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Rodrigo Daniel Silva
Publicado em 27 de setembro de 2025 às 05:00
“Netanyahu adota tom desafiador em discurso na ONU após debandada de nações”. Assim o jornal americano The New York Times, considerado o mais influente do mundo, resumiu o pronunciamento do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, nesta sexta-feira (26), durante a 80ª Assembleia-Geral da ONU. Em sua fala, o israelense rejeitou a criação de um Estado palestino e prometeu dar continuidade à campanha militar contra o Hamas. >
Dezenas de delegações - entre elas a do Brasil - deixaram o plenário antes do início do discurso, em protesto contra a guerra na Faixa de Gaza. Ao mesmo tempo, manifestantes se reuniram nas ruas de Nova York. Desde cedo, grupos começaram a ocupar a Times Square, em frente ao prédio das Nações Unidas, com bandeiras da Palestina e cartazes com frases como “Acabem com toda a ajuda dos EUA a Israel”, “Prendam Netanyahu” e “Parem de matar Gaza de fome agora!”.>
Netanyahu declarou que os israelenses “não cometerão suicídio nacional” ao permitir a criação de um Estado palestino e criticou duramente os países que apoiam essa ideia. “Será uma vergonha para todos vocês”, afirmou.>
Atualmente, 145 dos 193 Estados-membros da ONU já reconhecem a Palestina como Estado. No dia 21 de setembro, Reino Unido, Canadá e Austrália anunciaram conjuntamente esse reconhecimento. Nesta semana, na segunda-feira (22), o presidente da França, Emmanuel Macron, fez o mesmo, com o argumento de que a decisão tem como objetivo buscar a paz entre israelenses e palestinos. “Recai sobre nós uma responsabilidade histórica”, disse Macron.>
Na América Latina, a Palestina é reconhecida por países como Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, El Salvador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.>
Durante o discurso, Netanyahu usou um broche com um QR Code que direcionava a um site com fotos e vídeos da invasão do Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023. Ele pediu ao público que escaneasse o código. “Você também verá por que lutamos e por que precisamos vencer. Está tudo aqui”, declarou. “Grande parte do mundo não se lembra mais do dia 7 de outubro. Mas nós nos lembramos”, acrescentou.>
Parte da plateia - composta majoritariamente por convidados de Tel Aviv, como em anos anteriores - aplaudiu o premiê, enquanto o presidente da sessão tentava manter a ordem. Ao longo de sua fala, marcada por ataques a líderes ocidentais, também foram ouvidos protestos.>
Segundo o gabinete do premiê, alto-falantes foram instalados em caminhões posicionados no lado israelense da fronteira de Gaza, para que Netanyahu pudesse se dirigir aos reféns. “Nós não nos esquecemos de vocês, nem mesmo por um segundo. O povo de Israel está com vocês”, declarou.>
O New York Times, porém, relatou que não encontrou moradores que tenham conseguido ouvir a transmissão. A iniciativa foi criticada por familiares de soldados israelenses, que a consideraram um risco desnecessário aos militares envolvidos na operação.>
Em outro trecho, Netanyahu reforçou a ameaça contra o Hamas caso os reféns não sejam libertados. “Abaixem suas armas, deixem meu povo ir. Libertem os reféns, todos eles, agora. Se o fizerem, vão viver. Se não, Israel vai caçar vocês”, disse. “Dar um Estado aos palestinos a uma milha de Jerusalém depois do 7 de Outubro é como dar um Estado para a Al Qaeda a uma milha de Nova York depois do 11 de Setembro. Isso é loucura, é insano, e nós não vamos fazer isso”, afirmou, ao sustentar que a medida equivaleria a admitir que “matar judeus compensa”.>
Em comunicado, o Hamas avaliou que a reação internacional ao discurso foi uma prova do enfraquecimento de Israel. “O boicote ao discurso de Netanyahu é uma manifestação do isolamento de Israel e das consequências da guerra”, declarou Taher al-Nunu, do comitê político do grupo.>
O discurso de Netanyahu ocorre em meio a um cenário diplomático adverso para Tel Aviv. Além da pressão internacional crescente pelo fim da guerra, o premiê ouviu na véspera um recado direto de seu principal aliado: o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que não apoiará a anexação da Cisjordânia, atualmente ocupada por forças israelenses.>
Desde o início do conflito, Netanyahu tem repetido que o objetivo de Israel é destruir o Hamas, grupo que se recusa a desmilitarizar Gaza. Analistas militares, no entanto, avaliam que isso é improvável, já que a facção - sem capacidade de governar o território - passou a atuar como guerrilha, o que torna inviável qualquer acordo que envolva sua dissolução ou desarmamento.>