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Gabriel Moura
Publicado em 5 de fevereiro de 2020 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
O Brasil é, até o momento, um dos países que ainda não tiveram casos confirmados de coronavírus – até essa terça-feira, eram 13 suspeitas. Apesar disso, o primeiro brasileiro a contrair o novo tipo do vírus pode ter sido um baiano. Tudo indica que não, mas o próprio estudante da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e uma médica com a qual ele se consultou não descartam essa possibilidade.>
Tarcicio Rodrigues, 22 anos, estava em Wuhan – cidade da China atualmente isolada por conta de um surto da doença – no início de dezembro. No mesmo mês, apresentou sintomas semelhantes aos causados pelo novo vírus, mas ficou curado alguns dias depois.>
Agora, mesmo caso ele realmente tenha contraído o coronavírus, o período de incubação e a manifestação da doença já passaram, tornando impossível o contágio.>
No rolé em Wuhan, ele fazia parte de um grupo de 14 pessoas da Ufba, sendo 11 alunos e três professores, que participaram de um congresso universitário no local: o Seminário Tripartite que reuniu pesquisadores de Brasil, China e Alemanha.>
A convenção ocorreu entre os dias 2 e 12 de dezembro, período em que os primeiros casos do coronavírus foram registrados na naquela cidade.>
Dois dias após deixar Wuhan, que atualmente está em quarentena, o jovem apresentou febre, dor de cabeça e coriza, sintomas que podem ser tanto do coronavírus quanto de um resfriado comum, quando estava em Barcelona, na Espanha. Tarcicio passou 10 dias em Wuhan (Foto: Acervo Pessoal) Ainda sem saber da epidemia, o estudante tomou apenas um remédio, crente de que não era nada de mais e os indícios da doença sumiram, poucos dias depois.>
Apenas ao chegar no Brasil que ele tomou conhecimento do surto e, ao lembrar dos sintomas que teve, procurou uma infectologista que afirmou que existe a possibilidade de ele ter contraído o coronavírus, apesar de não ser possível obter alguma comprovação disso facilmente. Isso porque o vírus, ao que tudo indica, já deixou o corpo do jovem.“Pulei uma fogueira! Eu fiquei um pouco preocupado no início, mas para falar a verdade agora eu estou até aliviado e torcendo para que eu tenha pego o vírus, pois a infectologista me disse que caso eu tenha contraído o coronavírus, eu me tornei imune, provavelmente. Então, caso ele chegue ao Brasil, eu estou seguro”, comemora.Bom humor Além disso, outro ponto positivo apontado pelo jovem é o boato de que o vírus pode ser curado com álcool, como no caso de um inglês que disse ter ficado bom após beber uísque. “Eu trouxe logo duas garrafas de vinho de arroz que é bem forte, com teor alcóolico de 54%. Então, é só colocar duas doses para dentro que fico bem. E se algum vírus sobrar, o calor de Salvador termina o serviço”, pontua ele, sobre suas estratégias curativas.>
Ao CORREIO, a infectologista Gracimara de Jesus Santos, que atendeu Tarcicio, deu mais detalhes sobre o caso.“É, sim, uma possibilidade de que ele tenha contraído o coronavírus, pois os sintomas e o local onde ele estava apontam para isso. Entretanto, não há nenhuma confirmação. A única certeza que temos é que ele contraiu a doença, seja ela lá qual for, em Wuhan”, especificou.Assim que as notícias do coronavírus tomaram conta dos noticiários, amigos e familiares de Tarcicio que sabiam que ele estava no local começaram a enviar mensagens ao jovem para saber como ele estava.>
“Meu celular começou a tocar 24 horas por dia. Algumas tias minhas mesmo ficaram muito preocupadas e sempre mandavam mensagem perguntando ou comentando dos casos que apareciam ao redor do mundo. Já meus amigos levaram mais na ‘gastação’ mesmo”, comenta.>
Período de incubação Os outros estudantes que estavam presentes na viagem, mesmo sem apresentar sintomas, foram vítimas da preocupação (e também da zoação). É o caso da também estudante Beatriz Rêgo, 24, que além dos 10 dias em Wuhan, estendeu a sua viagem para outras cidades da China e países próximos como Camboja, Laos e Tailândia, todos com casos confirmados do vírus. “Meus amigos me veem e já gritam ‘e aí, coronavírus?’ Virou meu novo apelido. Também já criaram um grupo do WhatsApp que tem eu e uma outra amiga minha que estava na viagem com o nome ‘Corona Girls’. Mas é importante deixar claro que eu não estou com o vírus. O período de incubação já passou, então é impossível”, ressalta a jovem, preocupada se algum familiar ler a reportagem e achar que ela está contaminada.Mas, além da nova alcunha e da experiência de visitar um lugar na pré-quarentena, o que Beatriz sentiu foi alívio por ter escapado da doença. “Agora que já passou o período de incubação, estou bem mais aliviada. Mas, ainda assim, fico preocupada pelo pessoal que ficou por lá também e não conseguiu voltar”, diz ela referindo-se aos colegas que fez em Wuhan - incluindo brasileiros que devem ser trazidos para o país nos próximos dias e serem colocados em quarentena por aqui também para evitar o contágio.>
Segundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), não há nenhum caso confirmado ou nem mesmo de suspeita de coronavírus na Bahia.>
A cidade chinesa é considerada um dos maiores polos tecnológicos do país asiático. Além disso, tem uma grande vocação universitária, com algumas das maiores faculdades do país. Em algumas oportunidades, como neste ano, o local sediou o Seminário Tripartite e, nas últimas edições, estudantes da Ufba sempre participaram do congresso.>
*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier e edição de João Galdea.>