Sem Descanso: trajetória de pai de Geovane, jovem morto por PMs, é contada em filme

Obra foi dedicada ao ex-diretor-executivo do CORREIO, Sérgio Costa, morto em 2016

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  • Da Redação

Publicado em 17 de novembro de 2018 às 23:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes / CORREIO

Obra foi lançada durante o Panorama Coisa de Cinema, no Cine Glauber (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) O desespero, obstinação e esperança de Jurandhy Silva de Santana em busca de seu filho Geovane Mascarenhas de Santana foi retratada no documentário Sem Descanso, lançado neste sábado (17) durante o Panorama Internacional Coisa de Cinema, mais importante festival de cinema da Bahia. A obra foi dedicada ao ex-diretor-executivo do jornal CORREIO, Sérgio Costa, que morreu em 2016 e era editor-chefe do CORREIO na época do caso.

O filme aborda o que ficou conhecido posteriormente como Caso Geovane, que foi registrado em uma série de reportagens do jornal CORREIO contando a trajetória da morte de Geovane, desde seu desaparecimento, após uma abordagem policial truculenta na Calçada, em 2014,  até o enterro dos restos mortais dele - que foi encontrado carbonizado, decapitado e sem as mãos, dois dias após a publicação da primeira reportagem - e posteriores implicações do caso.

O caminho feito pelo pai de Geovane, que incluiu delegacias, corregedoria, Instituto Médico Legal e hospitais foi o que motivou o nome do documentário. Incansável. Sem descanso. “Eu fui até onde pude para encontrar o meu filho. Ver ele naquela situação foi desesperador. Eu não queria aceitar. Agora eu só espero por justiça. Os policiais têm que pagar pelo o que eles fizeram. E eu não vou fazer nada. Espero uma resposta da Justiça”, disse Jurandhy. Pai de Geovane, Jurandhy é protagonista de documentário sobre o caso (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Ao longo do filme, além da história de Geovane, contada pelo pai e por familiares, a discussão do papel institucional dos policiais e a morte institucionalizada de negros são debatidas por especialistas. O tensionamento da frase “bandido bom é bandido morto” também foi utilizada no documentário.

“Eu fiz bastante trabalhos na periferia e acompanhei essa violência que o povo da periferia, especialmente os jovens negros, sofrem. E depois eu acompanhei também a maneira com que o jornal CORREIO investigou e acompanhou essa história em tempos como esses - que não tem mais jornalismo investigativo - e achei muito bacana porque o jornal acompanhou o pai, não deixou a história cair. Outra motivação foi a personalidade do pai, o Jurandhy, que para mim é um herói de tragédia grega. E teve outro elemento porque na mesma semana que o Geovane foi assassinado, um jovem negro americano também foi assassinado nos EUA e a repercussão que teve lá foi completamente diferente”, disse o diretor do documentário, o cineasta francês Bernard Attal.  Doumentário é apresentado por realizadores; à direita, o diretor Bernard Attal (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Bernard Attal ressaltou que, além do pai de Geovane, o ex-diretor-executivo do CORREIO, Sérgio Costa foi uma das pessoas essenciais para que o documentário ocorresse. “Sem ele, não seria possível a realização desse filme. Falar com a reportagem foi bastante importante. Sérgio falou no documentário e possibilitou esse contato com os repórteres”, disse.

“Onde está Geovane?” A série de reportagens, que iniciou com o jornalista Bruno Wendel após um encontro com Jurandhy no IML foi retratada como crucial para a solução do caso. “Tudo foi possível por conta do vídeo de uma câmera de segurança. Ele mostra os policiais abordando Geovane em uma moto e o levando. Foi a partir disso que tivemos materialidade para publicar e cobrar sobre o caso com as autoridades”, contou Wendel que ressaltou a importância de Sérgio Costa para que o caso se mantivesse vivo no noticiário.

Foi o ex-diretor-executivo do jornal CORREIO, Sérgio Costa, quem determinou que a história não poderia ser esquecida. “Sérgio Costa nos orientou a não abandonar o caso hora nenhuma porque ele é um grande jornalista e viu ali uma grande história. Triste, uma história que não deveria acontecer, mas é importante para a gente não abandonar. Então o CORREIO teve papel fundamental no desfecho e, infelizmente, seu papel não é definitivo para a solução do caso. A gente denuncia, virou até um filme que vimos, mas infelizmente a gente sabe que os algozes dessa história ainda não foram devidamente punidos”, destacou a editora-chefe do jornal, Linda Bezerra. A editora-chefe do CORREIO Linda Bezerra com a viúva de Sérgio Costa, a jornalista Rachel Vita, e repórter Bruno Wendel (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) A viúva de Sérgio, a jornalista Rachel Vita, afirmou que o ex-diretor-executivo do CORREIO ficaria muito feliz com a homenagem. “Ele não teve a sorte de ver esse documentário finalizado mas ele com certeza está presente. Eu espero que o documentário coloque holofote para que casos como o do Geovane não se repitam, para que a gente tenha os direitos humanos a liberdade de expressão respeitados”, afirmou.