Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Até 16h de trabalho por dia e 11 países visitados: baiana lista prós e contras de trabalhar em cruzeiro

Ela cita entre os pontos positivos conhecer novos lugares e culturas e coloca como ponto negativo a inexistência de férias e folgas

  • Foto do(a) author(a) Perla Ribeiro
  • Perla Ribeiro

Publicado em 12 de setembro de 2025 às 06:30

Até 16h de trabalho por dia e 10 países visitados: baiana conta os prós e os contra de trabalhar em cruzeiro
Até 16h de trabalho por dia e 10 países visitados: baiana conta os prós e os contras de trabalhar em cruzeiro Crédito: Acervo pessoal

A jornalista baiana Jamile Barbosa, 40 anos, fez um cruzeiro pela primeira vez em 2009. Curtiu tanto a experiência que voltou da viagem decidida a trabalhar em cruzeiros. Para se habilitar a uma vaga, fez os cursos necessários, acionou agências e aguardou por uma oportunidade. Ela só surgiu dois anos depois, e Jamile não pensou duas vezes. Embora estivesse trabalhando na sua área na época, aceitou a vaga na hora . Passou um ano e cinco meses na vida em alto mar, com direito a conhecer 11 países e interagir com pessoas de mais de 40 nacionalidades. Neste relato em primeira pessoa, ela conta todas as dores e delícias da experiência.

"Fiz um cruzeiro, pela primeira vez, com a minha mãe, em 2009. Essa viagem foi um presente. Lá, conversei com muitas pessoas que trabalhavam no navio e elas me contaram suas experiências. Ao terminar a viagem, mantive contato com a maioria. Como morava em Salvador na época, sempre que atracavam na cidade, os encontrava para passear. Foi através desses contatos que tive vontade de trabalhar em cruzeiro.

Na época, pesquisei como era e o que precisava. Descobri que tinha que ir para Santos fazer um curso de segurança de navio, que era obrigatório e fiz também um de animação. Em seguida, me inscrevi em algumas agências e fiquei aguardando ser chamada. Segui minha vida e só me chamaram dois anos depois. Estava bem na minha área, trabalhando e crescendo na empresa, quando surgiu a oportunidade de embarcar em um cruzeiro. Conversei com meu chefe na ocasião e recebi todo apoio para ir e voltar.

O que me despertou para esse trabalho foi melhorar os idiomas, conhecer novos lugares e me divertir conhecendo novas pessoas…Trabalhar no cruzeiro foi uma experiência fantástica. Desenvolvi meu inglês, aprendi italiano, espanhol, um pouquinho de francês e de alemão. Também conheci muitos lugares: Itália, Portugal, Espanha, Turquia, Rússia, França, Grécia, Dubai, Madagascar, Namíbia e Cidade do Cabo, na África do Sul. Conheci muita gente e amadureci muito. Trabalhar com culturas diferentes (mais de 40 nacionalidades) e administrar tempo, dinheiro e regras em um espaço como um navio é algo desafiador.

na hora por Acervo pessoal

Acho que os maiores desafios foram os conflitos e a questão emocional. Você convive com muitas pessoas diferentes e, ao mesmo tempo, está longe da sua família. Você trabalha, mora, tem conflitos com as mesmas pessoas o tempo todo. Diferente do que ocorre quando você trabalha em terra, não tem distância. No trabalho em terra, quando você tem um estresse, vai ver sua mãe, suas amigas, vai malhar, faz alguma coisa diferente...

Lá, por mais que seja um navio enorme, você vai encontrar essa pessoa na mesma hora ou em algum momento. Pode ser sua colega de quarto, pode ser seu colega de trabalho direto. E aí, o que é que você faz? Você precisa ter controle emocional. E ter controle emocional  é difícil quando você está muito cansado, longe da sua família, ou fazendo talvez o que você não goste, o que não foi o meu caso, porque eu escolhi o que eu queria fazer. Antes de embarcar nessa experiência, eu conversei muito com as pessoas pra saber os prós e os contra de trabalhar em cruzeiro. Fui muito ciente do que estava me esperando, mesmo assim foi difícil.

É muito bacana ver os pontos bons, mas as pessoas também têm que se preparar, saber o lado ruim. E qual é o lado ruim? É não ter uma legislação ou, pelo menos, não tinha uma legislação na Europa para o trabalhador brasileiro. Cheguei a trabalhar 16 horas ininterruptas e não tive folga no mesmo nível. E tive que seguir sorrindo, porque trabalhava com animação. Essas questões batem muito na cabeça e no corpo. A falta de legislação acaba atrapalhando, espero que isso tenha mudado.

Também é importante ir com um foco. Meu foco não era guardar dinheiro, era conhecer lugares. Fui ciente de que quem converte não se diverte. Queria conhecer tudo o que eu pudesse, mas lembrando que eu não tinha dias de folga, tinha horas de folga. Então, você aproveita os horários que você tem. Por isso, digo que a pessoa tem que ter objetivo, foco e noção, principalmente, da lista negativa de coisas, da função que ela vai fazer.

No dia que o navio está aportado, por exemplo, a gente acordava cedo, porque é a animação que orienta as pessoas. A gente ficava nos lugares centrais de circulação, explicando: olha, a saída é por aqui. Depois que o povo saía, uma parte tinha folga e outra trabalhava. Uma parte trabalhava de 9h às 13h e depois ficava livre de 14h às 18h, porque o navio saía depois. Não tinham dias de folga, tinham horas.

No Brasil, a regra é diferente. Você não pode trabalhar 16 horas consecutivas, eles tinham que dar folga. Era melhor trabalhar no Brasil. O brasileiro também é mais divertido, mas, ao mesmo tempo, dava mais trabalho. Acha que, porque pagou, era o dono do cruzeiro, né? Então, era muito mais tumulto, mais confusão e falta de respeito. Em compensação, você tinha as regras brasileiras que te faziam não trabalhar 16 horas seguidas, mas você continuava a trabalhar muito.

Praticamente, toda semana a gente tinha curso de segurança, treinamento de bomba, de incêndio... A gente tinha um bar, academia... Algumas pessoas conseguiam tempo, eu não conseguia. É como eu falei, quando você tem hora extra, ou limpa seu quarto, ou fala com sua mãe, ou você sai. Então, você acaba escolhendo algumas coisas. Tinha vezes que, na hora do almoço, eu preferia comer rápido para sair correndo e falar com a minha família. Ainda tinha a questão do fuso horário. Mas o direito que a gente tinha era ao salário, essas horas de folga e a sair quando o navio aporta, dependendo do seu horário, né? A gente tinha um bar lá que a gente pagava mais barato, um bar para a tripulação.

Eu podia frequentar as mesmas boates e bares dos passageiros, mas pagava o mesmo preço que eles. Como era da animação, não tinha direito a gorjeta, só a salário. Recebia 900 euros no primeiro contrato, o equivalente hoje a quase R$ 5,7 mil. Só recebia gorjeta quem trabalhava com serviço, restaurante, camareiro. No caso deles, ganham salário e gorjetas.

Depois de tudo que vivi, posso listar que os pontos positivos foram conhecer novos lugares, novas culturas, aprender a administrar melhor o tempo e o dinheiro. Também era cômodo ter comida pronta, academia, bar, tudo no mesmo lugar. Mas também teve os pontos negativos: a distância da família, a falta de regras para tempo de trabalho, a inexistência de férias e folgas e a promiscuidade. É comum ver as pessoas terem vários parceiros sexuais numa noite, suruba, orgia, tudo isso rola muito no navio. É um Big Brother de verdade, mas com uma intensidade absurda. Mas, apesar de tudo o negativo que eu citei, acho que foi muito positivo para mim e recomendo. Mas sugiro que as pessoas conversem com quem trabalhou, com várias empresas, para ir sabendo o que vai encontrar de bom e de ruim".