Expedição do Projeto Baleia Jubarte percorre mil milhas para monitorar os animais

Pesquisadores e tripulantes dormem no barco, onde devem passar cerca de 30 dias no trajeto até chegar em Vitória

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  • Da Redação

Publicado em 2 de setembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Projeto Baleia Jubarte/Divulgação

Serão mais de mil milhas náuticas a bordo do catamarã Skipper, uma jornada que deve durar cerca de 30 dias, na qual os pesquisadores do Projeto Baleia Jubarte percorrem o mar que separa Praia do Forte, no Litoral Norte da Bahia, de Vitória, capital do Espírito Santo. O objetivo da empreitada é monitorar as baleias, inclusive, os possíveis impactos da pandemia do coronavírus na população da espécie.

A expedição partiu de Salvador rumo a Vitória no dia 27 de agosto, depois de fazer alguns cruzeiros entre a capital e Praia do Forte entre dos dias 15 e 20 do último mês. “Estamos em quase ¼ da viagem. Tivemos que atrasar um pouco a saída de Salvador porque o tempo ficou ruim”, disse o Coordenador de Comunicação do Projeto Baleia Jubarte e chefe da Expedição Entre Baleias e Golfinhos 2020, Enrico Marcovaldi.

Em 5 dias de cruzeiro de pesquisa, a equipe do projeto já passou por Salvador, Morro de São Paulo, Garapuá, Barra Grande até chegar em Itacaré, onde estão atracados no porto já que o mau tempo impediu a baleiada, como é chamada a observação das baleias. Com muitas milhas pela frente, os pesquisadores ainda vão parar em Ilhéus, Cumurixatiba, Abrolhos, Caravelas e Vitória. O retorno para Salvador deve ser mais rápido, de até 5 dias, se o tempo deixar.

A embarcação só deve zarpar de Itacaré na sexta-feira (4) pois os membros do projeto vão participar, na quinta (3), da inauguração da Ilha Interpretativa da Baleia Jubarte, localizada nas dependências do Eco Beach Club, na Praia da Concha.

Nem sempre o mar acolhe os navegantes com tranquilidade. Logo nos primeiros dias de viagem, a equipe seguiu em direção a Morro de São Paulo em meio a fortes ventos e um mar mexido reflexo da da frente fria que atravessou o Brasil no final de agosto.

“O barco é muito seguro e a gente tem uma tripulação muito experiente. Estamos acostumados a ficar um certo tempo no mar, cinco dias é pouco”, disse Enrico. “A gente está em uma embarcação top, um barco muito bom. Não temos problemas com o mar”, completou o capitão do Skipper, André Correia. Depois de anos, as baleias jubarte continuam encantando os pesquisadores (Foto: Projeto Baleia Jubarte/Divulgação) Ancorado em Itacaré, onde chegou na segunda (31), Enrico Marcovaldi conta que já são muitos anos de cruzeiros de pesquisa, mas a emoção de avistar os mamíferos aquáticos é sempre a mesma: “tem um ditado que é quem vê uma baleia não esquece nunca mais. A 1ª vez é inesquecível e todas as outras vezes parecem que são a primeira. É uma beleza ver um animal com 40 toneladas saltando, é uma maravilha escutar o canto das baleias”.

Mesmo quem já está acostumado a observar as baleias se encanta com o show dos mamíferos. O Capitão da embarcação está na sua primeira grande expedição e está encantado com os animais observados. “Eu vi baleia durante a minha vida toda, mas ver com o pessoal do projeto é diferente porque dá para entender tudo que está acontecendo em cada movimento e salto das baleias”, contou.

Rotina A vida dentro da embarcação não é muito diferente da em terra firme. Os tripulantes e pesquisadores acordam, trabalham e dormem como sempre fazem, a única mudança é que a casa é em alto mar. “É como uma casa de praia flutuante”, relatou o capitão do catamarã. O barco possui quatro quartos, sala, cozinha e “é muito confortável” garantiu Enrico Marcovaldi.  

“A gente acorda e sai cedo pro mar para a observação das baleias, entre 7h e 8h. Voltamos para o porto por volta das 17h. Mas tudo isso depende do tempo, não somos nós que mandamos”, afirmou Enrico. A equipe ainda planeja passar dois dias em alto mar no trecho entre Ilhéus e Porto Seguro.

