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Yasmin Garrido
Publicado em 15 de abril de 2019 às 17:02
- Atualizado há 2 anos
O Ministério Público da Bahia (MP-BA) iniciou, na manhã desta segunda-feira (15), o depoimento dos participantes do concurso para a Prefeitura de Alagoinhas. As provas foram aplicadas na própria cidade do nordeste baiano e em Salvador. De acordo com o órgão, “as irregularidades apontadas serão apuradas”.>
Um dos candidatos que participaram do exame, Roni Muniz, 41 anos, contou ao CORREIO que, além de todos os problemas identificados pelos candidatos no momento da aplicação das provas, outras surpresas - desagradáveis - surgiram no momento da divulgação do gabarito.>
“Depois que saí da prova, já com o caderno em mãos, fui conferir com o gabarito divulgado pela empresa Nosso Rumo. Os textos das questões indicadas na minha prova não coincidiam com as disponibilizadas na internet. Eu fiz a prova tipo D, mas parece que eles divulgaram os gabaritos trocados”, reclamou ele, que pretende uma vaga para motorista.>
Da mesma forma que teve seu gabarito trocado, Roni acredita que os demais candidatos também tiveram o mesmo problema. Por isso, eles buscaram a ajuda do Ministério Público. “O que a gente espera é que a prova realizada seja considerada nula e nos seja dada outra chance para fazer o exame”, explicou.>
Já Orlando Sales, 26 anos, que tenta uma vaga para assistente administrativo, disse que as irregularidades tiveram início desde a divulgação do edital do concurso. “Em uma parte, o edital afirmava que o critério para a prova ser realizada em outro município era o número de inscritos ser maior do que o limite comportado por Alagoinhas. No entanto, a cidade tinha vários pontos de provas e, mesmo assim, algumas pessoas prestaram o exame em Salvador”, disse.>
Ainda segundo o estudante, os concorrentes não tiveram que apresentar documento com foto nem tiveram a impressão digital coletada no momento da realização da prova. “Isso só comprova a fragilidade do concurso”, ressaltou.>
Orlando também destacou que os fiscais de prova eram despreparados e não souberam passar as instruções com precisão. “Muitas pessoas fizeram a prova utilizando relógio ou celular, o que é um absurdo”.>
Ao todo, a prefeitura abriu 505 vagas, sendo 97 para contratação imediata e outras 408 para formação de cadastro reserva. A taxa de inscrição custou R$ 44 para os cargos de nível médio e R$ 58 para nível superior. Os salários iniciais variam entre R$ 1.198,47 e R$ 2.715,63.>
Desconfiança Cerca de 100 candidatos para vagas na Prefeitura de Alagoinhas criaram um grupo de WhatsApp, no qual são discutidas estratégias a serem adotadas a partir de agora. De acordo com Roni Muniz, o que todos querem é um novo exame.>
Ao concordar com o concorrente, Orlando afirmou que, além da realização de uma nova prova, é esperado que a prefeitura contrate outra empresa para ficar à frente do certame. “A gente percebeu certo descaso e falta de organização por parte dessa empresa, que foi escolhida pela gestão municipal sem que qualquer critério tenha sido divulgado”, disse.>
Ainda segundo Orlando, “não houve a menor preocupação com a segurança do exame, uma vez que os candidatos iam ao sanitário desacompanhados, portavam aparelhos eletrônicos, dentre outras irregularidades”. Roni também lembrou que muitas fotos da prova começaram a circular por grupos de WhatsApp ainda durante a realização do exame. “As pessoas fotografaram as questões, o cartão de respostas, sendo que, em qualquer concurso público, não se pode utilizar celular”.>
Na noite deste domingo (14), Orlando criou uma petição virtual que pede a anulação do certame. O documento já soma mais de 2 mil assinaturas. Fotos da prova circularam em grupos de WhatsApp (Foto: Acervo pessoal) Prejuízos Como se não bastassem todos os problemas vivenciados pelos cerca de 7 mil candidatos que responderam à prova no turno matutino, de acordo com Orlando, no período da tarde a empresa aplicou a mesma prova realizada pela manhã. “As pessoas que foram fazer a prova à tarde já sabiam os detalhes, as respostas. Elas foram beneficiadas, já que as informações vazaram”, criticou.>
Outras queixas de candidatos se referem à proposta de realização de uma “prova em grupo”, em razão da falta lugares para os candidatos que fizeram o exame na Faculdade Santos Antônio, em Alagoinhas. A contadora Flávia Vasconcelos, 32 anos, foi uma das pessoas afetadas com a confusão.>
Ela contou ao CORREIO que duas salas que iriam funcionar para o concurso estavam fechadas e que os participantes acabaram ficando sem cadeiras para fazer a prova. A solução encontrada foi colocar os participantes para fazer a prova em mesas coletivas, o que eles não aceitaram. “A gente precisou chamar a polícia”, disse.>
Outros candidatos ouvidos pela reportagem também se queixaram do material disponibilizados para guardar os pertences pessoais. “Era um saco transparente, sem lacre, semelhante ao que utilizamos para comprar frutas e verduras no mercado”, descreveu Roni Muniz.>
Processo instaurado Ao CORREIO, a prefeitura de Alagoinhas informou que instaurou um procedimento administrativo para apurar as irregularidades denunciadas por participantes do concurso. Em nota, a gestão explica que uma reunião realizada na manhã desta segunda-feira (15) entre os representantes da Comissão de Acompanhamento e Fiscalização do Concurso, das secretarias de Administração, Educação, Governo e Procuradoria Geral do Município determinou que a aplicação da prova será investigado pelo município.>
"Todos os relatos e fatos que chegaram ao conhecimento da gestão municipal serão devidamente apurados e integram relatório elaborado pela Comissão de Acompanhamento e Fiscalização do referido concurso", diz o documento.>
A empresa Nosso Rumo foi notificada pela prefeitura de Alagoinhas para apresentar contrarrazões e "garantiu a rigorosa apuração dos casos de divulgação de fotos das provas, objetivando a identificação dos seus autores e imediata desclassificação dos candidatos correspondentes, na forma prevista no edital, sem prejuízo das repercussões civis e criminais incidentes".>
A prefeitura ainda afirmou que o que ocorreu no certame foram "problemas isolados em um dos locais de realização das provas" o que não teria comprometido a realização da prova.>
"Todas as etapas e decisões do procedimento de apuração serão oportuna e tempestivamente comunicadas aos órgãos de controle, especialmente ao Ministério Público do Estado da Bahia, e informados à população", escreveu em nota.>
O cronograma do concurso está mantido.>
Uma outra nota emitida pela prefeitura anteriormente ainda afirmou que o Instituto Nosso Rumo afirmou que "os critérios de segurança foram rigorosamente adotados na aplicação". "Com a utilização de lacres nos malotes de cadernos de questões e folhas de respostas, cumprimento do tempo de prova, coleta de três assinaturas do candidato na frente da folha de respostas e controle rigoroso dos cadernos e folhas de respostas, através de formulários assinados por candidatos e outras testemunhas, que acompanham a abertura e o fechamento dos malotes", diz a prefeitura de Alagoinhas.>
* Com supervisão da subeditora Fernanda Varela>