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'Pode falar de qualquer tema com a criança. A questão é como fazer isso', diz psicólogo especialista em educação

Autor de livros infantis, Alessandro Marimpietri lança sua primeira obra para adultos neste sábado (13)

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 13 de setembro de 2025 às 11:00

Alessandro Marimpietri
Alessandro Marimpietri Crédito: Divulgação

Viver o tempo, cultivar o espanto, elogiar a imperfeição e amar como verbo. Esses são os quatro pilares do novo livro do psícólogo e escritor baiano Alessandro Marimpietri. Especialista em infâncias e doutor em Ciências da Educação, ele propõe desacelerar na obra ‘Manual de desinstrução para tempos de incertezas’. Com lançamento oficial neste sábado (13), na Livraria LDM do Vitória Boulevard, às 16h, o livro é seu primeiro para adultos; antes, lançou dois títulos infantis.

"O manual pretende escapar do excesso de formatação e de formas. Ele pode ser lido de várias maneiras. Não precisa ser na ordem. Isso é bem subversivo e contemporâneo, porque a pessoa pode criar seus próprios itinerários", explica Marimpietri. Ele conversou com o CORREIO sobre a obra, tecnologias, relações sociais e adultização.

Você está lançando seu primeiro livro para adultos. Por que a sociedade precisa de um Manual de desinstrução para tempos de incerteza?

Na verdade, o livro é um antimanual. Ele tenta fazer com que a gente pense a vida sob outra perspectiva, para aprender ou reaprender outras possibilidades de viver esse momento. A gente pensa em quatro grandes ações que pudessem ser faróis na possibilidade de reinventar nossa existência individual e coletivamente: viver o tempo, cultivar o espanto, elogiar a imperfeição e amar como verbo.

Viver o tempo seria uma maneira de viver o presente e, ao mesmo tempo, ter tempo de viver. Cultivar o espanto é achar beleza no ordinário, no dia a dia viver uma vida mais encantada. Elogiar a imperfeição tem a ver com elogiar nossas fissuras. E amar como verbo é estar no mundo com uma lente de amor.

Em um dos capítulos, você diz que somos uma sociedade hedonista e obcecada por saúde, mas não estamos vivendo bem e não somos mais felizes. Por que isso acontece?

Fundamentalmente porque, segundo um estudo muito longo de Harvard (University) sobre o que faz as pessoas serem felizes e saudáveis, o fundamental é ter bons relacionamentos. E a sociedade contemporânea deixar a gente tão focado em nós mesmos, que estamos sem boas relações. Estamos tão hiperconectados que temos uma solidão inédita.

Você chama as redes sociais de “maior oráculo dos tempos atuais”. Como não viver na mesmice dos algoritmos?

Temos que achar uma distância ótima entre nossa vida e nossa vida dentro do digital. Os estudos mostram que quanto mais a gente tem uma vida colorida e interessante, mais pode tirar proveito de uma vida digital menos sofrida, menos chata e menos reveladora, no sentido do que coloca nossa privacidade à vista. Temos que aproveitar o que elas (as redes) oferecem de positivo e frear o negativo.

O que é o positivo?

Acho que o mais positivo é a possibilidade de uma polifonia, todo mundo ver e ser escutado. Estou com Caetano (Veloso), quando diz que há poemas como jamais. E há coisas terríveis. A gente vai ter que criar filtros de interpretação para escapar (das terríveis) e se abraçar com o que é interessante.

Escrever para adultos é muito diferente de escrever para crianças?

É completamente diferente. Comecei minha experiência como escritor para criança com livros ilustrados. É completamente diferente porque, quando se escreve para crianças, tem que se conectar muito com a linguagem. Tem que ser um texto que converse com o universo das crianças e tem que ter um cuidado muito grande.

Já com os adultos, estou falando com os meus pares. Mas, ao mesmo tempo, tenho que ter uma certa conexão com a infância.

Para escrever o Manual de Desinstrução, tive que encontrar minhas experiências infantis e pensar nos quatro pilares que criei e que são verdadeiros para mim e que espero que sejam para outras pessoas.

O manual pretende escapar do excesso de formatação e de formas. Ele pode ser lido de várias maneiras. Não precisa ser na ordem. Isso é bem subversivo e contemporâneo, porque a pessoa pode criar seus próprios itinerários. Eu acho que essa maneira é nova, interessante e pode ser divertido.

Nós vimos, nas últimas semanas, um grande debate sobre adultização precoce, especialmente no que diz respeito à exposição de crianças e adolescentes nas redes. O quanto as novas tecnologias podem afetar o desenvolvimento de crianças e adolescentes dessa geração, em comparação com gerações anteriores?

A tecnologia digital é danosa, especialmente para crianças e adolescentes, porque estamos falando de um cérebro em desenvolvimento.

Ela pode hiperestimular instâncias que deveriam ser menos estimuladas e vice-versa. Então, de fato, a gente tem que ter um cuidado muito grande quando fala do uso do digital. Essa parcimônia está em três eixos: o tipo de conteúdo, o tempo de exposição e a possibilidade da experiência digital roubar experiências não digitais importantes para o desenvolvimento.

O que podemos esperar dessa geração de crianças?

A gente tem que trabalhar muito firmemente para criar marcos regulatórios para as big techs. É muito injusto esperar que as famílias, sozinhas, deem conta disso.

Todos que querem viver melhor e ter menores índices de violência têm que entender que, quando a gente conserva infâncias e adolescências, está preservando a humanidade e o pacto civilizatório.

Existe um momento ideal para falar com as crianças sobre adultização - sobre a denúncia que começou com Felca, os temas e possíveis crimes citados ali? Se sim, quando e de que forma?

O momento ideal é quando a criança tem condição de lidar com esses temas, mas qualquer tema pode ser tratado com a criança de maneira adequada. Tem que ser feito de uma maneira que a criança tenha condição de lidar com esse tema. Se você trata de maneira adultizada, está conclamando ela para uma posição para a qual não está preparada.

A grande questão é ‘como’. Pode falar de morte, abuso, política, qualquer tema. A maneira como vai falar é que vai depender do desenvolvimento. A gente vai ter que achar um jeito, uma linguagem que chegue nessa galera.

Uma dica é que quando a criança nos pergunta algo, quase sempre ela já tem um pensamento sobre aquilo. Saber o que a criança já sabe é uma boa dica para saber o que ela está sabendo. Pode usar os recursos lúdicos, livros ou histórias como maneiras de fazer os temas irem se aproximando de forma mais palatável.

O quanto a adultização é comum?

Infelizmente, acho que é bem mais comum do que a gente supõe. A gente está pensando só no mundo digital, mas uma criança que precisa trabalhar no Brasil está passando por adultização. Uma criança de classe média alta que tem agenda de workaholic mirim também está. Conforme ela entra no mundo digital, que tem um alcance, tamanho e permanência diferentes, de fato dificulta as coisas. Porque é difícil reconstruir ou reparar uma vez que está no digital.