Na rotina do grupo, foram incluídas as precauções para evitar contágio pelo coronavírus. Além da redução da equipe - apenas três pesquisadores fixos estão realizando a viagem, todos seguem os protocolos de segurança. “Nossa equipe geralmente é de 6 a 7 pessoas em expedições do tipo. Apenas um pesquisador local pode subir no barco conosco. Estamos nos cuidando muito aqui, com uso de álcool em gel e evitando descer na terra, por exemplo”, afirmou Enrico.

Os pesquisadores levaram a Jubarte Voadora, uma pipa em formato de baleia, para o cruzeiro científico. Depois de um primeiro dia com a avistagem de muitos animais, a equipe comemorou com um voo da pipa em Salvador, na Enseada da Ribeira. A pipa ainda rendeu um belo clique ao voar em frente a um arco-íris no fim de tarde de Barra Grande, no último domingo (30). A pipa em formado de baleia voou no fim de tarde em Barra Grande (Foto: Projeto Baleia Jubarte/Divulgação) Com a viagem, o projeto vai monitorar toda a área acompanhada de uma vez. Em poucos dias, o barco chega a região de abrolhos, que tem a maior concentração de Baleias Jubarte. Nestes dias de expedição, os pesquisadores já perceberam uma redução nas atividades do mar, como o tráfego de navios, e também uma grande quantidade de filhotes. Entretanto, ainda não é possível medir os impactos da pandemia na espécie.

“Essa temporada tem como característica muitos filhotes. A gente também está vendo menos navios cargueiros e redes de pesca devido à pandemia, mas não tem como dizer que isso vai influenciar o comportamento dos animais. Isso só poderá ser avaliado no final da temporada. As temporadas são cíclicas e em 2017 tivemos uma parecida com o que estamos vivendo, então, fica difícil dizer o que é causado pela pandemia”, explicou Enrico, que, dentre tudo que já ocorreu durante a viagem, a quantidade de filhotes observados foi o que mais o impressionou.

Entre Salvador e Itacaré, já foram avistadas 72 baleias, sendo 18 filhotes. Outros 60 animais da espécie, dentre eles, 16 filhotes, foram observados nos 4 primeiros cruzeiros realizados entre a capital baiana e Praia do Forte. A população brasileira de baleias-jubarte é estimada em cerca de 20 mil animais, que frequentam a costa brasileira do Sudeste e Nordeste entre junho e novembro para acasalar, parir e amamentar os filhotes.

Dentre as atividades de pesquisa, são realizadas contagens dos animais avistados, foto-identificação de indivíduos, fotogrametria e registro visual para avaliação de condições de saúde, biópsias de pele e gordura para estudos genéticos e de contaminação por poluentes, e monitoramento acústico do ambiente marinho e do canto das baleias com hidrofones.

Além de estudar as baleias, os pesquisadores também buscam entender os impactos da pandemia para quem é parceiro do projeto, como os operadores do turismo de observação de baleias, e os protocolos montados para a eventual retomada segura das atividades de observação de baleias. 

Na região, o Parque Nacional de Abrolhos, localizado em Caravelas, reabriu de forma nesta terça (1º). A unidade de conservação (UC) federal estava fechada desde 17 de março por determinação do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por conta da pandemia do novo coronavírus. 

De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o público poderá usufruir da visitação comercial embarcada - que inclui a observação de fauna como baleias jubarte, flora e trilha monitorada em ilha - e todos os pontos de mergulho livre e autônomo. Porém, ainda permanecerá fechado ao público o Centro de Visitantes do Parque e a possibilidade de visitas por embarcações particulares. O desembarque nas ilhas será permitido apenas aos visitantes que estiverem em passeios com pernoites.

Ao fim da expedição, o Projeto Baleia Jubarte vai lançar um documentário sobre os dias no mar. A ideia é mostrar como o animal está se comportando na pandemia e como todos os parceiros do projeto estão lidando com a situação.

“Vamos mostrar como foi a expedição. O documentário é mais ou menos como estão as baleias e as pessoas do mar. Entrevistamos muitas pessoas, como pescadores, agentes de turismo, biólogos. Esperamos sair algo bem bonito”, disse Enrico.

*Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco