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O dia em que me inscrevi numa corrida e fui parar no meio do Carnaval

A segunda edição da Corrida 100% Você, de Bell, Rafa e Pipo Marques, aconteceu no último domingo (7)

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 14 de setembro de 2025 às 08:00

Corrida 100% Você em Salvador
Corrida 100% Você em Salvador Crédito: Divulgação

Minha trajetória no universo das corridas de rua é recente - vai fazer exatamente um ano na próxima semana, na Maratona Salvador. Naquela ocasião, decidi tentar meus primeiros cinco quilômetros em quase dez anos. Desde então, me considero vitoriosa porque tenho feito isso com alguma frequência. Somente de agosto para cá, estive em três dessas provas. Ainda assim, nada me preparou para a Corrida 100% Você, no domingo (7).

Se o nome não entregou, faço as honras: fui parar no meio da corrida de Bell, Rafa e Pipo Marques e garanto que é diferente das outras. Esperava uma prova tradicional: largada, sofrimento durante e uma chegada com medalha, banana e alívio. Recebi um Carnaval. Parecia uma versão mais ‘geração saúde’ do Camaleão ou do Vumbora.

O cenário não podia ser mais sugestivo, uma vez que a largada era no Farol da Barra. Pode ser um local óbvio para alguns (e até para a jornalista que há em mim e que cobriu muitos Carnavais), mas não para minha ‘skin’ corredora. Até então, todas as minhas incursões na velocidade tinham sido do outro lado da cidade. O resultado disso é que eu já corri até no Centro Administrativo da Bahia (CAB), mas nunca a partir do Farol da Barra.

Antes mesmo de chegar à largada, o evento já dava mostras de que seria diferente, mas minha ficha não tinha caído. Tal qual no Carnaval, saímos do Uber nas imediações do Shopping Barra. Preciso alertar, contudo, que o horário era inverso: chegamos às 5h da manhã, que é quando muita gente está indo embora do Circuito Dodô.

Enquanto caminhava até o Farol, a animação das pessoas já era latente. Em geral, corredores são muito ativos logo cedo, mas o clima era distinto. Pouco depois que chegamos ao local indicado para o meu setor de largada, de costas para o Farol, a música começou. Obviamente, todas de Rafa, Pipo e Bell Marques. Ao meu lado, as pessoas começaram a dançar. Na frente, logo atrás... Não importava que estivesse cheio e que a movimentação tornasse as coisas mais apertadas. Não era o aquecimento - estávamos longe demais para escutar o alongamento. Era dança mesmo.

Foi nesse momento que passou por mim a primeira ‘camaleoa’ óbvia. A mulher usava uma bandana como Bell e tinha vindo enrolada numa bandeira. De seu estado, de sua cidade? Do próprio bloco? Não consegui ver. Mas foi apenas a primeira de mais pessoas que surgiriam no percurso com o adereço. Não sejamos iludidos aqui: o look corrida - cabelo preso com elásticos ao longo dos fios para mulheres, selado com muito fixador ou viseira, além de óculos espelhado, era a indumentária principal. Ainda assim, não posso negar que tinha gente vestida como Bell. Tinha até sósia do cantor - cruzei com ele algumas vezes no percurso e vi pelo menos três pessoas parando o cara para tirar foto. Deve até ter prejudicado um pouco o ‘pace’ (o ritmo, no jargão corredor) do moço.

Enquanto as pessoas até pulavam perto de mim, eu só me perguntava: será que não seria bom guardar um pouco dessa energia para daqui a alguns minutos? Mas percebi imediatamente que a ideia não era essa. Quando olhei para cima, as varandas dos quartos de hotéis da Orla estavam cheias. Acordado pelos chicleteiros - me perdoe, Bell, mas a identidade ainda é tão forte que não me acostumei a chamar o público de outra forma -, o pessoal se rendeu. Contei uns cinco ou seis mais animados que dançavam e cantavam, tal qual a gente vê nos camarotes de prédios da Barra. Se tinha alguém querendo dormir até mais tarde, escolheu um dia ruim para se hospedar naquela área. (Não só ali: uma amiga do Rio Vermelho me escreveu dizendo que foi acordada às 6h30 com a folia dos corredores que iam chegando. Faz parte).

