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Maria Raquel Brito
Publicado em 17 de setembro de 2025 às 06:00
O quiabo será o vilão do caruru este ano. Tradicionalmente mais caro em setembro na Bahia devido às comemorações de São Cosme e Damião, a hortaliça está ainda mais salgada em 2025: o saco com 25kg, que custava R$100 em 2024, este ano tem saído por R$150. Os dados são de boletins informativos do Centro de Abastecimento da Bahia (Ceasa). >
O aumento sentido na pele pelos vendedores e pelos consumidores finais é ainda maior. Na Feira de São Joaquim, por exemplo, o cento, que normalmente é encontrado por, em média, R$12, agora sai por R$20. Já o saco, vendido por até R$80 em dias comuns, estava a R$200 nesta terça-feira (16). E isso no período mais fraco do mês – de acordo com os comerciantes, com base nos anos anteriores, o encarecimento vem mesmo no início e no fim de setembro. >
“Com o quiabo é sempre assim, o preço aumenta na primeira semana de setembro, dá uma baixada na semana seguinte e dispara na semana final. Fica assim até o fim do mês, isso é certo”, conta Daniel Bispo, que trabalha há 30 anos na feira. “Mas, não tem jeito, as pessoas fazem o caruru mesmo assim. Quem tem suas obrigações a cumprir não pode fugir”, brinca.>
A elevação dos preços do legume é inevitável neste período, devido à alta procura. Quem explica é o economista Denilson Lima, coordenador da Pesquisa de Índice de Preços ao Consumidor da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia. >
“O período da festa de Cosme e Damião que faz com que a demanda aumente. [...] Eu mesmo quando já fui em feiras nesta época para saber justamente as razões pelas quais os produtos começam a aumentar em preços, [percebi] que os feirantes costumam dizer isso: ‘o preço está subindo em função da demanda’. À medida que vai chegando perto da festa de Cosme e Damião, maior é a tendência do preço subir”, diz. >
Mas, se é comum que os preços disparem com a chegada do mês dos Ibejis do Candomblé e os santos gêmeos da Igreja Católica, este ano os reajustes começaram mais cedo. Os permissionários relatam que as alterações tiveram início há mais de um mês e se devem à escassez do produto. >
“Todo ano o preço aumenta, só que neste ano aumentou desde agosto, sendo que no mês de agosto sempre é barato. E está vindo muito pouco, por isso fica ainda mais caro. Comprei o saco por R$200 hoje”, relata Carlito Santana, vendedor na feira de São Joaquim há 42 anos.>
Na barraca de Arnaldo Pereira, a situação é a mesma. Com quase seis décadas de experiência na venda da hortaliça – o que lhe rendeu na feira o título de Rei do Quiabo –, ele não se surpreende ao ver o valor do produto dar um salto em setembro. A única saída, para ele, é repassar as alterações para o consumidor final. >
“Eu espero que não aumente mais, porque é melhor para mim e para os clientes. Se chega pouco quiabo, o preço fica mais caro e eu preciso passar isso para os clientes. Agora, estou vendendo o cento por R$20 e o saco por R$250. A gente compra mais barato e tenta ganhar qualquer valor, nem que seja R$10 ou R$20”, diz Arnaldo. >
A Bahia tem um histórico de produção de quiabo, tendo sido em 2017 o quarto maior produtor da hortaliça no país, de acordo com os dados mais recentes coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este ano, porém, a soma de questões de mercado e questões climáticas interferiram na produção e, consequentemente, no preço do quiabo. Foi assim para os produtores de Barra da Estiva, no sudoeste do estado, que contempla a comunidade de Passagem de Santana, conhecida como a capital do quiabo na Bahia. >
“Tanto em Barra da Estiva quanto em Santa Teresinha realmente houve uma queda na produção de quiabo nesse período devido a questões climáticas, principalmente temperaturas baixas e chuvas. O quiabo precisa de uma temperatura mais elevada para não abortar as flores. Agora, como as temperaturas estão começando a se elevar, na região de Santa Terezinha principalmente vai ter mais ofertas”, relata um representante da região. >
A comida baiana é um dos carros-chefes do restaurante Cozinha da Mari. Por lá, os efeitos também foram sentidos mais cedo este ano, e o resultado foi um reajuste no preço dos produtos: as quentinhas, que custavam, R$22, agora são vendidas por R$25. “Tem que aumentar o preço, não tem o que fazer. Eu também não posso diminuir a quantidade, porque os clientes vão reclamar, então preferi mudar o valor”, conta o chef Anderson Teles. >
Diferente de Anderson, Janete Sarquis, que trabalha com a venda de refeições, sobremesas e salgados na Universidade Federal da Bahia (Ufba), não viu outra alternativa a não ser retirar os pratos à base de quiabo do menu. “Para quem exige muito a comida baiana, eu faço e repasso esse aumento para o cliente. A marmita que era R$28 eu faço por R$35. E a quiabada, suspendi. Não estou colocando no cardápio”, diz.>