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Moyses Suzart
Publicado em 27 de setembro de 2025 às 10:00
Weber Sena Oliveira, vulgo Paulista. Este apelido simples contrasta com a complexidade de sua ficha criminal que o leva a ser o inimigo número 1 da fauna brasileira, principalmente das aves de canto. Apontado pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) como um dos maiores traficantes de animais silvestres do país, ele acumula uma longa ficha criminal marcada por apreensões de milhares de aves e répteis, prisões em flagrante e fugas cinematográficas. >
No início deste mês, ele voltou a ser preso em Mascote, no sul do estado, na operação Fauna Protegida, liderada pelo MP-BA, que revelou um esquema estruturado em núcleos de captura, transporte, receptação e lavagem de dinheiro, envolvendo a própria esposa, Ivonice Silva e Silva, além de outros comparsas. Segundo a denúncia, aceita pela Vara Criminal de Camacan, Paulista era o líder da rede, responsável por articular desde a caça dos animais na caatinga e mata atlântica até a revenda em feiras clandestinas do Sudeste, principalmente no Rio de Janeiro. >
"Nós entendemos que ele fazia parte de uma cadeia criminosa verdadeiramente profissional. Que agia não só no estado da Bahia, mas em todo o território brasileiro. Nós estamos numa linha investigativa há mais de quatro meses, juntamente com a área ambiental do Ministério Público", afirmou Augusto César Matos, promotor e coordenador do Centro de Apoio de Defesa do Meio Ambiente, após a prisão de Paulista. >
O histórico de crimes ambientais de Weber Sena é extenso e suas ações são registradas por autoridades há pelo menos 20 anos. Em 2008, o Ibama já tinha o intimado para pagamento de multa por conta de comércio ilegal de aves. Dois anos depois, ele foi preso na Operação Marco Zero, conduzida pela PRF, PM, Polícia Civil da Bahia, Ibama e Ministério Público. >
Anos depois, em 2015, foi novamente detido em flagrante com cerca de 1.500 aves silvestres. Na ocasião, tentou subornar policiais com o montante de R$ 7 mil, sendo autuado também por corrupção ativa. Em 2021, fiscais do Inema e agentes da PRF encontraram em um imóvel alugado por ele, também em Mascote, um depósito clandestino com 413 aves em situação de maus-tratos, além de galos utilizados para rinhas. O espaço funcionava como apoio para a remessa dos animais com destino ao Sudeste, escoado pela BR-101. >
Outro episódio emblemático ocorreu na noite do dia 15 de janeiro de 2024, quando a PRF abordou o veículo conduzido por Weber, na BR-101, em Gandu (BA). No carro, os policiais sentiram um forte odor de fezes de pássaro e acabaram encontrando 492 aves vivas e outras 135 mortas, além de 946 jabutis. A cena incluía animais amontoados em caixas de papelão, sem ventilação ou acesso à água. Enquanto os policiais retiravam as aves, Paulista aproveitou um momento de distração e fugiu pela mata. O mesmo veículo que Weber estava já tinha sido flagrado no Rio de Janeiro, em 2022, servindo de transporte para o mesmo crime. >
As espécies traficadas por ele estão entre as mais visadas do mercado clandestino: bicudos, curiós, cardeais-do-nordeste, azulões, tico-ticos, entre outros. Muitas dessas espécies constam em listas de ameaça de extinção e são alvo de competições de canto, o que eleva seus preços. Segundo o MP-BA, Paulista chegava a vender um curió por R$ 80 mil, e movimentava animais em escala industrial, com extensões na Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo.>
Apesar das inúmeras apreensões anteriores, Weber Sena raramente foi mantido preso. Em diversas ocasiões, escapou de condenações mais severas em razão das brechas legais que tratam crimes ambientais com penas brandas, frequentemente convertidas em multas. Agora, porém, responde também por associação criminosa e lavagem de dinheiro, crimes que ampliam a possibilidade de prisão efetiva e confisco de patrimônio.>
O Ministério Público detalha a existência de cinco núcleos operacionais: caçadores, fornecedores, transportadores, receptores, além do núcleo financeiro que, segundo o MP, era liderado pela esposa de Paulista. O Coaf identificou movimentações atípicas de quase meio milhão de reais, além de 150 depósitos que somam quase R$ 171 mil. >
“Este montante se mostra incompatível com sua renda declarada de aproximadamente R$ 1.762,59 mensais como servidora municipal”, disse o processo, sobre Ivonice. Diante das provas, foi determinado o bloqueio de contas e bens dos envolvidos até o limite de R$ 1 milhão, além do compartilhamento de informações com os Ministérios Públicos de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, dada a dimensão interestadual do esquema.>
Não conseguimos contato com os advogados das partes. Ao longo de décadas de crimes ambientais, a ficha de Weber Sena Oliveira acumula mais de 4.500 animais silvestres apreendidos por autoridades. Um número que impressiona, mas irrisório se imaginarmos quantos animais foram traficados e morreram no caminho. É quase impossível calcular. Agora, ironicamente, quem sempre privou os pássaros da liberdade está atrás das grades. Até o fechamento desta edição, o inimigo número 1 da fauna continua preso. Aos 66 anos, chegou a hora de Paulista conhecer a sua própria gaiola.>
Animais silvestres vendidos ilegalmente