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Maria Raquel Brito
Publicado em 10 de setembro de 2025 às 05:00
A Bahia tem mais empresas no vermelho que qualquer outro estado do Nordeste. A informação foi revelada no Indicador de Inadimplência das Empresas da Serasa Experian de junho deste ano, mais recente das análises da datatech. De acordo com o boletim, são 342.249 negócios inadimplentes no estado, com dívidas de, em média, R$ 17.143,58. No total, o valor negativado é de R$ 5,8 bilhões. >
O número de empresas inadimplentes em junho deste ano é 6,2% maior do que o registrado no mesmo mês em 2024, quando 322.060 estavam nesta situação. Segundo a economista-chefe da Serasa Experian, Camila Abdelmalack, um dos grandes motivos das empresas baianas ficarem inadimplentes é a tentativa de formalizar atividades que já exerciam de maneira informal, como serviços autônomos ou empreendimentos familiares, uma vez que pouco mais de 95% das empresas na Bahia são micro e pequenas empresas. >
“Embora a atividade seja formalizada, muitas vezes o empreendedor opera sem capital de giro, com uma baixa renda, sem acesso a linhas de crédito adequadas. E isso mantém uma situação de vulnerabilidade que acaba sendo bastante semelhante ao enfrentado na informalidade, especialmente quando o ambiente da atividade econômica é bastante restritivo, como o que está acontecendo atualmente com esse nível de juros bastante elevado e o crédito se faz necessário.”>
“Inadimplência” é o termo usado para descrever a situação em que uma pessoa ou empresa não consegue cumprir com suas obrigações dentro do prazo acordado. Quem explica é Tania Cristina Teixeira, presidenta do Conselho Federal de Economia (Cofecon). >
“No caso das empresas, pode incluir atraso no pagamento de fornecedores, tributos, empréstimos, aluguéis ou serviços essenciais, como água, luz e internet. A inadimplência não significa necessariamente que o negócio esteja encerrado ou falido, mas indica que há dificuldades de fluxo de caixa ou gestão na financeira que precisam ser enfrentadas”.>
De acordo com Teixeira, existem diversos fatores que podem levar uma empresa à inadimplência, sendo os mais comuns queda nas vendas, falta de capital de giro e até mesmo má gestão. Mas ressalta outro muito importante: a taxa básica de juros muito elevada, atualmente em 15% ao ano. >
“E vale lembrar que o empreendedor não paga 15%, ele paga muito mais, porque o crédito no Brasil é muito caro. Além disso, uma taxa de juros tão elevada não afeta somente os empreendedores. Mesmo que ele não tenha dívida nenhuma, o crédito tão caro afeta o bolso de potenciais consumidores, fazendo com que as vendas diminuam. Por isso, o Cofecon defende uma redução na taxa básica de juros”, diz.>
Após 60 dias de inadimplência, a empresa pode ter seu nome negativado. Entre as principais consequências, estão a restrição de crédito, tanto na forma de aumento de juros quanto na força de rejeição de empréstimos, e a perda de credibilidade junto a fornecedores e clientes. “Precisamos lembrar que, na raiz da palavra, ‘crédito’ significa que alguém acredita em você. Se a empresa tem a credibilidade reduzida, ela passa a ter muito mais dificuldade no acesso ao crédito”, afirma a presidenta do Cofecon.>
Mais de 30% no vermelho>
Apesar de liderar na quantidade de empresas negativadas, a Bahia cai para o segundo lugar em proporção: enquanto 30,6% dos negócios baianos têm contas em atraso, em Alagoas os inadimplentes equivalem a 39,6% do total. A nível nacional, a Bahia ocupa o 6º lugar.>
Para Adriana Pereira, analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), é natural que a Bahia esteja acima dos outros estados nordestinos em números absolutos, devido à extensão do território baiano. Mas, defende que a situação é preocupante, mesmo que em proporção os números do estado vizinho sejam piores. >
Entre os motivos, ela cita a queda do consumo, que leva a uma dificuldade das empresas em fechar o caixa e faz com que elas recorram a empréstimos bancários, e o alto índice de inadimplência de pessoas físicas na Bahia, que chega a aproximadamente 70% e faz com que as vendas caiam. O crédito mais caro é outro fator importante, tanto pelo aumento da taxa Selic como porque a própria inadimplência das empresas faz com que os bancos elevem a taxa de juros, por conta do risco.>
Duas áreas de atuação se destacam entre as empresas inadimplentes: serviços – que contempla empresas como salões de beleza, academias, bares e restaurantes – e comércio. No Brasil como um todo, esses setores representam, respectivamente, 53,8% e 33,9% das companhias negativadas. >
Os números da Bahia não foram divulgados, mas, de acordo com Adriana Pereira, seguem a tendência nacional. “Especialmente em Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista, que acabam refletindo muito o cenário do estado como um todo, pelo número de empresas que representam, são regiões muito focadas na prestação de serviço e no comércio, áreas em que a queda no consumo se reflete mais rapidamente. No consumo de artigos de vestuário, de serviços de estética, de beleza, de restaurantes… Principalmente os serviços não-essenciais”, explica. >
O ditado já dizia que planejar é o melhor remédio. E os especialistas concordam. Mas, quando o revés nas finanças já aconteceu, a melhor saída é encarar. Segundo Adriana Pereira, esta é a dica mais importante para evitar chegar a um nível crítico da inadimplência: não fugir dela. >
“A primeira coisa é reconhecer o montante total da dívida, em que estágio está, quais as taxas de juros, e depois fazer uma consultoria financeira para avaliar toda a estrutura financeira do negócio, a projeção de fluxo de caixa, a possibilidade de aumentar o volume de vendas ou de reduzir custos para encaixar, de forma que vá aos poucos negociando e quitando esses débitos sem fazer novos também”, orienta.>