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Você ficaria três dias em silêncio?

Retiro Budista Zen promove encontro para quem quer meditar sem barulho

  • M
  • Moyses Suzart

Publicado em 16 de agosto de 2025 às 19:53

Retiro do silêncio
Retiro do silêncio Crédito: Marina Silva

Neste exato momento, enquanto você provavelmente está escutando um paredão na rua, escutando áudios no Zap, buzinas de trânsito, sirenes, gritaria ou qualquer barulho infernal que são quase um cartão postal da capital baiana, um grupo de 30 pessoas está no mais absoluto silêncio. Sem emitir qualquer som, sentados na posição de lótus e meditando. Diante do caos da vida moderna, o silêncio é libertador. Ontem adeptos do Budismo Zen entraram num retiro do silêncio, onde ficarão três dias sem emitir qualquer som que não venha da natureza.

Desde ontem, essa turma abriu mão das tecnologias e do caos sonoro da vida moderna em busca da paz ou do silêncio, o que dá no mesmo. Durante três dias, nada de falar ou de emitir sons, salvo os inesperados. O local ajuda. A experiência está ocorrendo no Mosteiro Salvador, no Subúrbio, em frente à Baía de Todos os Santos. E não precisa ser budista. A iniciativa da Comunidade Taikanji garante que este retiro zen é voltado tanto para praticantes experientes como para aqueles que estão apenas iniciando na prática da meditação. E parece que os baianos curtiram a ideia. As 30 vagas foram preenchidas dias antes do evento.

“O silêncio é uma importante ferramenta de prática espiritual. Nos retiros que fazemos, sempre praticamos o silêncio, pois é nele que conseguimos adquirir mais clareza mental sobre o que acontece dentro de nós. Vivemos em um mundo caótico, acelerado principalmente pela tecnologia e pela era digital, que aumenta de forma absurda a quantidade de informações que recebemos o tempo todo. Precisamos aprender a lidar com isso para manter a sanidade mental”, conta Zengetsu Enjo Sensei, paisagista e monge missionário oficial da escola budista Soto Zen.

Enjo explica que este encontro é uma maneira para as pessoas se olharem numa perspectiva interna. Durante três dias, seguirão uma rotina comunitária. Cada um terá uma tarefa. Alguns cozinham, outros limpam, cada um tem uma função e se ajudam. Tudo em silêncio, claro e com muita meditação. Na prática Zen, a meditação é voltada para a parede. O objetivo principal é focar na introspecção e na observação da própria mente, sem distrações externas.

E as distrações estão em todos os lugares do mosteiro, pois o cenário é quase cinematográfico com pitadas de sincretismo. Na sala de meditação, quadros e imagens sacras dividem o espaço com Buda e outros acessórios da religião oriental. Um cenário fantástico e induz a uma reflexão. O silêncio se torna convidativo.

“O problema é que confundimos silêncio com ausência de fala. Para alguém falar, é preciso que outro saiba ouvir. Se não sabemos fazer silêncio, não ouvimos. Estamos sempre falando, tentando ‘vender nosso peixe’ e sem prestar atenção no que o outro diz. Isso destrói o diálogo e impede que as pessoas se entendam”, explica Enjo, que veio de São Paulo especialmente para o retiro.

Para ele, o budismo passou a ser muito mais que uma religião, mas um remédio para as doenças psicológicas da vida moderna. “O budismo está cada vez mais atual porque as pessoas estão adoecendo mentalmente. Há um crescimento nos casos de ansiedade, depressão, síndrome do pânico, insônia e outros problemas psicológicos. Em um mundo que deveria nos trazer mais soluções e tranquilidade, vivemos frustrados”, revela o monge.

“A meditação e o silêncio, no budismo, são instrumentos de cura interior. Ela nos ensina a lidar com emoções, medos e inseguranças, trazendo respostas internas. Muitas vezes, antes de prescrever remédios fortes, psicólogos e psiquiatras recomendam tentar meditar. Conheço vários casos de pessoas que se curaram interiormente com a prática”, completa.

retiro zen
retiro zen Crédito: Marina Silva

Para um estado que abraça diversas religiões, Enjo revela que os baianos estão procurando cada vez mais o budismo. Ele ainda acrescenta que, assim como o candomblé, o budismo tem um vínculo permanente com a natureza.

“O budismo tem uma ligação profunda com a natureza — montanhas, rios, plantas. O próprio Buda tirou muitos de seus ensinamentos da observação da natureza. Isso cria um ponto de aproximação com as religiões de matriz africana, também fortemente conectadas ao natural”, revela.

O budismo procura não convencer, mas conquistar. Uma característica da religião é que não é preciso se converter para praticar o budismo. “No Japão, recebi padres que meditavam conosco e depois levavam a prática para seus mosteiros na Europa. O budismo é uma religião pacífica e não exige conversão. Pessoas de diferentes crenças podem praticar juntas. A doutrina ensina que todos nós temos a natureza Buda, uma essência iluminada”, completa.

Infelizmente, ainda não tem uma data para o próximo retiro. Quem quiser conhecer mais e acompanhar a prática do Budismo Zen, pode seguir o perfil do templo Templo Taikanji (@taikanji). E, como na Bahia tudo se mistura, monges e monjas budistas podem estar neste exato momento em comunhão, meditando e curtindo o silêncio das monjas católicas do Mosteiro do Salvador. E você aí se contentando com seu JBL tocando no volume máximo…