Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Thais Borges
Publicado em 15 de outubro de 2025 às 05:00
Atravessar a faixa de pedestres da BR-135, em Barreiras, no Oeste baiano, era um problema. Mesmo com o local da travessia em frente ao Centro Juvenil de Ciência e Cultura da cidade, pelo grande movimento de veículos, a rodovia federal tem alto risco de acidentes. Por isso, um grupo de alunos, coordenado pela professora Lucivânia Pereira, idealizou o projeto Pare: Performance, Arte, Respeito e Educação no Trânsito, para promover a segurança no trânsito. >
O objetivo era unir fanfarras, tecnologia e performances para sensibilizar motoristas e pedestres. Inicialmente, estudantes do 9º ano e do Ensino Médio, orientados por professores de português, arte, fotografia, física e robótica, fizeram pesquisas sobre o tema. Mas a principal ação foi uma apresentação na própria rodovia, que contou até com articulação com a Secretaria de Segurança Pública, o Conselho Nacional de Trânsito e a Secretaria de Transporte do município. >
O projeto da professora Lucivânia acabou integrando o mapeamento do Itaú Social sobre abordagem Steam (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática). Mas, para especialistas, iniciativas docentes como essa podem representar uma resposta a um anseio dos estudantes: aulas dinâmicas que unem teoria e prática. Esse é um dos aspectos que os estudantes baianos acreditam que pode definir uma “escola do futuro". >
Para 37,5% dos alunos dos anos finais do Ensino Fundamental (do 6º ao 9º ano), projetos que colocam a “mão na massa” são indispensáveis na escola hoje. Na avaliação dos estudantes, as aulas práticas têm o mesmo grau de importância das práticas esportivas (também com 37,5%). >
Os resultados fazem parte do Relatório Nacional da Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas, que ouviu 2,3 milhões de jovens de todo o Brasil sobre aprendizagem, clima escolar e participação, ao longo de 2024. O estudo foi conduzido pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com o Itaú Social, o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e a União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). >
“A escola precisa estar pronta para receber esses alunos, porque eles estão dispostos a ter aulas diferentes. Não dá para ficar com aula só com livro, conteudista, porque eles têm acesso a outras ferramentas”, diz a professora Lucivânia.>
Abordagem>
No Dia do Professor, comemorado nesta quarta-feira (15), a superintendente do Itaú Social, Patricia Mota Guedes, lembra que, ao usar elementos do cotidiano e a criatividade, os docentes conseguem planejar atividades que engajam mais os adolescentes. >
“Essas abordagens tornam as aulas mais atrativas. Seja arte ou matemática, esportes ou língua portuguesa, estudantes valorizam professores que os estimulem a pensarem coletivamente e a se sentirem confiantes em aplicar o que aprendem em contextos variados”, explica. >
A gerente de Desenvolvimento e Soluções do Itaú Social, Sonia Dias, destaca que, quando professores propõem aspectos práticos na aula, a escola consegue transformar a informação em conhecimento. Um aluno que está estudando componentes químicos pode, por exemplo, usar argila para construir um objeto como projeto de ciências. “Claro que não precisa transformar todas as aulas em projetos mão na massa, mas pode fazer uma composição”, diz. >
Professores atualmente precisam competir com a alta exposição a informações e estímulos a que crianças e adolescentes são submetidos. Ainda que, em alguns contextos, as tecnologias possam ser aliadas e usadas no processo de aprendizagem, a interação dos professores com os estudantes não é substituível, segundo ela. >
“Só o professor vai ter aquele olhar mais individualizado no presencial. Isso nenhuma interação substitui”, diz, citando pesquisas que indicam que cerca de 60% do que é aprendido pelos alunos está relacionado ao papel dos docentes. “As tecnologias não vão substituir o professor. Mas, para isso, o professor precisa ter boas condições de trabalho, ter um número razoável de alunos que possa se dedicar e ter tempo para planejar suas aulas”. >
No caso do Pare, em Barreiras, os desdobramentos do projeto fizeram com que a prefeitura retocasse a pintura da faixa de pedestres e os alunos chegaram a desenvolver um semáforo inteligente, apresentado na Mostra Nacional de Robótica. Outros estudantes criaram jogos interativos entre 2023 e o ano passado. Agora, a professora está reformulando o projeto para compor uma nova equipe. >
No dia da perfomance na BR, cerca de 100 pessoas participaram da ação, que inclui os alunos diretamente ligados ao projeto, alunos das fanfarras, alunos que distribuíram bombons e folhetos a motoristas e professores. >
Nas aulas, a professora Lucivânia costuma trabalhar com projetos de Steam. “Percebo que a maioria dos colegas às vezes têm receio com relação ao uso da tecnologia e a essa pegada do Steam em sala de aula, mas confesso que, enquanto professora, até aprendo mais do que ensino. Meu papel é de orientar de forma correta, porque os alunos são protagonistas”, enfatiza ela, que agora coordena um grupo que está desenvolvendo um aplicativo para atender pessoas com problemas de saúde mental. >
Trabalhando como professora há 28 anos, Lucivânia conta que sempre tenta se manter atualizada. “Meu compromisso é que tenho que estar pronta para esses desafios. Sempre fui uma aluna que gostava de professores que me colocavam para pensar, então tento ir na vibe dos meninos. Se o professor não sabe algo, tem que ir buscar os pares, pessoas que possam auxiliar”.>
Escolas baianas com melhores desempenhos no Enem 2024