Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Larissa Almeida
Publicado em 29 de maio de 2025 às 16:38
Após décadas de degradação ambiental e abandono por políticas públicas, a Lagoa Busca Vida, no litoral norte da Bahia, começou a apresentar sinais de recuperação. O incêndio que atingiu a vegetação do entorno e se aproximou perigosamente das residências do Condomínio Busca Vida (CBV), em fevereiro deste ano, acendeu o alerta na comunidade e deu novo fôlego à mobilização por sua revitalização. >
“Foi um susto para toda a comunidade O fogo chegou a menos de dez metros das casas. O que restava da lâmina d’água serviu como barreira natural e nos mostrou o papel estratégico da lagoa contra eventos extremos, que tendem a se agravar com as mudanças climáticas”, relata Marcelo Dourado, síndico do CBV, onde está localizada a lagoa. >
A principal causa da degradação é a eutrofização – processo em que a água acumula excesso de nutrientes e matéria orgânica, provocando a proliferação descontrolada de algas e plantas aquáticas (macrófitas). Essas plantas, quando em excesso, sufocam a biodiversidade e comprometem o fluxo natural da água. >
Desde 2019, a Comissão Ambiental do condomínio conduz estudos e audiências públicas sobre o manejo do ecossistema. No entanto, foi o incêndio que impulsionou uma nova etapa: a retirada de cerca de mil toneladas de resíduos e vegetação acumulada. Máquinas e equipes atuam em áreas críticas como a Praça das Tartarugas, a Gleba 70/71 (Pôr do Sol) e a nascente da Fonte dos Padres, que foi revitalizada. >
O trabalho, segundo Dourado, enfrenta desafios técnicos e financeiros, e o condomínio busca apoio institucional para obter recursos oriundos de compensações ambientais. “A revitalização da lagoa é um compromisso com o meio ambiente e com o futuro da nossa comunidade”, afirma. Ele destaca o envolvimento direto dos moradores, que têm acompanhado de perto cada fase do projeto. >
A Lagoa Busca Vida é um ecossistema raro. Pesquisas classificam suas águas como distróficas – com baixa concentração de nutrientes, pH levemente ácido e presença significativa de matéria orgânica. Essa condição é típica de áreas bem preservadas, com fitoplâncton e zooplâncton associados a ambientes de alta qualidade ambiental. >
Mais do que um espelho d’água, a lagoa cumpre funções ecológicas essenciais, como a regulação do ciclo da água, purificação do ambiente e abrigo à biodiversidade. Ela integra as áreas úmidas brasileiras e está situada dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Joanes-Ipitanga, que abrange mais de 66 mil hectares e oito municípios baianos. >
O trabalho de recuperação segue em ritmo acelerado, com interdições temporárias de vias e circulação de máquinas pesadas. A expectativa é que a experiência de Busca Vida sirva como modelo para outras iniciativas de conservação de áreas úmidas costeiras no Brasil. >