não tem transição e mostra fraqueza”, segundo o discurso cuja íntegra foi divulgada pela Comissão Europeia.

“Então, vou ser igualmente claro. Em nenhuma circunstância nós vamos aceitar isso. E nada que chegue sequer perto disso — e digo isso com dor no coração — nada que se aproxime do que está na mesa agora”, disse Hoekstra.

Incêndio atingiu pavilhão da COP30 por Reprodução/Redes sociais

Nos bastidores havia expectativas das conversas esquentarem novamente no decorrer do dia, mas a única fonte de calor na Blue Zone do Parque da Cidade, em Belém, veio do incêndio parcial no local. Por sinal, boa parte do noticiário sobre a COP30 na sexta dizia respeito ao trágico incidente. Um dos acordos esperados no encontro, entre os países da Oceania e a Organização das Nações Unidas (ONU), precisou ser assinado em uma padaria da capital do Pará.

Nesta sexta (21), peritos da Polícia Federal (PF), especializados em incêndio, foram enviados a Belém para concluir o laudo de perícia das causas do fogo na COP 30. Desde quinta, a PF está a cargo da investigação.

Segundo o meteorologista e pesquisador Carlos Nobre, referência internacional em Amazônia e mudanças climáticas, as primeiras informações indicam que o incêndio não foi criminoso, mas fruto de um curto circuito. “Foi a primeira COP em que houve um incêndio. Simbolicamente, o fogo representa a destruição do planeta, vamos torcer para que o rascunho da declaração do documento, do mutirão que foi lançado hoje (sexta-feira) continue com as negociações porque não está no rascunho que temos que zerar rapidamente o uso de combustíveis fósseis”, diz o cientista.

Para Nobre, as definições em relação ao fim do desmatamento são insuficientes. “Está muito bem que temos que zerar todos os desmatamentos de todas as florestas tropicais do mundo, de todos os biomas, mas precisamos avançar em relação aos combustíveis fósseis, já que 75% das emissões são fruto da queima de combustíveis fósseis”, destaca.

A carta divulgada por cientistas climáticos reunidos no pavilhão Ciência Planetária foi ainda mais dura em relação ao assunto. O grupo considerou a omissão do assunto como uma traição. “As palavras ‘combustíveis fósseis’ estão completamente ausentes do texto mais recente. Isso é uma traição à ciência e às pessoas, especialmente às mais vulneráveis, além de totalmente incoerente com os objetivos reafirmados de limitar o aquecimento a 1,5°C e com o quase esgotamento do orçamento de carbono”, aponta o comunicado. O grupo acredita que é impossível limitar o aumento da temperatura sem acabar com o uso de combustíveis fósseis.

A ministra de ambiente da Colômbia, Irene Velez, anunciou que realizará um encontro paralelo aos eventos da Convenção do Clima da ONU. Segundo ela, a proposta conta com o apoio de 30 países. A conferência paralela já tem lugar e data marcados, em Santa Marta, no Caribe colombiano, em 28 e 29 de abril de 2026, organizada em parceria com o governo da Holanda.

Apesar da decepção causada pelo rascunho do documento, houve avanços. Segundo especialistas, a menção à criação de um diálogo sobre ações comerciais tomadas contra países sob o pretexto de combater mudanças climáticas, além de referências a afrodescendentes e questões de gênero, podem ser avaliados como vitórias. O pacote Belém Action Mechanismo, que trata das questões do trabalho em um cenário de transição para uma economia mais verde, é igualmente visto como um ponto positivo, além dos avanços nos direitos territoriais de povos indígenas.

No entanto, a falta de equilíbrio entre os textos e o debate a respeito do financiamento necessário para que países mais pobres consigam alcançar as metas do Acordo de Paris ainda representam um grande desafio para as negociações.

Na abertura dos trabalhos desta sexta-feira, o presidente da COP, André Corrêa do Lago, disse que é preciso superar a divisão que se instaurou, sem citar diretamente o tema do mapa do caminho, mas reforçando a necessidade de cooperação. Ele mencionou a saída dos Estados Unidos sem citá-los nominalmente. Segundo Corrêa do Lago, se não houver consenso, todos sairão perdendo, pois não será possível cumprir as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris.