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Yan Inácio
Publicado em 20 de novembro de 2025 às 06:00
Com mais de 90 mil m² de área construída, doze pavilhões e uma população superlotada de mais de 2.000 reeducandos, o Conjunto Prisional de Feira de Santana, localizado na segunda maior cidade da Bahia, tem grades corroídas pela ferrugem, portões de celas empenados e um sistema de revista ineficaz que permite a entrada de objetos proibidos. >
Esses problemas estruturais são a principal causa das fugas de detentos, apontam policiais penais que trabalham no presídio. Três presos já fugiram da unidade prisional em 2025, de acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização da Bahia (Seap). Um vídeo enviado à reportagem por um agente penitenciário que não quis se identificar mostra um dos ferrolhos de suspensão de celas de um dos pavilhões completamente corroído. >
A estrutura está localizada em uma passarela que também apresenta corrosão aparente. “Sem esse ferrolho funcionando corretamente, a tendência é que cause dificuldades no fechamento e possivelmente fique vulnerável a fugas”, explica. Segundo o policial, a oxidação torna as grades de celas alvos fáceis de serrotes que entram no presídio por conta da fiscalização ineficaz. Ele revela que o sistema de segurança conta apenas com um detector de metais que está constantemente em manutenção.>
Conjunto prisional de Feira de Santana tem diversos problemas de infraestrutura
Com a proibição da revista íntima e a falta de um sistema com body scan, a fiscalização exibe diversas fragilidades. “Existem muitos pontos de falha. Visitantes comuns, como parentes dos presos, que não passam por um sistema de segurança adequado, é só mesmo a visualização [por parte dos policiais] e a tentativa de encontrar algo, de tentar identificar na apreensão do visitante ali algo estranho”, diz. A falta de infraestrutura atinge até a comunicação dos policiais penais. >
Outro agente que não quis se identificar revelou que não há rádios para a comunicação. Dessa forma, durante os plantões, mesmo com a proibição do uso de celulares na unidade prisional, eles se comunicam por meio de grupos no WhatsApp. “Nós não temos essa tecnologia de interdição de sinal, de bloqueio de sinal de celular. A gente não consegue entender o porquê. Sabe-se hoje que as unidades prisionais são espaços de gestão do crime e é de entendimento de todos que o celular é o principal instrumento utilizado para fazer essa gestão das questões externas”, questiona.>
As falhas estruturais geram também danos psicológicos aos policiais. Os agentes entrevistados pela reportagem dizem que temem diariamente pela própria integridade física. “Nossa vida mesmo a gente coloca em risco. Além do que o trabalho já exige ou pela falta de efetivo. Se os presos resolverem sair, eles vão sair. A estrutura não tem como suportar”, diz um deles. “Isso faz com que a gente trabalhe mesmo em alerta, com estado psicológico até abalado, porque a gente não sabe o que esse preso pode querer fazer algo contra nós”, relata outro.>
O pesquisador do sistema prisional Henrique Arruda disse, em entrevista ao CORREIO em outubro, que a falta de efetivo é o principal problema do sistema prisional baiano. “Existe um déficit enorme de policiais penais. Só o Conjunto Penal de Feira de Santana deveria ter mil policiais penais, mas ele dispõe de pouco mais de 40 policiais penais. A unidade tem 12 pavilhões, sendo que o plantão, em média, só conta com dez policiais. Então, não há segurança para os próprios policiais penais, logo, eles não podem oferecer segurança para a população”, analisou.>
A Seap foi procurada para responder sobre os problemas estruturais no Conjunto Prisional de Feira de Santana, mas não respondeu até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto.>
O secretário da Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização da Bahia (Seap), José Castro, foi duramente criticado após dizer, em entrevista a um programa de TV local, que as fugas nos presídios do sistema prisional baiano só acontecem por serem facilitadas por agentes penais.>
Durante a entrevista, realizada no Complexo Penitenciário da Mata Escura, Castro também afirmou que as cadeias da Bahia são seguras e não apresentam falhas estruturais. “Os presídios da Bahia são seguros. Quando ocorre alguma fuga, não houve nenhuma falha estrutural, é sempre uma facilitação humana”, disse o secretário.>
A fala foi rebatida pelo Sindicato dos Policiais Penais e Servidores Penitenciários do Estado da Bahia (Sinppspeb). Em nota, a entidade sindical declarou que as falas do secretário “não condizem com a realidade vivenciada no sistema prisional baiano” e que boa parte das unidades prisionais do estado estão “gravemente sucateadas”.>
“Esse discurso é um misto tosco e pútrido de má fé, cinismo e descaso com a realidade da Administração penitenciária do Estado da Bahia, pois as unidades prisionais tem graves problemas de diversas ordens que lamentavelmente ocasionam em fugas que tão gravemente aterrorizam a população baiana e a segurança pública do Estado”, observou o sindicato.>