De fato, veio gente de todos os lugares - o que só reforça o quanto as corridas podem ser aliadas do turismo. Um senhor brincava com a esposa, ao meu lado, como se estivesse sendo entrevistado pela TV. "Direto de Irecê", dizia ele, que alegava não saber nem mesmo como se alongar. Foi bem nessa hora que recebi minha primeira cotovelada nas costas. Não era intencional, claro. Mas algumas pessoas estavam tão animadas que, assim como no Carnaval, começaram a esquecer os limites do seu próprio espaço. Antes da largada, recebi um empurrão e mais uma cotovelada. Odeio Carnaval, mas vim parar no meio de uma das galeras mais animadas que já vi. Faz parte número 2.

Corrida 100% Você em Salvador
Corrida 100% Você em Salvador Crédito: Divulgação

Os corredores estavam lá, mas a 100% Você claramente é uma corrida para fãs. Você corre ao lado dos seus ídolos - porque, sim, a família Marques não apenas participa como chega ao pódio (no caso de Pipo Marques, que ficou em 4º lugar nos 5km masculino). Eu admito que não os vi até o final da prova, mas saber que estão ali traz uma proximidade interessante. Mais ainda: dá para matar a saudade do Carnaval, para quem gosta, e tem música durante o percurso todo (com caixas de som e até bandinha num trecho), algo que nunca ouvi falar. Mas não aproveitei esse benefício, porque, nos meus fones, minha playlist emo para correr é sagrada...

Para completar, a corrida dos Marques foi responsável por desmentir uma lenda urbana na qual acreditei por muitos anos: de que o percurso Barra-Ondina tinha pouco mais de quatro quilômetros. Imagine o tamanho da minha decepção quando percebi que tinha percorrido só pouco mais de dois quilômetros até as Gordinhas de Ondina. A rota dos 5KM seguia até as imediações da Vila Caramuru, no Largo da Mariquita. E eu nunca me senti tão feliz por chegar lá. Na Praia da Paciência, um corredor que estava ao meu lado gritou: "Você sabe que bairro é esse?". Achei maravilhoso que, de fato, as pessoas tenham vindo para correr - e por Bell, Rafa e Pipo.

Na Vila Caramuru, a chegada foi premiada com dois shows: primeiro, de Rafa e Pipo. Na sequência, o próprio Bell comandou a festa - que também era uma comemoração pelo seu aniversário de 73 anos. E, ali, virou o Carnaval completo, inclusive com alguns dos 7,5 mil participantes tomando uma cervejinha às 8h30 da manhã (depois da hidratação e da frutinha). A 100% Você já tem mais três provas confirmadas: Maceió (AL), na terça (16), Natal (RN), em 3 de outubro, e Goiânia (GO), em 24 de outubro. O preço da inscrição varia, mas costuma ficar entre R$ 119,90 e R$ 249,90.

Repórter Thais Borges durante a corrida 100% Você
Repórter Thais Borges durante a corrida 100% Você Crédito: Foto: Divulgação

Preciso admitir, aqui, que eu não sabia nada muito profundo a respeito da 100% Você. Minha mãe queria ir e me chamou. Topei. Na verdade, ela queria ter participado já da primeira edição, em janeiro, mas as inscrições esgotaram antes que conseguíssemos fazer a nossa. Agora, só marquei o dia na agenda e vesti a camisa. Ingênua? Talvez.

Mas foi incrível descobrir somente lá que tem artistas que estão dispostos a fazer com que seus fãs se exercitem e tenham mais saúde. Para muita gente ali, era a primeira corrida da vida. Estavam ali por amor a Bell. Num mundo em que já temos corridas de Harry Potter e da Barbie (que espero que um dia venham a Salvador), as provas pensadas para os fãs podem ser uma saída para mostrar a quem é sedentário que esse universo também pode ser seu. Como eu detesto Carnaval, não sei se iria de novo (posso queimar a língua no futuro). Não acho que é para mim, mas adorei a ideia.