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Roberto Midlej
Publicado em 23 de agosto de 2021 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
São 8 horas da manhã de um domingo nublado em Salvador e a cidade havia amanhecido bastante chuvosa. Mas isso não desanimou Nanni Carneiro, 43 anos, a chegar à Orla às 6 horas, como costuma fazer todo fim de semana e montar a tenda onde funciona sua loja, a Pra Correr Store, que atende ao público que vai praticar esportes naquela área, perto do Centro de Convenções.>
Como Nanni, há outros pequenos empreendedores que estão se aproveitando do movimento na Orla para vender artigos ao público esportista, como camisetas, óculos, viseiras e meias e surge aí um novo nicho de comércio. Nanni criou a loja em novembro de 2019 junto com o marido Marcelo Barreto e começou a vender somente pelo Instagram @pracorrerstore. >
A empreendedora deu início ao negócio porque havia ficado desempregada, depois de trabalhar no setor industrial por dois anos. Praticante de corridas há dez anos, o casal tinha dificuldades em encontrar em Salvador produtos adequados para o esporte e viu aí uma chance de investimento. Empolgou-se com a demanda das vendas pela internet, tomou coragem e resolveu partir para a venda física ainda mesmo naquele Verão.>
Primeiro, instalou-se no Jardim de Alah e depois foi experimentando outros pontos, até chegar no Centro de Convenções; fez questão de obter autorização da Prefeitura. Nanni é disciplinada e, além de ter o alvará, só trabalha com produtos de primeira linha segundo ela. Tudo isso para fidelizar a clientela. E a estratégia tem funcionado, como a reportagem testemunhou. Enquanto esteve lá, em menos de meia hora, o CORREIO viu duas clientes que já haviam feito compras ali retornarem para falar com Nanni.>
Uma delas foi a administradora Kleyde Mamédio, 56 anos, que corre há mais de 20 anos na Orla. Apesar de tanto tempo de prática, esta foi a primeira vez que ela fez compras por ali. No sábado, havia adquirido um top e um short por R$ 205. Satisfeita, retornou apenas para cumprimentar Nanni e Marcelo. Garantiu ao repórter que voltaria outras vezes porque o preço era bem compatível com a qualidade do produto. "Dei uma chorada, ela também e conseguimos fechar por um preço justo. Mas vou aparecer mais", disse a administradora, que costuma correr nos finais de semana e às terças-feiras.>
A satisfação de Kleyde tem motivos e Nanni explica por que: "Aqui, é tudo apropriado para corrida. Não temos meia de algodão, por exemplo, porque elas ficam 'pesadas' com o suor e incomodam quem corre. Nossos produtos são de poliamida e evitam criar bolha nos pés ou mau cheiro".>
Quem também desmonstrou estar satisfeita foi a bacharel em direito Larissa Bispo, de 39 anos, que chegou para pegar a encomenda que havia feito de quatro camisas. Aproveitou e comprou uma máscara de proteção apropriada para corrida. Na verdade, é a sexta que compra na mão de Nanni. >
Cada uma custou em torno de R$ 50, mas ela garante que vale a pena. Numa loja de departamento, havia comprado uma camisa por R$ 40, mas prefere pagar um pouco mais caro com Nanni: "Essa outra, eu ainda uso. Mas é só pra não jogar meu dinheiro fora mesmo". O capricho de Nanni e Marcelo tem dado resultado: já receberam até convite para abrir uma loja em um shopping. Mas acham que ainda não é o momento, preferem ter mais segurança e experiência. Nada mal, afinal começaram o negócio com um investimento inferior a R$ 5 mil. Erivan Oliveira trabalha em Piatã (foto de Nara Gentil) Em Piatã, também já tem gente descobrindo o filão, como Erivan Oliveira, que chegou ali em janeiro e vende camisetas com proteção solar e shorts térmicos. Mas Erivan varia seus produtos de acordo com a estação: no início do inverno, a Orla estava fraca e ele preferiu usar o carro para ter uma espécie de loja móvel. As camisas e calças de moletom fizeram sucesso.>
Agora, é hora de ficar de olho no Verão e ele já aceita pedidos por encomenda. Camisas e shorts custam R$ 35. E já está de olho nos ciclistas, que procuram por short térmico em gel. Erivan costuma ficar por ali nos finais de semana e chega às 7h. Às vezes, fica até 17h ou 18h, a depender do movimento.>
O material que Erivan vende vem de Pernambuco e do Ceará e quem costuma trazer são os amigos dele, que fazem excursões até aqueles estados só para adquirir os produtos, porque lá são mais baratos que na Bahia.>
Erivan trabalha como operador de empilhadeira em uma empresa de logística, mas quer mesmo viver de seu negócio próprio. E parece estar no caminho certo: hoje, a renda com as roupas que vende já supera o salário fixo que tem no emprego. A esposa dele também vende roupas, mas não tem emprego fixo. O casal tem uma filha de três anos, Valentina. Quer conhecer a loja virtual de Erivan? Dê uma olhada no Instaram @vanzinhostore.>
No Jardim de Alah, é Joelma Santos, de 37 anos, que vende chapéus, bonés e doleiras. Os preços são mais modestos, de R$ 20 a R$ 30. "Se for mais caro, o pessoal reclama, né? Brasileiro não é mole!", brinca a vendedora. Ela fica nos finais de semana e feriados. De segunda a sexta, escolhe apenas dois dias, pois o movimento é menor.>
Moradora de Cajazeiras, ela pega os produtos, enfia numa sacola e pega um ônibus às 5h30 para chegar em seu ponto por volta das 6h. Fica ali até as 13h, mais ou menos. Enquanto conversa com a reportagem, uma cliente, de dentro do carro mesmo, improvisa um drive-thru e pede a Joelma uma doleira. A comerciante pega a maquininha de cartão, vai até o carro, conclui a venda. "Agora, aceito débito e crédito, o pessoal pedia muito", diz, orgulhosa. >