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Yan Inácio
Publicado em 16 de maio de 2025 às 20:22
Após mapeamento realizado entre janeiro e fevereiro deste ano, a operação para remover colônias do coral invasor Chromonephthea braziliensis dos recifes da Baía de Todos-os-Santos (BTS) começou nesta sexta-feira (16). A força-tarefa, que reúne mergulhadores, pesquisadores e técnicos ambientais com apoio de instituições públicas e privadas, segue até a próxima terça-feira (20). >
A ação busca erradicar a espécie que tem se alastrado com rapidez e comprometido a saúde dos ecossistemas marinhos. O trabalho é coordenado pela ONG Pró-Mar, em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente da Bahia (Sema), o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) e universidades.>
O coral, identificado há cerca de um ano por pescadores locais, ameaça corais nativos ao competir por espaço e liberar substâncias que causam necrose em outros organismos marinhos. “É uma corrida contra o tempo. Essa espécie tem uma taxa de crescimento alarmante e pode alterar completamente a estrutura ecológica dos recifes se não for contida agora”, explica Tiago Porto, diretor de Política e Planejamento Ambiental da Sema.>
A técnica utilizada na operação envolve a remoção manual das colônias, seguida da limpeza do substrato com escovas de aço para impedir que o coral volte a crescer. Em áreas mais profundas ou de difícil acesso, os mergulhadores aplicam uma solução de sal ácido, garantindo a eliminação completa da espécie.>
Operação em larga escala>
“Essa é a primeira operação em larga escala para erradicação do C. braziliensis no Brasil, e pode servir como modelo para outros estados costeiros que venham a enfrentar o mesmo problema”, destacou o fundador da ONG Pró-Mar, Zé Pescador. A organização lidera as ações com base em um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) firmado com a Sema, que prevê ainda a elaboração de um Plano de Ação para Conservação de Recifes de Corais na Bahia.>
Paralelamente à operação, moradores e pescadores da região estão sendo capacitados para ajudar na identificação e controle do coral invasor. Oficinas práticas e encontros educativos têm promovido o engajamento da comunidade local, transformando os próprios afetados em agentes da conservação marinha. “Esses corais atrapalham tudo. Eles tomam conta dos recifes e os peixes somem. Isso mexe direto com nossa renda e com a vida da gente que vive do mar”, afirma Fernando Mascarenhas, pescador há mais de 40 anos, nascido e criado em Itaparica.>
Preservação>
A Baía de Todos-os-Santos, além de sua relevância cultural e histórica, abriga um dos mais ricos ambientes recifais do Atlântico Sul, essenciais para a atividade pesqueira e para a proteção natural da linha costeira. Entre janeiro e fevereiro deste ano, seis expedições realizadas por pesquisadores ajudaram a mapear a extensão da infestação de espécies invasoras e a definir as áreas prioritárias para intervenção. A primeira etapa da ação está concentrada na região da marina de Itaparica, onde se iniciou o processo de controle e contenção.>
O CORREIO acompanhou uma das expedições ao Forte de São Lourenço, na Ilha de Itaparica, no início deste ano. A reportagem mostra como os pesquisadores testaram métodos para erradicar a espécie invasora e os prejuízos que a infestação causou na região.>
Na sequência, novas campanhas de monitoramento serão realizadas para evitar a recolonização da espécie. O esforço reúne diferentes instituições, contando com o apoio da Marinha, da Capitania dos Portos, do ICMBio, do Ibama e de universidades e centros de pesquisa como a Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e o Senai/Cimatec.>