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Carolina Cerqueira
Publicado em 16 de agosto de 2025 às 05:00
A lontra é sucesso no zoológico de Salvador. Exibida, ela desfila performances com os brinquedos dispostos na água. É a queridinha da gestora técnica do Parque Zoobotânico da Bahia, Ana Celly. “Eu já cuidei de muitos filhotes, mas os de lontras são os mais fofos”, diz. Ela acompanhou de perto a história de resiliência desse animal que quem visita o espaço e vê a lontra toda brincalhona nem imagina. >
Foi com apenas 30 dias de vida que o filhote chegou ao zoológico, em 2017, resgatado pelo Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema). O resgate aconteceu em Ilhéus e o filhote foi encontrado junto ao corpo da mãe, que não resistiu a um ataque de cães. >
A lontrinha foi ferida e perdeu a visão do olho esquerdo. Quando chegou ao zoológico e foi direcionada aos cuidados da bióloga Ana Celly, estava bem debilitada por conta de uma mordida que levou na base do crânio. “Ela só se alimentava através da mamadeira e aí foi todo um processo até chegar aos alimentos sólidos. Ficou no berçário e depois passou para um espaço especial com ambiente aquático, antes de chegar ao recinto onde está hoje”, conta. >
Assim como os outros animais de lá, não ganhou um nome. A diretriz é adotada pela instituição para que os bichos não sejam humanizados e também como uma tentativa de evitar que visitantes interajam com eles, gritando seus nomes e provocando barulho excessivo. >
O local é bastante espaçoso, o que é essencial para a espécie, mesmo que a lontra fique sozinha nele. Há uma construção coberta e mais reservada para momentos em que o animal se incomodar com o barulho dos visitantes e uma ampla área arborizada com o tanque de água. >
“É um animal semiaquático, então água é essencial. E a água está cheia de brinquedos para o enriquecimento, já que é um animal muito inteligente e cheio de energia”, explica Ana Celly. Ela acrescenta que tudo é pensado para o bem estar do animal, que é a prioridade e, não, a melhor forma de exposição para os visitantes. >
A bióloga ainda garante que o fato da lontra estar sozinha não é um problema. Segundo ela, a espécie tem hábitos solitários. Ainda assim, pensando na reprodução da espécie, que está na categoria de “quase ameaçada”, uma tentativa de trazer uma fêmea para fazer companhia à lontrinha macho está sendo organizada.>
Lontra
A médica veterinária Cristiane Freitas, responsável pelo setor de pequenos carnívoros, acrescenta que a lontra está bem de saúde. "Os exames indicam que está tudo certo. Ele já está com uma idade avançada, considerando os padrões da espécie, mas é bem ativo e interage muito", diz ela. >
O animal é comumente encontrado no mundo todo e, na Bahia, Ana Celly diz que está bastante presente no Litoral Norte. Os habitats mais comuns são: rios, córregos, lagos, igarapés, igapós, estuários, manguezais e enseadas marinhas. As principais ameaças que podem sofrer são caça e destruição do habitat. >
Os alimentos mais ofertados são camarão, filé de tilápia, frango e fígado. Os tratadores Carlos Souza e Anderson Barbosa garantem a oferta duas vezes ao dia, pela manhã e pela tarde, junto a uma ração de suplementação. Carlos conta que o local é higienizado todo dia e a piscina costuma ser limpa quinzenalmente. >
Anderson diz que é quase impossível não se afeiçoar aos bichinhos, mas que é preciso equilibrar a relação. “A gente não pode se apegar a eles, mas tem que ter alguma conexão até mesmo para poder identificar o que eles estão precisando, o que estão transmitindo”, destaca. >
Carlos completa que a lontra está familiarizada com os tratadores. “É bem tranquila. Quando eu cheguei aqui, todo mundo dizia que era para ter cuidado, que ela mordia. Mas nunca teve nada disso”, diz ele. Ana Celly conta que não se arrisca a entrar no recinto sem a proteção devida, mesmo que o bichinho que exala fofura seja um dos seus favoritos. “Tem uma mordida braba, uma dentição daquelas!”, alerta. >
Já com oito anos de vida, a lontra não será mais solta. Ana Celly explica que, por ter perdido a visão de um olho e por ter sido resgatada ainda filhote, o animal não teria condições de viver na natureza. Não teve tempo de aprender com a mãe, que morreu no ataque dos cães, a como caçar e como se defender. >
Essas são as condições para que os animais estejam no zoológico. “A gente tem os filhotes que nasceram aqui, tem os que chegaram muito pequenos e não sabem sobreviver na natureza e tem os que foram resgatados e tiveram algum comprometimento que os impediu de serem soltos. O último leão que tivemos, por exemplo, foi resgatado de um circo. Ele sofria maus tratos e tinha tido as garras arrancadas”, explica a gestora técnica do Parque Zoobotânico.>
Endereço: Rua Alto de Ondina, s/n - Ondina >
Funcionamento: Terça a domingo, das 9h às 17h >
Entrada: Gratuita>
Instagram: @zoobahia>