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Larissa Almeida
Publicado em 26 de maio de 2025 às 06:00
Da roupa ao cheiro característico de bebê, a casa da artesã Sheila Carapiá há quase 13 anos conta com integrantes extras na família: os bebês reborn. Os bonecos ultrarrealistas, que existem desde o início dos anos 2000 e, recentemente, se tornaram uma febre nas redes sociais, entraram na vida de Sheila em um momento delicado. Com prognóstico de morte devido a complicações de saúde, ela afirma que eles simbolizaram uma nova chance na sua vida. >
Tudo começou em 2012, quando a filha de Sheila pediu uma boneca reborn para a mãe. À época, a artesã havia sobrevivido a três paradas cardíacas e tinha sido diagnosticada com um derrame nos dois lados da área entre os pulmões e a parede torácica, e arritmia. Os médicos, na falta de novos recursos de tratamento, tinham dado alta para que ela descansasse, sem mais expectativa de melhora. >
O pedido da filha, então, se tornou uma missão. Ela procurou uma boneca reborn na internet e descobriu que não havia exemplar no Brasil, sendo necessário desembolsar R$ 3 mil para atender o desejo da menina. Foi então que viu que não teria condições e, a pedido da própria criança, decidiu pintar uma boneca que a filha já tinha. >
Sheila tentou se conformar com o que podia oferecer, mas não abandonou completamente a ideia. À época, ela, que ainda não era artesã e trabalhava como enfermeira, procurou saber mais sobre a arte reborn enquanto pintava a boneca da filha. >
A família, que acreditava que não teria tanto tempo com Sheila, ficou impressionada com o impacto da pintura na saúde dela. Notando o avanço da sobrinha, uma tia, que era arteterapeuta, decidiu ajudá-la ao comprar alguns dos materiais necessários para a confecção de um bebê reborn. Enquanto aguardava os materiais chegarem, Sheila mergulhou no tema, chegando a fazer um curso online com artistas canadenses. >
“Todos os artistas reborn entraram nesse ramo porque eram amantes de arte, mas eu não entendia nada. Para entender o conteúdo do curso, usava o tradutor do Google. Enquanto eu aprendia e começava a pintar, as crises de arritmia que eu tinha começaram a diminuir, porque meu foco saiu do problema e foi para a arte”, conta. >
Quando o primeiro bebê reborn confeccionado pelas mãos de Sheila ficou pronto, ela estava concluindo um tratamento com iodoterapia – indicado pelos médicos para o quadro dela. Não só a filha ficou encantada pelo trabalho da mãe, como os familiares e amigos, que passaram a pedir que ela criasse outros exemplares. Segundo conta, isso foi fundamental para a cura que viria a ter. >
Arte reborn
“Enquanto eu ia fazendo, aquilo era uma terapia. Eu ia me tratando até que um dia eu fiz um bebê que saiu perfeito. Foi quando eu senti a segurança de que eu podia trabalhar com a arte. Eu fiz um bebê reborn, coloquei um anúncio online e, em um único dia, tive 70 pedidos, sendo que o bebê mais barato que eu tinha custava R$ 3 mil”, relata. >
Com investimento da tia, que apostou na sobrinha desde o primeiro momento, Sheila passou a confeccionar os bonecos ultrarrealistas e deu início a Sheila Reborn, sendo a pioneira do ramo em Salvador. Àquela altura, ela já entendia que os bebês reborn eram utilizados como instrumento de identificação e processo de cura de outras pessoas. >
“A maioria dos meus clientes é composta por pessoas que valorizam o valor emocional do bebê reborn. São pessoas que compram o boneco para educar o filho, dando a noção de responsabilidade e organização, pessoas que compram para gerar identificação e elo em familiares com Alzheimer, síndrome de Down e outras condições”, diz. >
Diante do sucesso das suas produções, Sheila chegou a abrir um ateliê, mas passou a trabalhar de casa depois que percebeu que a rentabilidade era baixa. Ela conta que chega a lucrar R$ 3 mil por bebê reborn, sendo que já chegou a faturar R$ 12 mil por produção. Conforme explica, os custos de produção são altos, o que justifica a margem de lucro pequena diante do faturamento. >
Apesar disso, Sheila ressalta que a arte reborn mudou sua vida e a da sua família. “Confeccionar o bebê reborn mudou completamente tudo em todos os aspectos. Essa arte me deu condições de comprar meu carro, reformar a casa, fazer viagens, ter tempo com a família e ajudar outras pessoas. Então, o bebê reborn mudou a minha vida. Minha família ficou muito mais unida, porque todos nós chegamos a trabalhar juntos”, frisa. >
Atualmente, Sheila trabalha na própria casa e, em períodos de maior demanda – como Natal e Dia das Mães – aluga um espaço para confeccionar os bonecos ultrarrealistas. Em outros períodos, é mentora de outras artesãs em cursos rápidos. Por meio do instagram @sheila_reborn, aceita encomendas, sendo que tem média de produção de dois bebês reborn por mês. >