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Lobisomem no seu bairro? Livro coleta aparições da criatura, inclusive na Bahia

Cidades de São Gonçalo dos Campos e Mundo Novo tiveram boatos de ataques lupinos

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 2 de novembro de 2025 às 05:00

Livro Conheça o Lobisomem do Seu Bairro
Livro Conheça o Lobisomem do Seu Bairro Crédito: Matheus Haas/Reprodução

Os relatos de que um lobisomem tinha atacado um cachorro e arranhado a parede da casa de uma testemunha tiraram o sono dos moradores de Mundo Novo, no Centro-Norte baiano, em 2016. Já em 2025, em março, foi vez de os moradores do município de Conceição de Tocantins, no Tocantins, serem aterrorizados pelo boato de que outra espécime da criatura peluda estaria rondando casas da região.

O que os dois episódios - que chegaram até a virar reportagens na televisão - têm em comum? Ambos revelam que o fascínio por lobisomens - que remonta à lenda do rei Licaão, soberano de Arcadia, segundo a mitologia grega - atravessa gerações e está em alta ainda hoje. Os casos foram coletados no livro recém-lançado Conheça o Lobisomem do Seu Bairro, dos autores Thiago de Souza e Silo Sotil, com ilustrações de Matheus Haas (Editora Pontes).

O livro nasceu do projeto ‘O que te assombra?’, que tem outras três obras já lançadas e organiza passeios em cemitérios na região de Campinas (SP), onde moram os autores. "A gente gosta de se aprofundar nos temas com as experiências da morte e do sobrenatural, mas nem de um jeito que vai pelo lado religioso e nem pelo lado do entretenimento", explica Thiago.

Livro Conheça o Lobisomem do Seu Bairro por Matheus Haas/Reprodução

Tendência

Ainda que nunca tenham saído exatamente da rota, os lobisomens estão na moda. Neste mês de outubro, a GloboPlay lançou a nova série Vermelho Sangue, que mistura terror, fantasia e romance para falar de lobisomens e vampiros em uma cidade fictícia do Cerrado mineiro. No Google Trends, que analisa tendências de pesquisa no buscador, a pesquisa pela lenda do lobisomem teve aumento de 950% nos últimos cinco anos. Além disso, as buscas pelo filme Lobisomen, lançado em 2025, e pelo especial Lobisomem na Noite, de 2022 e que faz parte do universo Marvel no Disney+, dominaram algumas das pequenas com aumentos repentinos expressivos este ano.

Para completar, 2025 é o ano em que outro lobisomem importante no imaginário popular brasileiro faz aniversário: o professor Astromar Junqueira, da novela Roque Santeiro, que completou 40 anos este ano. "Foi o primeiro lobisomem que me apaixonei", conta Thiago. "Desde então, não tinha parado para perceber como o lobisomem é adaptado a culturas e me deu vontade de entender a concepção do arquétipo. No livro, faço essa viagem das origens do lobisomem até o que podemos encontrar tanto em São Gonçalo dos Campos quanto em Mundo Novo, para entender por que essa criatura está tão presente no cotidiano", explica.

Além de Mundo Novo - cuja existência da criatura foi depois desmentida pela polícia local -, São Gonçalo dos Campos tem o outro caso de aparição de lobisomem recente na Bahia. Lá, foi em 2014 e, na época, um morador da cidade chegou a dar um depoimento de que tinha avistado o licantropo enquanto esperava pelo ônibus, às 3h da madrugada.

Cultura

Segundo o escritor e pesquisador, o lobisomem é uma criatura muito adaptável a diferentes culturas e sofre influência disso. Há, ainda, uma matriz da mitologia guarani paraguaia, em que os indígenas acreditavam em uma criatura metamorfa que se transformava tal qual o lobisomem.

"A gente fala de vários signos de lobisomem e até um santo lobisomem. É um barato entender a criatura para além das histórias, porque são experiências humanas muito legais", diz Thiago. Inicialmente, a pesquisa para o livro seria um podcast, mas ele percebeu, lá pelo quatro ou quinto episódio, que tinha mais cara de livro.

Apesar da imersão no tema, o escritor não acredita na maioria das histórias. "Mas acredito na experiência humana. Acredito que alguém tenha vivido isso. O que me interessa é que a história ocorreu. Não é o fato de alguém ter visto um fantasma, mas de ter visto alguma coisa".

Para ele, o lobisomem é um promotor de reencontros, a partir das histórias contadas por pessoas da família e eram passadas através dos anos - muitas que, inclusive, detestam falar do assunto. "Não tenho nenhuma obsessão de provar o que é mentira ou verdade, mas gosto de me reencontrar com a possibilidade humana de as pessoas viverem experiências que não conseguem explicar".

Ainda assim, ele acredita que a construção do arquétipo do lobisomem é de um monstro conectado a violências masculinas. "A figura do lobisomem assume, para mim, muitas vezes a responsabilidade de monstruosidades cometidas por humanos. É uma forma de justificar aquele cara bonzinho que cometia atrocidades contra crianças e mulheres. O lobisomem está muito mais perto da gente".